Debate em BH: Ciro e Renato apresentam propostas para a crise
O Teatro da Assembléia Legislativa de Minas ficou lotado para o debate desta quinta-feira (26). Na pauta, a crise e as propostas para o país enfrentar a turbulênica econômica mundial. Compuseram o trio de debatedores, Ciro Gomes, deputado federal ceare
Publicado 27/03/2009 14:42 | Editado 04/03/2020 16:51
Também participaram o prefeito de Belo Horizonte Márcio Lacerda, os deputados federais Jô Moraes (PCdoB), Júlio Delgado (PSB) e Virgílio Guimarães (PT), os deputados estaduais Carlin Moura (PCdoB), Wander Borges (PSB), Dr. Rinaldo (PSB), Chico Uejo (PSB) e Alencar da Silveira Junior (PDT), além de lideranças sociais de diversas entidades.
O evento foi uma iniciativa dos partidos do Bloco de Esquerda. O objetivo era contribuir no debate sobre a gravidade da crise em curso e as alternativas necessárias para o Brasil reduzir suas consequências e tentar aproveitar o momento para alavancar o seu desenvolvimento, ampliando a sua inserção na economia mundial.
Debate necessário
A necessidade de discussões como aquela foi ressaltado pelos debatedores. “A Câmara Federal, que tenho a honra de pertencer, não usou um segundo de seu tempo para debater esta crise que esta abalando modelos e paradigmas no mundo inteiro”, criticou Ciro Gomes. Renato Rabelo relatou inciativas que estão acontecendo para dialogar sobre o momento econômico. O comunista acabara de chegar de Foz do Iguaçu (PR) onde participou de um evento com países do Caribe e da América do Sul que debatiam a crise, numa iniciativa convocada pelo governador do Paraná, Roberto Requião.
Esperança
Apesar de não subestimar a gravidade do que vem ocorrendo, os debatedores buscaram concentrar suas falas em alternativas que devem ser tomadas para o país continuar crescendo, apesar do difícil momento da economia mundial. Ciro Gomes se mostrou otimista ao lembrar que os momentos de crise são momentos excelentes para viabilizar uma mudança de paradigmas econômicos e políticos.
No mesmo rumo, Renato Rabelo lembrou que em crises, como a de 1929, o Brasil apresentou um avanço significativo, pois, “aproveitou o momento de turbulência externa para investir no crescimento do mercado interno”.
Ciro
O deputado cearence condensou em aproximadamente uma hora de fala os seus temores pela gravidade da crise e suas sugestões para que o Brasil passe por este período turbulento da melhor forma possível.
Sempre crítico às “posturas econômicas irresponsáveis do governo de FHC”, o deputado atacou a forma como o governo anterior mantinha uma relação de dependência do dinheiro do FMI gerando, por consequência, uma postura invasiva desta instituição nas decisões nacionais. “O FMI decidia até qual seria o valor do salário mínimo”, disse o deputado.
Ciro lembrou as conquistas do governo Lula, lembrando que só com FHC o Brasil quebrou duas vezes e apesar da crise agora foi diferente. No entanto, não poupou críticas ao Banco Central e sua postura tímida diante de um cenário de crise já estabelecido no início do ano passado. Ele lembrou que enquanto o mundo inteiro reduzia suas taxas de juros, o Banco Central resolveu aumentar a taxa por três vezes seguidas entre março e maio de 2008. Uma decisão considerada inaceitável pelo deputado. Ainda sobre neste tema, Ciro defendeu que a taxa Selic seja reduzida até o patamar de 5%.
Pregando a discussão de um novo modelo econômico e novos projetos políticos que visem o mercado interno, Ciro concluiu falando da importância da produção de conhecimento e pesquisa, para tornar o país cada vez mais independente da importação de tecnologias. Ele citou como exemplo do deficit tecnológico, o fato do Brasil ter importado no ano passado mais de 10 bilhões apenas medicamentos e equipamentos pelo Ministério da Saúde, “parte deste montante foi de produtos que já estão com suas patentes vencidas”.
Citou outras deficiências, como na área do turismo, pois, para o deputado, um país com a diversidade de regiões, climas e milhares de quilômetros de litoral não pode se dar por satisfeito com apenas 7 milhões de turistas por ano.
Renato Rabelo
O presidente do PCdoB ressaltou o momento atribulado como ideal para que o Brasil, caso tome as decisões corretas, avance economicamente e socialmente. O presidente tocou na questão da luta política que se descortina nos momentos de crise.
O comunista lembrou que economia é economia politica, não esta economia abstrada, que pregam por aí. Citou os embates que estão em curso, como o questionamento apresentado pela China do dólar ser a moeda mundial, e a proposta daquele país para que se crie de uma moeda internciais para transações entre países.
Quanto ao Brasil, Rabelo lembrou o despreparo do país para enfrentar a crise e a urgência de uma maior discussão da questão. “Um país que paga 150 bilhões de dólares de juros ao ano não está preparado para enfrentar a crise”, afirmou. Ele defendeu que a nação precisa mudar sua visão macroeconômica, acabando com a lógica de fazer superávit primário para fazer economia e com isso pagar juros.
Renato julgou que no início do governo, Lula precisou fazer concessões, fazer um pacto de governabilidade, pois a situaçãoo exigia isto, já que Fernando Henrique deixou um país quebrado. Mas agora, para Rabelo, é necessário recompor um pacto político para enfrentar esta crise. “Vivemos numa encruzilhada. É preciso que a nação crie um movimento pelo desenvolvimento e pelo emprego, com soberania, independência e que afirme o país como uma grande nação, defendeu”.
Reginaldo
O deputado federal e presidente do PT-MG, Reginaldo Lopes, foi o último a expor suas idéias. O mineiro, que é economista, lembrou que a esquerda sempre sofreu um preconceito por defender um Estado forte, “agora os conceitos neoliberais estão caindo por terra e é o Estado que tem que intervir para salvar o mercado”.
O petista afirmou a necessidade do país buscar saídas de curto prazo, principalmente políticas, “porque o mais perigoso para o Brasil é que a experiência democrática e popular seja interrompida. Por isso, temos que buscar uma unidade entre os partidos de esquerda”.
De Belo Horizonte,
Kerison Lopes
Roberto Ângelo
Fotos: Willian Dias, da comunicação da ALMG