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Umberto Martins: Recessão nos EUA já vem do ano passado

Os Estados Unidos estão em recessão desde dezembro de 2007, segundo um estudo divulgado pelo NBER (Natioanl Bureau of Economic Research) nesta segunda-feira (1º). O NBER não é um órgão oficial do governo norte-americano, mas tradicionalmente acompanha

Na visão do grupo de economistas que constituem o NBER a recessão começa quando há uma redução significativa das atividades depois que a produção atinge um pico. Reunido na última sexta-feira, o órgão concluiu que houve um pico na atividade econômica dos Estados Unidos em dezembro de 2007, coincidindo com as festas de fim de ano. Esse pico marca o fim do período de expansão, que começou em novembro de 2001 e o início de um período de recessão.



Desemprego em massa



Do ponto de vista da metodologia oficial, ainda não se pode dizer que os EUA entraram em recessão, visto que ainda não foram registrados dois trimestres consecutivos de queda do PIB, critério “clássico” para caracterizar a recessão. Todavia, é patente que a economia estadunidense enfrenta uma severa recessão. Esta verdade insofismável pode ser percebida no fato de que já foram destruídos mais de 1,5 milhão de postos de trabalho desde o final do ano passado na terrinha do Tio Sam. O formalismo da definição oficial está divorciado dos fatos e só serve para dourar a pílula e disseminar ilusões.  



O comunicado divulgado pela NBER informa que uma série de atividades econômicas, especialmente o número de empregados nas folhas de pagamentos das empresas “atingiu seu pico em dezembro de 2007 e desde então vem registrando queda todos os meses”.



Enfraquecimento



Segundo a NBER, os empregados cortaram 1,2 milhão de empregos ao longo dos 10 primeiros meses de 2008. A instituição previu que a economia dos EUA irá sofrer a perda de 325 mil novos postos de trabalho em novembro, o que resultará em mais de 1,5 milhão de postos de trabalho destruídos nos últimos 11 meses. De acordo com a entidade, a última vez que os Estados Unidos haviam registrado recessão havia sido entre março e novembro de 2001, ano que foi marcado pelos atentados de 11 de setembro em Nova York.



Uma análise mais atenta dos fatos mostra que a crise é também sintomática de uma enfermidade mais grave que afeta a economia norte-americana e que está associada à decadência do poderio econômico relativo dos EUA no mundo. A fase de crescimento durou apenas sete anos, o que configura um contraste significativo com a expansão dos dois ciclos anteriores (os anos 1990 foram marcados por 10 anos praticamente ininterruptos de prosperidade). Iniciada no final de 2001, o ciclo de crescimento morreu antes do alvorecer de 2008.



Além disto, é preciso levar em conta o caráter parasitário do ciclo econômico, que provocou uma crônica anemia do setor produtivo e incrementou o PIB à base da expansão da dívida e do consumo, do comércio varejista e do setor financeiro. A crise enterrou as esperanças de um relançamento da hegemonia americana e vai aprofundar o processo de desenvolvimento desigual das nações em detrimento da potência hegemônica, acelerando o deslocamento do eixo da dinâmica industrial e do poderio econômica da América para a Ásia e dos EUA para a China.