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Brasigois Felicio: Tributo a Josué de Castro

*

José Apolônio de Castro
morreu de tristeza
como impávido expatriado


 


Que mal fez ele ao povo
ou à pátria que tanto amava? 


 


O crime de abrir os olhos do mundo
à geografia da fome nordestinada?


 


Ou a coragem camicase
de denunciar o modo infra humano
como vivem os comedores de calango?


 


Na caatinga ou no mangue
água mole em pedra dura
não elide a usura
e o som absurdo das ditaduras.


 


Yes, nós temos o homem caranguejo
escravo do barro e de seus miasmas
junto ao bravo sertanejo
filho da seca e da aridez mar-avilhada.


 


Dos dois, não se sabe quem está mais longe
de tornar-se humano. Josué viu tudo isto
e pediu piedade, justiça e coragem
a um tempo acanalhado
por batráquios fardados.


 


No exílio foi definhando,
temido pelos milicos da quartelada
que viam nele uma sombra a ser calada


 


Aurélio Lira Tavares negou que retornasse
à  pátria por quem suspirava
assim decretando uma morte anunciada
– com isto, e talvez por saber montar um fuzil,
conquistou a imortalidade
da casa de Machado de Assis.


 


                  II


 


Morto, Josué retornou ao Brasil
para um enterro vigiado
onde até fotos foram proibidas.


 


Onde o crime do desterrado
temido até quando finado?
Onde o perigo de palavra silenciada?


 


– talvez no levante necessário
da Consciência a ser despertada.