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'Se Eu Fosse Você 2': a melhor tevê está fora da tevê

Daniel Filho diz, com orgulho, que deixou a tevê em 1990. A julgar pelo atual blockbuster Se Eu Fosse Você 2, a tevê recusa-se a deixar Daniel Filho.


 


Por Nirlando Beirão, na CartaCapital

Isso é só uma constatação. Por três décadas, Daniel Filho adestrou-se no ofício das telenovelas, dos telesseriados e dos telemusicais e seria injusto exigir dele agora, ao trocar a escala de sua tela, que viesse a renunciar ao idioma que exercita tão bem. É um karma? É.


 


Ele mesmo se queixa: “Até hoje me param na rua pra comentar a novela das 8”. A maldição do plimplim — batizou Daniel Filho. Devia mais é relaxar. Ele é a prova viva, ainda que com um esgar de ironia, de que a tevê pode ser muito melhor fora da tevê.


 


De mais a mais, a televisão nem sempre é tão feia como a pintam. Ou como o próprio Daniel a retrata. A televisão tem, sim, o compromisso do entretenimento — por pior que isso possa soar.


 


O ibope espreita por trás das câmeras, clamando por audiência, e a audiência é uma flor delicada a exigir, a menos que o programa seja o Big Brother ou os auditórios do SBT, do tipo irremediáveis, certo padrão de qualidade que o Daniel, tanto quanto o Boni, soube impor à Globo de outrora.


 


Ao se teletransportar para o cinema ele leva sua fome de público, assim como a dupla de atores maduros com a melhor química da tevê. Lá estão Gloria Pires e Tony Ramos nas capas dos tabloides. São “os mais amados”, “os namoradinhos do Brasil”. Estiveram juntos em Belíssima, de Sílvio de Abreu (ele era o grego Nikos Petrakis, ela, Júlia Assumpção), e em Paraíso Tropical, de Gilberto Braga (o casal grã-fino Antenor e Lúcia Cavalcanti). Desde Spencer Tracy e Katharine Hepburn, não há par feito tão claramente um para o outro.


 


Tony Ramos é um sutil ator de palco (sua atuação em Cenas de um Casamento, ao lado de Regina Braga, é de antologia), mas não consegue se livrar da fera que ele é na tevê. Mas não se queixa. Daniel Filho, ele sim. Irrita-se e esbraveja quando chamam Se Eu Fosse Você 2 de “televisivo”. Um sujeito que dirigiu Dancin’ Days (de Gilberto Braga), e Malu Mulher (com Regina Duarte), tem todo o direito de não querer se identificar com o lixo que hoje prolifera na telinha.


 


O Fantástico? “No gênero bicho, a National Geographic é melhor.” Jornal Nacional? “A internet me conta o que acontece.” O Big Brother? “É um circo humano, gente comendo gente.” Taí um crítico que conhece aquilo de que fala.