Efeito Sarney: petista admite dissidências contra Temer
O lançamento da candidatura de José Sarney (PMDB-AP) à presidência do Senado abalou o acordo entre petistas e peemedebistas para eleger o deputado Michel Temer (PMDB-SP) presidente da Câmara. “Pode ter dissidência no PT”, avalia o deputado Dr. Rosinha (PT
Publicado 24/01/2009 13:50
Contudo, o parlamentar paranaense avalia que a maior parte da bancada vai manter apoio à candidatura de Temer. Dr. Rosinha defende um amplo debate entre petistas e peemedebistas, uma vez que considera que a possibilidade de um só partido comandar as duas Casas do Congresso “não é boa para a política nacional”. “O PMDB”, diz ele, “terá um poder político muito grande”.
Outro deputado petista que defende um debate aprofundado sobre uma eventual supremacia peemedebista é Nilson Mourão (AC). Segundo ele, a candidatura de Sarney provocou “constrangimento” e “representa um rompimento de acordo feito há dois anos”. Ao contrário de Dr. Rosinha, Mourão não acredita em dissidência. “Não creio que modificarão a posição que o partido tomou.”
Mourão, no entanto, defende que a bancada acreana na Câmara discuta o assunto mais detalhadamente. Isso porque o candidato petista à presidência do Senado, Tião Viana, é do Acre e corre o risco de perder o comando do Congresso para Sarney. Dos oito deputados que representam o Acre no Congresso, apenas um — Ilderlei Cordeiro (PPS) — não faz parte da base de apoio ao governo. Além de Mourão, o PT tem outros dois parlamentares acrianos na Câmara federal: Fernando Melo e Henrique Afonso.
Já o deputado Marco Maia (PT-RS) destaca que é “irrevogável” o apoio à candidatura de Temer. “Não enxergo nesse momento nenhuma possibilidade de o PT mudar de posição. Na Câmara, esse assunto já está bem resolvido.” Entretanto, o parlamentar gaúcho afirma que “não é justo” que uma candidatura colocada há poucos dias (no caso, a de Sarney) “contamine” um acordo entre petistas e peemedebistas na Câmara.
Em 2007, o atual presidente da Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP), foi eleito com o apoio do PMDB. Agora, a bancada petista se compromete a votar em Temer, que é o atual presidente nacional do PMDB.
PSDB infla Sarney
Os senadores do PSDB têm reunião marcada na próxima quinta-feira (29) para decidir o apoio a Sarney à presidência do Senado. Nesta semana, após voltar de viagem ao exterior, o líder Arthur Virgílio manteve encontros “informais” com o candidato do PMDB e com o candidato do PT, Tião Viana (AC).
Na segunda-feira (26), Virgílio e o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), terão novas conversas com os dois candidatos. Segundo o líder tucano, “o PSDB sabe que vai definir as eleições” e, por isso, já estabeleceu condições para apoiar: quer duas cadeiras na mesa. Os tucanos exigem a 1ª Vice-Presidência e a 4ª Secretaria, além de duas comissões permanentes — Assuntos Econômicos e Relações Exteriores e Defesa Nacional.
Além de postos-chave, o faminto PSDB quer que o futuro presidente do Senado mantenha a “independência e soberania da Casa”, limite o recebimento de medidas provisórias e distribua as relatorias de acordo com “critérios matemáticos, do primeiro ao milésimo projeto”, segundo Virgílio.
Na avaliação de Antônio Augusto Queiroz, analista político do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) e do cientista político Leonardo Barreto, professor da Universidade de Brasília, os 13 senadores tucanos voarão juntos e tendem a votar em Sarney. Para os dois analistas, a eleição do ex-presidente da República (1985-1990) ao comando do Congresso Nacional se dará por sua capacidade de aglutinação entre parlamentares da oposição e da situação.
“(Sarney) não colocaria sua biografia em risco se não tivesse absoluta convicção de que as condições estão dadas para se eleger — e se eleger facilmente”, analisa Antônio Augusto Queiroz, que tem mais de 20 anos de acompanhamento da atividade legislativa. A provável vitória de Sarney não sofrerá resistência no PSDB nem do governador de São Paulo, José Serra. “Na medida que isso se apresenta como favas contadas, seria muito arriscado o Serra se posicionar ao lado do perdedor”, raciocina Barreto.
Além do poder de agregação, a vitória de Sarney representa, junto com a de Michel Temer (PMDB-SP) na Câmara dos Deputados, revés ao Partido dos Trabalhadores e trunfo da oposição: o PT ficará fora do comando das duas casas do Congresso. “O PSDB, junto com os Democratas, não querem fortalecer o PT”, resumiu Queiroz.
Caso o PSDB consiga ocupar os postos pretendidos, o senador Tasso Jereissati (CE) deverá ficar com a Comissão de Assuntos Econômicos, Eduardo Azeredo (MG) terá o comando da Comissão de Relações Exteriores, e Marconi Perillo (GO) ocupará a 1ª vice-presidência.
Da Redação, com informações do Congresso em Foco e da Agência Brasil