''Seu Guerreiro'', arquivo vivo do sertão

* Por João Álcimo Viana Lima


 


O “Seu” Guerreiro é, sem dúvidas, uma grande referência para a história de Aiuaba, haja vista as dimensões apresentadas por sua trajetória de vida.

Felizmente, as instituições universitárias presentes no Sertão dos Inhamuns estão, com o recurso metodológico da história oral, reconstituindo a sua saga, que, por conseguinte, vem repercutindo na reconstituição da memória de Aiuaba, dos Inhamuns e Centro-Sul do Ceará.



 


Em torno da figura do “Seu” Guerreiro, está a grande importância que representou a função de carteiro, no interior do Nordeste, até a década de 1970, quando os correios e as emissoras de rádio ainda eram os principais veículos de comunicação. Agregado a esse valor sociocultural, o carteiro de décadas passadas era via de regra um “viajante” que enfrentava a carência de meios de transporte e a precariedade das estradas, uma espécie de banco postal e homem de coragem e de confiança das autoridades.


 


Mas, para além da importância de sua profissão, a história de “Seu” Guerreiro traz outras nuances que precisam ser consideradas, sob uma leitura sociológica e política. Como negro, ele conseguiu se afirmar como pessoa importante e respeitada pela elite local – algo incomum na época. Como testemunha de um período marcado por mandonismos locais que agregavam aspectos como milícias particulares e a bravura e a valentia como símbolo da masculinidade, “Seu” Guerreiro, aos 96 anos, é um arquivo vivo de nosso Sertão. Todavia, a bravura incorporada por ele foi utilizada como instrumento de defesa contra os preconceitos e as barreiras impostas em seus caminhos. Essencialmente, sempre foi um homem pacato e trabalhador.


 


Muitas outras questões podem ser suscitadas a partir de “Seu” Guerreiro, como as questões de gênero, a agricultura no Semi árido, a educação formal e a boemia, que ele a referencia em torno do “Pavão Dourado”, antigo e famoso meretrício de Aiuaba, que, também, precisa ser reconstituído do ponto de vista histórico.


 


 


* Historiador, com mestrado em educação e professor da Universidade Estadual do Ceará – UECE


 


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