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Motim revela caos em Bangladesh

O motim da guarda de fronteira de Bangladesh na capital, Daca, com ao menos 50 mortos, trouxe de volta o espectro da violência que tem marcado a história política recente do país. Que o exército tenha que ser chamado para reprimir a insurreição apenas

Analistas tinham advertido, antes das eleições, que qualquer agitação poderia desviar os vencedores nas urnas da tarefa de implementar as reformas económicas e desencorajar investimentos. Eles também manifestaram preocupação com o papel dos militares, depois da posse do governo eleito.



O pressuposto naquele momento era que o exército iria permanecer nos bastidores por um tempo, para ver se o novo governo poderia enfrentar a corrupção endêmica e evitar a violência.



O papel dos militares



Agora que a violência irrompeu no centro de Daca em escala tão dramática, os generais podem se sentir compelidos a jogar um papel mais em evidência [o corpo que se rebelou, o Bangladesh Rifles, da guarda-fronteira, não faz parte dos efetivos do exército].



No entanto, conflitos em outras partes do mundo podem convencer o exército a deixar o governo para os os políticos. A vantagem para o exército é que um mínimo envolvimento local significa um máximo de flexibilidade para servir em várias missões de paz da ONU no exterior.



Essas missões, em que Bangladesh muitas vezes tem o mais numeroso contingente, geram pagamentos compensatórios para o país, bem como soldos para os soldados e oficiais que excedem em muito os que eles recebem em casa.



Esta grande disparidade pode ter sido um fator por trás do motim. O Bangladesh Fuzis (BDR), cuja principal tarefa é a segurança das fronteiras, pela própria natureza do seu trabalho raramente se beneficia da generosidade da ONU. Também não possui seus próprios oficiais. Oficiais do exército fazem esse trabalho.



Segundo a mídia local, as tropas se amotinaram para exigir melhores salários, mais subsídios alimentares e folga nos feriados. O major-general Shakil Ahmed, chefe do BDR, já anteriormente se recusara a ouvir as reivindicações de suas tropas. “Parece ser um motim dos praças do BDR contra seus oficiais do exército regular”, disse um porta-voz das forças armadas.



Golpes e instabilidade



O país de maioria muçulmana mas laico, com 144 milhões de habitantes, anteriormente conhecido como Paquistão Oriental, tem uma história de instabilidade, golpes e contragolpes desde que obteve a independência do Paquistão em 1971.
Ela experimentou uma democracia confiável por um tempo. Mas, confrontado com graves crises económicas e sociais, o xeque Mujibur Rahman, presidente-fundador, assumiu poderes autoritários. Pouco depois, em 1975, os militares deram um golpe, matando Mujib e sua família.



Depois de anos generais no exército no governo, fardados ou não, a xeque Hasina, filha de Mujibur Rahman e Khaleda Zia, viúva de outro presidente assassinado, Ziaur Rahman, alternaram-se como primeiras ministras por um período de 15 anos que terminou em 2006.



Foram tempos marcados pelo caos, por boicotes do Parlamento por partidos derrotados, pelo descompromisso, a má-fé, difamação e uma mortífera violência com políticos como vítimas e culpados.



“Independentemente de quem vencer as eleições, o próximo governo e os partidos da oposição terão de enfrentar os desafios de fazer o Parlamento trabalhar e de lidar com um exército que quer um maior papel na política”, dizia em dezembro o International Crisis Group, que acompanha conflitos em todo o mundo.



Embora o sentimento de déjà vu ptraga de de volta profecias de desgraças, ainda é cedo demais para que o exército exerça abertamente sua influência.



O dinheiro compreendido pelaajuda externa e pelos ganhos com missões de paz da ONU ganhos desencorajará os militares de assumir um papel mais central. Pelo menos por enquanto.



Fonte: Al Jazira