Chico Lopes: “Seminário do Conselho de Desenvolvimento ressalta gravidade da crise”

A gravidade da crise econômico-financeira que se desenrola desde 2008 pode ser ainda maior do que se avalia até o momento. O alerta foi feito durante o seminário promovido pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, do Governo Federal, na semana

Realizado nos dias 5 e 6 de março, o seminário foi promovido como uma reunião ampliada do Conselho, um dos principais instrumentos de contato entre o Governo Federal e a sociedade civil organizada, representada em diversos extratos, desde o empresariado aos trabalhadores, passando pelo terceiro setor. O objetivo foi debater as perspectivas para o desenvolvimento e o atual cenário econômico mundial, de modo a apontar caminhos e reuni subsídios para que o governo possa ajudar o País a atravessar do melhor modo possível o atual momento de crise além-fronteiras.



 
Durante os dois dias de seminário, autoridades do governo, representantes do setor produtivo, do setor financeiro, das instituições multilaterais, pesquisadores de universidade brasileiras e americanas debateram sobre desenvolvimento brasileiro e dos países emergentes no novo contexto internacional. Todo o debate ressaltou a gravidade da atual situação econômica mundial, buscando compreender os limites e possibilidades nessa realidade.
  
 
Números X otimismo
 


Entre os painéis que mais chamaram quanto à gravidade da crise, foram apresentados dados que apontam para um ano de 2009 muito difícil, persistindo o quadro de forte deterioração da economia mundial. A projeção é que o PIB global tenha queda de meio ponto percentual ao longo deste ano. Já a produção industrial global deve cair até 15,1% no mundo e 11% nos mercados emergentes.
 


“São números muito preocupantes, porque têm impacto direto no emprego. Indicam que deverá haver uma forte aceleração do desemprego global”, ressalta o deputado Chico Lopes.


 


No caso específico do Brasil, a previsão de crescimento do PIB em 2009 varia de 3% a 0,6%. Mesmo crescendo apenas 0,6%, o Brasil ainda seria, segundo as previsões, o quarto país com maior crescimento do PIB em 2009, ficando atrás somente de China, Índia e Indonésia. 
 


“Apesar de as principais autoridades brasileiras continuarem mostrando otimismo na avaliação de todo esse contexto, a indicação é que a queda na produção industrial e nas taxas de emprego, nos países em desenvolvimento, serão maiores do que se pensava”, acrescenta Lopes. “Essa é uma das faces mais duras e injustas dessa crise, porque aumenta a parcela de sofrimento imposto aos mais pobres, quando essa é uma crise que veio dos países ricos”.
  
 
Pela redução dos juros
 


Outra importante constatação do seminário foi a avaliação quase unânime – salvo o silêncio do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles – de que o Brasil precisa, o quanto antes, reduzir as taxas de juros. Palestrantes internacionais, como o professor Robert Guttmann, ressaltaram a necessidade de queda dos juros em curto prazo e alteração da política monetária em médio e longo prazo. A economista Maria da Conceição Tavares também puxou o coro pela redução das taxas de juros.
 


Para uma melhor avaliação da relação entre a taxa básica de juros da economia, em compasso com o noticiário da crise, foi sugerido que as reuniões do Conselho de Política Monetária (Copom) aconteçam com uma freqüência entre 20 e 30. “O objetivo seria acelerar a redução das taxas de juros e evitar o impacto de grandes reduções anunciadas a cada 40 dias”, explica Chico Lopes.
 


Entre os participantes, há a expectativa de que o ano de 2009 termine com taxas de um dígito – algo como 9,75%, por exemplo. “A sociedade pode e tem espaço real para pressionar por uma queda bem maior dos juros”, avalia Lopes, que vem levantando o tema desde o início de seu mandato. “Precisamos acelerar e intensificar a nossa resistência, em especial dos trabalhadores e setor produtivo, pela queda dos juros como forma de buscar o desenvolvimento com distribuição de riqueza. Esse é o momento”.
 
  
“Desglobalização” e queda do muro de Wall Street 
 


A contradição de interesses entre o setor produtivo e o setor financeiro, na atual crise, foi destacada pelos participantes do seminário. O Oriovista Guimarães, presidente do grupo Positivo, chegou a afirmar que “Capitalismo sem risco não é capitalismo: é maracutaia”. E ainda fez apelos para que o Banco Central regulamente operações de câmbio, nas quais o risco dos bancos é praticamente nulo, sendo assumido pelo setor produtivo. 
 


Para os participantes, o mundo passa por um forte processo de “desglobalização” das economias, com efeito multiplicador negativo sobre a crise. “Esse cenário traz inclusive a possibilidade de presenciarmos o fim definitivo do G-7 e a adoção do G-20 como o foro principal de chefes de Estado”, aponta Chico Lopes, lembrando uma das principais bandeiras dos países emergentes. “Claro que há resistência do outro lado. Mas o cenário é favorável à mudança”.
 


A “queda do muro de Wall Street”, como definiu o economista Ignacy Sachs durante sua conferência, também pode estar marcando o fim do padrão de consumo americano, insustentável para o planeta. “Ao contrário do que alguns defendem, os debatedores apontaram que a solução da crise não pode e não deve passar por uma retomada do consumo americano. A crise, na verdade, seria um ajuste nesse padrão que há muito vem sendo denunciado como insustentável”, enfatiza Lopes.
  
 
O Brasil e o desenvolvimento
 


Em meio a tantas análises desanimadoras, Chico Lopes aponta que o cenário também pode trazer boas perspectivas para países como o Brasil. “O encontro também deixou claro que esse é o momento de debater um projeto de desenvolvimento nacional sustentável, pactuado no crescimento econômico, na distribuição da riqueza e na preservação ambiental”, afirma.
 


“Também se reconheceu que a forte rede de proteção social, criada no Brasil a partir da Constituição de 1988, junto com a legislação trabalhista e os programas sociais e de distribuição de renda, dão ao nosso povo maior resistência contra a crise”, acrescenta o parlamentar cearense. “Isso nos dá mais musculatura para a defesa dessas conquistas, que são permanentemente ameaçadas”.
 


Lopes, no entanto, sentiu falta de uma maior participação, no seminário, de representantes dos trabalhadores.  “Duas centrais sindicais, a CUT e CGTB, participaram de mesas, mas com papel limitado a coordenar e relatar painéis. Temos certeza de que o conjunto do movimento dos trabalhadores tem opinião, sugestões e reivindicações a apresentar à sociedade e ao governo acerca dos temas abordados”. 
 


Fonte: Ass. Imprensa Dep. Fed. Chico Lopes – PCdoB-CE