Pesquisa revela Moradores de Rua em Fortaleza
A Secretaria Estadual do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS), em parceria com a Universidade Estadual do Ceará (UECE), divulgou na manhã desta terça-feira, 09 de setembro, a pesquisa
Publicado 10/09/2008 10:17 | Editado 04/03/2020 16:36
Produzida pelo Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Gestão Pública e Desenvolvimento Urbano da STDS, a pesquisa diagnosticou a presença de 504 moradores de ruas, distribuídos em 70 bairros da capital. O estudo objetivou mapear o contingente populacional de moradores de rua da cidade de Fortaleza, traçar o perfil e compreender a realidade do segmento, como instrumento de análise para aperfeiçoamento e redirecionamento das políticas públicas para o setor.
O estudo traçou um perfil sócio-econômico, regional e estratificado do morador de rua de Fortaleza, abordando aspectos de número, gênero, idade, nível de escolaridade, rendimentos, motivos e motivação que os levaram à rua e a percepção que o segmento tem dos programas sociais, voltados para o setor. Dessa forma, a pesquisa buscou identificar os moradores de fato da rua, aqueles com laços familiares rompidos e sem vínculos afetivos; não considerando, como tal, pessoas que passam o dia circulando ou trabalhando na cidade, como catadores e flanelinhas ou àqueles que retornam ao lar no fim do dia, bem como os albergados em instituições públicas ou privadas.
O objetivo foi compreender as dinâmicas de vida e produção nos principais espaços da cidade que abrigam esse segmento, apresentando uma estatística do número de moradores identificados no período de realização da pesquisa e o perfil histórico e socioeconômico dessas pessoas. A pesquisa foi apresentada pelo professor Geovani Jacó de Freitas, da UECE e pela coordenadora de Proteção Social Especial, da STDS, Ana Bandeira de Melo.
Dados Estatísticos
A pesquisa revelou, portanto, a existência de 504 moradores de rua em Fortaleza, sendo nove crianças de zero a 12 anos (1,8%), 67 adolescentes de 13 a 18 anos (13,3%), 352 adultos, a partir de 19 anos (66,5%), dos quais 17 com idade acima de 60 anos (idosos). Somam-se as esse número 11 jovens e 65 adultos com idades não reveladas. Do total, 84,7% são do sexo masculino e 15,7% do feminino.
Apesar do número, a pesquisa identificou que trata-se de um público com população móvel e heterogênea. Do total de pessoas que moram nas ruas, 16,1% são itinerantes, sem referência por bairros, 23% vem do interior e 12,5% de outros estados. O levantamento foi feito em seis rotas, abrangendo 70 bairros da capital, onde foram aplicados 504 questionários e realizadas mais de 30 entrevistas complementares. A maior concentração foi registrada no centro da cidade e no litoral, no trecho entre o Porto da Draga (praia de Iracema) e o Mucuripe (Beira-mar).
A pesquisa anotou ainda, que, 58,5% dos entrevistados são pardos, 7,3% são negros e 49,6% são católicos. O nível de escolaridade mostrou que 45% têm ensino fundamental incompleto, 5,36% sabem ler e escrever, 13,3% são analfabetos e 2,8% tem ensino médio completo e 0,2%, já freqüentaram a universidade. Do total, 18,% tem rendimentos mensais abaixo de R$ 100,00, 12,9% de R$ 201,00 a R$ 300,00 e 2,4%, em torno de um salário mínimo e alguns de até mil Reais, apesar da maioria não saber avaliar quanto de fato ganha, nem o que faz com dinheiro. Os pesquisadores perceberam que nenhum dos moradores entrevistados usam armas, mas que defendem com afinco os espaços que ocupam. Em geral dormem embaixo de marquises, de paradas de ônibus e usam papelão como cobertores.
Motivação
Problemas amorosos, as drogas, violência em casa e desestruturação familiar são alguns dos motivo apontados para sair de casa e ir morar na rua. Dentre os identificados, 22,8% moram na rua há mais de 10 anos, 10,5%, residem fora de casa entre 3 e 5 anos; 12%, entre 5 e 10 anos e apenas 6,7%, moram há menos de três meses. O Estudo mostrou ainda, que 54,2% conhecem algum tipo de programa de assistência social e 27,6% não conhecem. Apesar do conhecimento, apenas 19,4% declararam já terem sido beneficiados com algum benefício social.
Fora da rua dentro da escola
Segunda a coordenadora da STDS, Ana bandeira, a pesquisa serviu para quebrar um estigma de que centenas de crianças residiam nas ruas da capital. Para ela, os números refletem o trabalho de assistência social que o governo do Estado vem realizando junto ao público infanto-juvenil, nos últimos dois anos. Ela citou como exemplo o Programa Criança Fora da Rua, Dentro da Escola, cujos resultados foram analisados e também divulgados, ontem, pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE).
O Estudo confirmou a eficácia do programa em atender à população carente, visando retirá-la da situação de moradia na rua, e constatou que das famílias que recebem o Bolsa Família (R$ 120,00 mensais de auxílio), 34% das crianças não mais retornam às ruas.
Fonte: Governo do Estado do Ceará