Florianópolis: 'vamos ao segundo turno', diz Ângela Albino
Mudar Florianópolis não é tarefa fácil. A cidade é comandada por velhos caciques – como Jorge Bornhausen e Esperidião Amin – e novos administradores viciados na velha politicagem, como Dário Berger. Ângela Albino surge como uma alternativa à mesmice local
Publicado 01/10/2008 21:58
À frente estão Berger (PMDB) e Esperidião Amin (PP), nenhum com maioria absoluta na preferência dos eleitores. “É tradição em Florianópolis que, na reta final, os grupos que sempre hegemonizaram a cidade manipulem pesquisa”, diz Ângela Albino ao Vermelho. Ela cita as eleições de 2002, quando “a senadora Ideli Salvatti aparecia em quinto lugar” e acabou se elegendo. No campo da esquerda, salienta, a candidatura PCdoB-PDT – que tem Tico Lacerda como vice – “é a mais bem posicionada”.
Ângela pondera que o cenário em Florianópolis está embolado. “Ninguém está suficientemente destacado para garantir sua posição. Hoje a única convicção possível de ser formulada é que teremos segundo turno. Agora, quem vai é impossível dizer”.
Com poucos recursos, lutando contra o poder econômico local e o uso da máquina pelo atual prefeito e com apenas 2 minutos e 57 segundos de programa eleitoral, Ângela e Tico Lacerda têm investido na campanha de rua, conversado com eleitores e ouvindo suas sugestões e queixas. “Estamos lutando contra grandes tubarões. E estamos ganhando o respeito da cidade. O partido conhece Florianópolis e seus problemas e faz proposições para melhorar a vida dos cidadãos”, diz. E salienta: “temos a menor rejeição e, portanto, temos todas as condições de construir nosso caminho rumo ao segundo turno”.
Prioridades
“Em uma ‘gestão de negócios’ como a atual, pouco interessa as responsabilidades educacionais e culturais da Prefeitura”. É dessa forma que o programa de governo de Ângela Albino e Tico Lacerda inicia seu capítulo sobre a educação. O tema é prioritário na campanha da comunista e se eleita, será carro-chefe de sua gestão. “Nosso sonho de governo está prioritariamente ligado à educação. Temos discutido especialmente a educação em tempo integral”, diz.
“A capital catarinense tem hoje três mil crianças fora da creche e temos uma demanda muito grande também para a educação de nossos jovens”, explica. Para dar conta do aprendizado desde a educação básica até a profissional, Ângela quer implantar os Centros de Educação Integral para a Cidadania (CECI) – inspirados nos CIEPs de Leonel Brizola e Darcy Ribeiro. A proposta é construir quatro complexos educacionais que incluem creche, escola de educação infantil, escola de ensino fundamental, centro comunitário, teatro, cinema, biblioteca, quadras de esportes, piscinas, ateliês, estúdios para oficinas de vídeo, TV, rádio e fotografia e área verde.
Outro projeto que é prioritário para Ângela é a Universidade do Mar e Tecnologia, voltada para formar trabalhadores qualificados para o setor tecnológico, onde hoje há grande disponibilidade de vagas, e nos temas ligados ao mar, como marinharia, conserto de barcos e velas, maricultura. “É uma vocação natural de nossa cidade e queremos dar novas alternativas à nossa juventude”, explica Ângela.
A Universidade do Mar e Tecnologia, conforme descreve seu programa, constitui-se de uma rede de relações intermediada pelo Poder Público Municipal, aproveitando vagas ociosas na rede de ensino superior de Florianópolis. As universidades contribuiriam, assim, com o espaço físico. A outra parte das despesas seria assumida pelo município. ''A Ângela é uma candidata que nos orgulha muito. É comprometida com a educação e é importante que a população vote pela inovação'', disse o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) em visita recente a Florianópolis.
Candidatura leve
Ângela Albino é a única mulher da atual legislatura da Câmara Municipal de Florianópolis, a sétima a ocupar uma cadeira desde a fundação da Casa, no século 18. E dentre as duas mulheres que disputam a prefeitura da cidade – além dela há também Joaninha de Oliveira Johnson, do PSTU – Ângela é a mais bem posicionada. “Nossa concepção comunista nos dá uma visão de gênero avançada e isso nos ajuda. A sociedade que desejamos construir passa pela igualdade de gêneros e temos levado isso à risca”, explica.
Na mais recente pesquisa do Ibope, Berger (PMDB) aparece com 36% dos votos; Amin (PP) tem 20%; César Souza Jr. (DEM) tem 13%, tecnicamente empatado com Ângela, que alcançou 11%. “Nossa candidatura é muito leve: transita bem em todos os setores sociais. Onde quer que a gente vá, somos bem recebidos pela população. Há um clima bastante positivo e acreditamos sim que vamos ao segundo turno”, enfatiza Ângela. E completa: “há 20% de indecisos na cidade. Tenho convicção de que os debates e os eventos de rua poderão conquistar esses eleitores”.
Além de sua preocupação com a capital, Ângela vê como estratégica a ascensão local do PCdoB. “Estamos criando condições para que em 2010 possamos cumprir a tarefa que o partido tem nos colocado de aperfeiçoar as relações com os partidos do Bloco de Esquerda para que tenhamos uma nova opção para Santa Catarina”. O desafio não é pequeno. Famílias tradicionais com o os Bornhausen e os Amin, ainda têm grande influência nos rumos da política local. Além disso, no estado, o PMDB é forte: tem o governador reeleito, Luiz Henrique da Silveira, e o prefeito da capital, Dario Berger.
Mais do mesmo
Se por um lado a candidatura PCdoB-PDT é uma alternativa inovadora para a capital, a de Berger é “mais do mesmo”. Treinado nas velhas formas de fazer política, o atual prefeito é dono de um currículo bastante desabonador. Além de não se manter fiel a nenhuma legenda – já esteve no então PFL, no PSDB, partido pelo qual se elegeu prefeito em 2004, e agora figura no PMDB – Berger foi acusado, na Operação Moeda Verde, de beneficiar empresário local.
Recentemente, foi condenado pelo Tribunal de Contas da União, juntamente com seu irmão Djalma Berger, por má gestão administrativa referente à sua administração à frente da Prefeitura da cidade catarinense de São José. Em decisão unânime do TCU, ambos terão de devolver aos cofres públicos R$ 500 mil.
Além disso, sua candidatura foi condenada pelo Tribunal Superior Eleitoral, nestas eleições, pelo uso de imagens externas em seu programa de televisão. Em outro episódio, lembra Ângela, “Berger utilizou atores e atrizes para simular professores e alunos numa escola que sequer foi inaugurada. Ele aposta na mentira e nós estamos apostando no diálogo e na transparência, buscando soluções para lidar com os principais problemas da cidade”.
Sobre o perfil do candidato, Ângela lembra que Berger “tem dificuldade, já bastante conhecida em nossa cidade, de conviver com a legalidade. Sua atuação política sempre foi para-legal”. Segundo a candidata, Berger usa da “singeleza do nosso povo” para “mentir descaradamente”.
De São Paulo,
Priscila Lobregatte