Integração financeira no centro dos debates da CALC
A criação de instrumentos para a integração financeira foi o tema mais debatido durante a Cúpula da América Latina e Caribe sobre Integração e Desenvolvimento (Calc), encerrada nesta quarta-feira (17/12), na Costa do Sauípe, no Litoral Norte da Bahia. Dur
Publicado 17/12/2008 21:58 | Editado 04/03/2020 16:21
Apesar das divergências sobre a forma, os chefes de Estado concordam com a necessidade de acelerar o processo de integração regional, para garantir o desenvolvimento, a soberania e a independência do bloco frente aos mais ricos como o Estados Unidos e a União Européia, que insistem em tentar decidir o destino do mundo. Durante todo o encontro, sobraram críticas aos países chamados de primeiro mundo, com destaque especial para os EUA, que são os grandes responsáveis pela crise financeira que ameaça milhões de empregos em todo o planeta.
Durante a reunião de hoje, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, fez fortes criticas ao Fundo Monetário Internacional (FMI). ''Exigências aplicadas aos países em desenvolvimento pelo FMI nunca foram cumpridas pelos Estados Unidos, que agora exportam a sua crise, iniciada porque só um pequeno grupo de países decidia sobre a economia mundial'', disse Kirchner, reforçando a necessidade de maior participação das nações em desenvolvimento nos rumos econômicos do planeta.
Em tom afinado com outros líderes latino-americanos, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, afirmou que a recessão na economia de diversos países é fruto de uma ação irresponsável do mercado financeiro. Ele também criticou os Estados Unidos e defendeu a criação de um sistema financeiro latino-americano, para fortalecer a região. ''Eles impuseram esse sistema ao mundo'', disse. Chávez aproveitou para comemorar o fracasso da instalação da Associação de Livre Comércio das Américas (Alca), proposta pelo presidente norte-americano, George W. Bush. ''Como estaríamos agora se a Alca fosse aprovada?'', questionou o venezuelano.
O presidente da Bolívia, Evo Morales, disse que a criação de um fundo de receitas seria importante para o fortalecimento dos países do Mercosul. Ele também propôs a implantação de uma moeda única para o bloco, assim como para todos os países da América Latina. O líder boliviano também criticou instituições como o Banco Mundial (Bird) e o Fundo Monetário Internacional que, segundo ele, nunca apresentaram soluções para os problemas financeiros da América Latina.
Sem subserviência
No encerramento da reunião, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, criticou as atitudes de subserviência em relação aos países do chamado “primeiro mundo”. Segundo ele, a subserviência não ajuda ninguém a crescer. Abrindo uma exceção para Cuba, Lula afirmou que no Século passado os países da América Latina e do Caribe disputavam o posto de “melhor amigo dos Estados Unidos” e que isto não resultou em benefícios para as duas regiões.
Rebatendo algumas críticas de que as cúpulas da Bahia não têm peso político devido às ausências dos Estados Unidos e da União Européia, Lula disse que a reunião de Sauípe é tão importante quanto o G-8, o G-20 ou outras reuniões multilaterais que têm participação de países desenvolvidos. “Sei disso, porque participo de várias delas e aqui debatemos mais do que lá”, testemunhou.
Lula voltou a criticar a dependência econômica e política da América Latina e do Caribe em relação aos EUA e Europa, “200 anos depois da independência dos países do continente americano”. Sobre a esquerda latino-americana, ressaltou que não pode mais ser vista como um grupo que defende a luta armada e fala apenas em revolução, mas quer autodeterminação, soberania e uma relação igualitária.
Em entrevista à imprensa após o encerramento da CALC, o presidente Lula destacou o fato deste ser o primeiro encontro com a participação de representantes de todos os países latino-americanos. Ele também enfatizou a importância das reuniões, destacando a integração entres os países. ''Quando essas nações se juntam, elas têm mais chances de participar das decisões globais, inclusive para evitar crises como essa, que surgiu no seio dos países ricos, atingindo os países que não participaram''.
Na visão do presidente brasileiro, a política está mudando, principalmente nos países emergentes. Segundo ele, a América Latina está com a economia sólida, em um grande número de países. ''Essa crise é uma grande oportunidade para fazer o que não foi feito em 40 anos porque todos ficavam esperando que o país rico desse uma chance a um país pobre'', destacou.
Da redação local com Agências.