Balanço e Avaliação da Eleição em Goiás
Abaixo documento de avaliação e balanço da Eleição Municipal em Goiás/2008.
Publicado 22/10/2008 12:29 | Editado 04/03/2020 16:44
Comitê Estadual de Goiás
Balanço e avaliação das eleições 2008.
Perspectivas da ação do PCdoB em Goiás.
As eleições 2008 aconteceram sob o impacto da gravíssima crise financeira – o estouro das bolhas especulativas do setor imobiliário e financeiro – que eclodiu na Bolsa de Nova York, no coração do império estadunidense. Seus efeitos atingiram em cheio a Europa e o Japão e já provocam alterações na condução da economia das demais economias capitalistas, e até mesmo na China, a maior economia da esfera socialista, que reduziu a taxa de juros, seguindo a tendência mundial.
“Se ainda não é o fim do capitalismo, do neoliberalismo só resta discutir o preço do enterro”, ou “Esta é a crise terminal do neoliberalismo”, afirmam renomados economistas, ante a injeção maciça de recursos públicos – mais de 3 trilhões de dólares – dos Bancos Centrais para salvar bancos e instituições privadas. Já se anuncia que o rombo dos créditos de risco situa-se entre estratosféricas quantias que vão de 12 a 27 trilhões de dólares. Em verdade, o esforço coordenado dos governos dos países desenvolvidos visa salvar da falência geral o próprio sistema capitalista. A hipocrisia da elite burguesa e da mídia monopolizada agora aplaude a intervenção do Estado na economia, que até há pouco condenavam. Agora, cuidam de socializar os prejuízos dos ricaços e bacanas. A recessão da economia mundial, já anunciada, poderá levar milhões de trabalhadores ao desemprego e à condição de miséria em vários países do mundo. O economista Lécio Morais, em recente artigo no Vermelho, afirma que “não sabemos o que virá depois desta crise, mas certamente será muito diferente do quadro econômico que temos hoje, O que não quer dizer que será melhor, com o aumento dos atritos entre Estados, pode-se aumentar a beligerância e os conflitos”. Sobre o Brasil, Lécio Morais foi enfático, “sentiremos os efeitos da crise através da queda nas exportações, no corte de crédito internacional às exportações brasileiras e na queda dos investimentos diretos. Pode-se prever que 2009 terá uma forte queda no crescimento e nos investimentos, não há como escapar''.
Diante da tragédia anunciada, o ideal do socialismo pode ganhar renovada força em várias partes do mundo.
A direita em marcha-à-ré
Conforme já avaliou a Comissão Política Nacional do PCdoB, o realinhamento do quadro político nacional ainda depende dos resultados da votação no segundo turno da eleição municipal. A disputa principal concentra-se em dez capitais, e entre elas destacam-se São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Ali, as forças que apóiam o governo do presidente Lula e o consórcio tucano estarão em campos opostos. No campo da oposição de direita, os resultados vão indicando o fortalecimento do governador paulista, José Serra, em contraposição ao mineiro Aécio Neves. Os primeiros números revelam que o DEM perdeu cerca de 30% dos prefeitos; o PSDB encolheu 10%; o PPS perdeu mais de 1,7 milhão de votos. Houve crescimento da presença política dos partidos aliados ao presidente Lula, notadamente o PT, o PMDB e o PSB.
A direção nacional comunista já registrou que uma boa novidade emerge das urnas: o novo protagonismo político alcançado pelo PCdoB, que se fortaleceu em 5 de outubro. 39 prefeitos e 608 vereadores foram eleitos pelo PCdoB. O Partido reelegeu Edvaldo Nogueira para a prefeitura de Aracaju (SE), manteve a prefeitura de Olinda (PE) com Renildo Calheiros, confirmando a aprovação popular aos oito anos de governo municipal da comunista Luciana Santos; está no segundo turno em São Luís (MA), com Flávio Dino, e em São Paulo, com Aldo Rebelo como vice de Marta Suplicy. O apoio do partido foi disputado em Belo Horizonte, Porto Alegre e Rio de Janeiro, cidades em que será força fundamental para a eleição do próximo prefeito, conforme já divulgado pela imprensa partidária.
A correlação entre as forças que vão disputar a sucessão do presidente Lula em 2010 está em jogo no segundo turno, pelo que será uma votação decisiva, com conseqüências que extrapolam os limites municipais. No segundo turno, os comunistas atuarão como força de peso, o que pode ajudar a definir resultados favoráveis ao campo progressista. ''O PCdoB se orientará no segundo turno pelo fortalecimento da base de sustentação do governo Lula, do Bloco de Esquerda e do próprio PCdoB'', diz a nota da Comissão Política do CC.
Os números das eleições municipais deste domingo mostram que o PT e o PMDB foram os partidos que mais cresceram no país. Já no lado da oposição ao governo Lula, o PSDB e o DEM diminuíram expressivamente de tamanho. O PMDB foi o partido que mais elegeu prefeitos no país (1.194 contra 1.054 em 2004). Já o PT elegeu 548 (contra 400 em 2004). No campo da oposição ao governo federal, o PSDB perdeu 87 prefeituras (venceu em 781 cidades, contra 862 em 2004) e o DEM teve uma redução ainda mais expressiva, perdendo 296 municípios (494 contra 790 em 2004). No país, o PT foi o partido que mais elegeu prefeitos nas 79 maiores cidades. Foram 13 vitórias no primeiro turno e em outras 15 cidades o partido está disputando o segundo turno, podendo chegar a um máximo de 28. Em segundo lugar, vem PMDB e PSDB, com 9 vitórias no primeiro turno e 11 disputas no segundo.
As eleições em Goiás
O PCdoB goiano obteve importante vitória política e eleitoral. O maior feito foi a reconquista da cadeira na Câmara Municipal da capital, com a eleição de Fábio Tokarski, que obteve 6.705 votos, em campanha ampla, participativa e politizada, buscando o voto consciente, mesmo em meios às restrições da legislação eleitoral e enfrentando, de maneira criativa, o poder econômico. Dois vereadores do PCdoB foram eleitos em Itumbiara, além de um 1º suplente. Os comunistas eleitos em Inhumas e Petrolina foram os segundos mais votados dessas cidades. São oito os vereadores eleitos pelo PCdoB em Goiás:
FÁBIO TOKARSKI – GOIÂNIA – 6.705 votos
VALDEIR – ITUMBIARA – 1.918 votos
EDNON CÂNDIDO (FIO) – ITUMBIARA – 1.624
ADRIANO MOREIRA – INHUMAS – 1.134
TIAGO CIGANO – PETROLINA – 443
ANDRÉ MACHADO – HIDROLINA – 203
EURÍPEDES TEODORO – MATRINCHÃ – 104
ANTÔNIO DE FREITAS (TOIM) – BALIZA – 81
Mesmo sendo modesto o número da vitória eleitoral, a eleição de oito vereadores e a contabilização de 34.455 mil votos recebidos pelos candidatos e pela legenda partidária, indicam um avanço da expressão política do PCdoB em Goiás. Há a perspectiva de participação dos comunistas em 30 administrações municipais, cujos prefeitos foram eleitos em coligação com o PCdoB e outros partidos. As campanhas dos 158 candidatos comunistas, em 63 cidades, foram auto-sustentadas, sem impor ônus ao partido, o que constitui outro aspecto positivo. Esses camaradas merecem as felicitações de todo o partido, pois cumpriram a honrosa e difícil missão de representar a legenda comunista em tão acirrada batalha. A vitória conquistada nas urnas é a vitória da unidade partidária, do acerto nas definições dos projetos eleitorais, e da dedicação dos/as candidatos/as, dos/as militantes e apoiadores. O PCdoB está reposicionado no cenário político estadual, pode-se concluir.
Pode-se dizer também, pelo resultado das urnas, que avançou o objetivo de constituir uma articulação política de centro-esquerda em Goiás, e o resultado das eleições municipais foi favorável às forças políticas que apóiam o governo do presidente Lula. Mas pode-se também apontar, sob o enfoque dos arranjos políticos estaduais, certo equilíbrio entre três blocos de forças, mesmo que não tenha havido alinhamento automático de nenhuma legenda na composição das coligações municipais.
Houve crescimento das forças de centro, com destaque para a vitória, nos dois maiores colégios eleitorais Estado, do Prefeito Iris Rezende em Goiânia e Maguito Vilela em Aparecida de Goiânia, o que torna o PMDB o maior vitorioso de 2008. O PP do governador Alcides Rodrigues experimenta razoável aumento do número de prefeitos. Já o PSDB do senador Marconi Perilo amargou séria derrota: viu seu número de prefeitos cair de 91 para 52.
Das análises do quadro resultante das urnas de outubro, emergem três blocos: PMDB (57), PT (13), PR (30), PSC (5) e PDT (1), PRB (2), somam 108 prefeitos mais alinhados à política do presidente Lula; PP (47), DEM (16) e PTN (3) formam um eixo de 66 prefeitos; PSDB (52), PTB (8), PPS (2), PSB (3), PV (1) totalizam 66 prefeitos que seguem a linha política do senador Marconi Perillo.
A eleição da Antônio Gomide (PT, coligado com PCdoB e PSC), no segundo turno de Anápolis, reforçará o crescimento político do PT goiano, que elegeu também o vice em Goiânia, Paulo Garcia, um político hábil e amplo, que se encontra em plena ascensão . Um maior crescimento da legenda petista foi obstaculizado, provavelmente por falta de unidade interna.
O PMDB foi o partido mais votado para prefeito e vereador, somando nas duas eleições 1.647.456 votos; PSDB é o segundo, com 878.351 votos; PP vem logo a seguir, com 779.494 votos.
Dos prefeitos eleitos em coligação com o PCdoB, 7 são do PMDB; 6 do PP; 6 do PSDB; 2 do PSC; 2 do PTB. Os demais são do PT, PR, PRB, PTdoB e PRTB. (quadro anexo)
Em Goiânia, a unidade foi essencial para a vitória comunista
Na Capital, a estratégia eleitoral do partido baseou-se na orientação política de construção de uma aliança de centro-esquerda, que visava fortalecer as forças políticas da base do governo Lula na nossa cidade e no estado. Objetivava a reeleição do prefeito Íris Rezende e a eleição de pelo menos um parlamentar comunista à Câmara Municipal, bem como o fortalecimento político e orgânico do PCdoB. A coligação foi ampla, a mais significativa composição político-eleitoral desse campo nos últimos tempos, com a participação de 14 partidos na coligação (PMDB, PT, PCdoB, PDT, PSC, entre outros).
Essa composição se mostrou correta e possibilitou ao nosso campo, e ao partido, em particular, colher uma expressiva vitória. Reelegeu o prefeito Íris com 74,16% dos votos (mais de 372 mil votos) e o partido reconquistou o mandato na Câmara Municipal.
Política de priorização permanece justa quando a disputa se dá em coligação eleitoral.
Esse é um ensinamento que o partido acumula há vários anos e que a cada eleição precisa ser aplicado com criatividade e firmeza. Fruto da construção de ampla unidade interna, o camarada Fábio Tokarski foi o candidato prioritário no projeto eleitoral do Partido. Sagrou-se o nono vereador mais votado de Goiânia e o sétimo da coligação que elegeu 13. O PMDB elegeu 11, o PSDC 1 e o PCdoB 1. Fábio obteve 6.705 votos. O ponto de corte aproximou-se de cinco mil votos. A eleição, sem polarização, submetida a severas restrições, foi fria, com fraco debate político, e em função disso cresceu a abstenção, o voto branco e o voto nulo.
O formidável resultado obtido pela candidatura comunista com toda certeza se deve ao desempenho extraordinário do nosso candidato na busca do voto e também de recursos materiais, do esforço dos dirigentes municipais, estaduais e nacionais; militantes, amigos e familiares, mas jogou papel destacado a política de priorização. Essa tática eleitoral viabilizou uma campanha em todas as áreas com influência partidária, seja a sindical, juventude, comunitária, mulheres, cultura, educação e saúde, dentre outras, e em toda a cidade. A dedicação da ainda pequena, mas aguerrida militância, dos dirigentes, e o apoio que adveio do bom trabalho desenvolvido pelos camaradas e amigos da área de esporte e lazer, somados à destinação concentrada de tempo de televisão e radio, foram fatores determinantes para essa vitória. A vitória se torna ainda maior ao se levar em conta a ainda frágil estrutura orgânica e material do partido.
Lançar outras candidaturas, com o objetivo de fortalecer e crescer o PCdoB em áreas novas e projetar novas lideranças compunha também o nosso projeto, e aqui também pode-se registrar avanços. Os demais candidatos(as) do partido saem da campanha com suas lideranças fortalecidas e maior autoridade perante a sociedade e o partido, pela dedicação à campanha e compreensão do papel de suas candidaturas no projeto partidário. Suas campanhas contaram basicamente com amigos, familiares e com poucos recursos materiais advindos da candidatura majoritária, partido e alguns amigos apoiadores. Entre essas, destacam-se as performances de Jaiminho (1.054 votos) e Márcio Jr.(1.004 votos).
As vitórias eleitoral e política obtidas abriram possibilidades concretas do PCdoB experimentar, no período que se abre, um significativo crescimento político e orgânico, inclusive em segmentos sociais de extração popular que tiveram papel destacado na campanha. Isso exige, agora, um bom plano de filiações nas bases das candidaturas do partido, com a conseqüente construção de bases partidárias e a incorporação dos filiados nas OBs (organização de base) e eleição dos dirigentes de cada base, da realização de cursos de formação política – CBV (curso básico em vídeo) e outros – para novos filiados e amigos/as, a incorporação dos/as filiados/as no sistema nacional de contribuintes com carteirinha e uma eficiente política de comunicação.
Diretrizes para a ação partidária
Diante do atual quadro político, o Comitê Estadual do PCdoB-GO aprova as seguintes medidas e orientações iniciais a serem implementadas pelo conjunto partidário:
1) Reforçar o empenho pela vitória de Antônio Gomide na eleição do segundo turno em Anápolis, garantindo-se a presença e participação das principais lideranças do partido em atividades daquela campanha.
2) nas cidades em que os prefeitos eleitos foram apoiados pelo PCdoB, desenvolver com rapidez as articulações necessárias para assegurar espaços de participação de camaradas, para que o partido possa contribuir para o êxito dessas administrações e aumentar sua projeção política, garantida a independência política do partido.
3) Orientar os vereadores eleitos pela legenda comunista a participarem das articulações para a eleição das mesas diretoras das Câmaras Municipais, formulando plataformas de trabalho avançadas, buscando a aproximação e a integração dos novos eleitos com a ação dos movimentos sociais, com as reivindicações populares, com a solução dos problemas mais aflitivos de cada município. A valorização e recuperação do prestígio da atividade político-parlamentar são importantes para a consolidação da democracia brasileira, e constituem objetivos a serem perseguidos pelos nossos parlamentares.
4) Os Comitês Municipais devem se reunir para avaliar o processo eleitoral em cada município. As decisões sobre a participação em Prefeituras devem ser tomadas coletivamente, de forma transparente, com o acompanhamento da direção estadual.
5) O dirigentes comunistas devem se esforçar para garantir o funcionamento pleno e assíduo das instâncias partidárias, em especial, das direções municipais e estadual. De especial importância é o funcionamento das secretarias de cada Comitê.
6) è preciso convidar, de maneira ampla e massiva, os apoiadores de campanha, eleitores e pessoas do povo a se filiar ao PCdoB, aproveitando a intensa movimentação da campanha eleitoral. De imediato, devem ser programados cursos de capacitação política e ideológica para os novos filiados.
7) Fica convocada para o mês de novembro, em data a ser confirmada, a realização de Encontro Estadual do PCdoB, com a participação dos vereadores eleitos e dirigentes municipais das cidades em que a nossa coligação elegeu o prefeito, além de dirigentes do Comitê Estadual.
8) As direções partidárias devem planejar o reforço da atuação de camaradas do partido em associações de moradores, sindicatos, movimento estudantil, de mulheres, GLBTT (gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais), ambientais, jovens e negros, buscando estreitar o vínculo do partido com os movimentos sociais.
9) Em curto prazo, o Comitê Estadual iniciará o debate sobre a preparação para o próximo enfrentamento eleitoral, o de 2010, visando a reconquista das posições já assumidas pelos comunistas goianos na Assembléia Legislativa e na Câmara Federal, quando estarão em disputa também a governadoria e vice e duas vagas para o Senado..
10) Os Comitês Municipais devem iniciar o debate sobre a preparação de chapa própria de vereadores e lançamento de candidaturas competitivas a Prefeito para as eleições de 2012, planejando, desde já, o trabalho das diversas lideranças partidárias, as áreas de atuação de cada uma, a constituição de organizações de base do PCdoB por local de moradia, por categoria profissional ou área de atuação.
11) Investir na ampliação da ação partidária para as novas áreas de acumulação de forças surgidas no bojo da campanha, inclusive junto À população beneficiária dos programas sociais governamentais. Especial atenção deve ser dada às eleições para diretorias de escolas públicas, com as que ocorrerão em novembro em 267 escolas de Goiânia.
12) Articular a realização de debates sobre a atual crise do capitalismo, como parte do processo de mobilização dos trabalhadores/as em defesa de seus direitos.
13) Publicar edição especial da Classe Operária com caderno de Goiás, ressaltando o avanço partidário conquistado.
14) Sistematizar o trabalho com a revista Princípios, para que, em especial a última edição, com enfoque na solução das questões urbanas, chegue aos vereadores eleitos pelo partido e pelos prefeitos aliados.
15) Conclamar o coletivo partidário a perseverar na aplicação da linha política de constituição da frente de centro-esquerda em Goiás, conforme aprovado na Conferência Estadual de 2007, buscando viabilizar soluções democráticas e progressistas em 2010, afinadas com o projeto de eleição de um sucessor do presidente Lula que defenda o aprofundamento das mudanças implementadas a partir de 2003.
Goiânia, 18 de junho de 2008.
O Comitê Estadual do Partido Comunista do Brasil – PCdoB-Goiás
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