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Augusto dos Anjos: A noite

*

A nebulosidade ameaçadora
Tolda o éter, mancha a gleba, agride os rios
E urde amplas teias de carvões sombrios
No ar que alacre e radiante, há instante, fora.


 


 


A água transubstancia-se. A onda estoura
Na negridão do oceano e entre os navios
Troa bárbara zoada de ais bravios,
Extraordinariamente atordoadora.


 


 


À custódia do anímico registro
A planetária escuridão se anexa…
Somente, iguais a espiões que acordam cedo,


 


 


Ficam brilhando com fulgor sinistro
Dentro da treva onímoda e complexa
Os olhos fundos dos que estão com medo!


 


 


Augusto dos Anjos
Eu, 1920