Ofensiva franco-alemã pró-regulação desafia os EUA no G20
O presidente Nocolas Sarkozy, da França, e a primeira ministra Angela Merkel, da Alemanha, abriram sua divergência com os Estados Unidos e o Reino Unido, em coletiva de imprensa na véspera (1º) da cúpula do G20. O chanceler francês, Bernard Kouchner, resu
Publicado 01/04/2009 22:10
A exigência franco-alemã de “uma nova regulação” ocorreu após um dia carregado de tensão em Londres. Enquanto o presidente dos EUA, Barack Obama, fazia uma apelo por uma “frente única”, a repressão a uma manifestação de protesto degenerava, na City, deixando 63 presos e um morto.
Sarkozy e Angela falaram à imprensa em um hotel londrino, antes do jantar que reuniu todos os participantes da cúpula. O G20, que inicia amanhã o seu segundo encontro, mistura as metrópoles mais ricas do mundo (o tradicional G7) com grandes países em desenvolvimento (inclusive o Brasil), chamados a participar depois que a crise global capitalista explodiu em Wall Street e a partir dali contaminou o mundo.
Sarkozy quer “dar consciência ao capitalismo”
“Dizemos que sem uma nova regulação não vai haver confiança. E sem confiança não haverá retomada; é um objetivo maior, não negociável”, disse Sarkozy. “Exigimos resultados. Em Washington (na primeira cúpula do G20, em novembro) foram colocados princípios, em Londres queremos coisas concretas, resultados”, enfatizou. E discriminou o que considera “linhas vermelhas” não passíveis de negociação.
Depois de ter proposto uma “refundação do capitalismo”, assim que a crise estourou, o presidente francês voltou ao tema: “Esta é uma oportunidade histórica aue se oferece para darmos ao capitalismo uma consciência, pois o capitalismo perdeu sua consciência”.
Angela: “Depois-de-amanhã será tarde”
Menos exuberante, Angela Merkel enumerou os cinco pontos de “linha vermelha”, citados também por Sarkozy: engajamento do G20 com a erradicação dos paraísos fiscais; combate à “titularização” (técnica financeira que converte créditos em obrigações, revendidas em seguida); controle mais estrito dos hedge funds (investimentos “alternativos” de risco) e agências de classificação; e “moralização” da remuneração dos executivos.
“Sobre todos estes temas, houve progresso, mas não o bastante. Devemos ser firmes e duros nos detalhes”, disse a governante alemã.
“Queremos resultados que sejam resultados concretos e mudem o mundo como o conhecemos”, agregou. “Depois-de-amanhã será tarde demais. As decisões precisam ser tomadas hoje e amanhã”, enfatizou.
Obama: “Divergências foram exageradas”
Antes, Obama oferecera a sua coletiva, acompanhado pelo primeiro ministro britânico, Gordon Brown, anfitrião e coordenador da cúpula. “Temos a responsabilidade de coordenar nossas ações e nos concentrar nos pontos comuns e não nas divergências episódicas”, disse o novo inquilino da Casa Branca, que faz sua primeira viagem internacional depois de assumir a presidência.
“Não vamos nos entender sobre todos os pontos”, disse Obama, agregando que “as diferenças entre as diferentes partes foram muito exageradas”. Mas disse também que a cúpula não poderia se permitir “meias-medidas”.
As conversações bilaterais preparatórias da cúpula desta vez tiveram um ritmo mais frenético que de hábito. Obama encontrou-se com o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, e o da China, Hu Jintao. Sarkozy, antes da reunião com Angela, almoçara em Paris com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, destacando a seguir que os dois tinham uma “identidade de visão total e completa”.
Também chamou a atenção dos observadores em Londres a quantidade de textos que vazaram para a imprensa, apresentados como rascunhos do comunicado que sairá da cúpula. Fora pelo menos cinco, com numerosas diferenças de conteúdo e de tom.
Da redação, com agências