Jornalistas fazem a história na defesa do diploma
Um grupo de aproximadamente de 200 jornalistas – entre profissionais, professores e estudantes – esteve em Brasília/DF para acompanhar a votação Recurso Extraordinário nº 511961, que questiona a constitucionalidade da exigência do diploma em Jornalismo co
Publicado 07/04/2009 11:46 | Editado 04/03/2020 17:18
Tomando como fato que, segundo a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), em 2004 o Brasil tinha algo em torno de 30.000 jornalistas com carteira assinada, um olhar desatento poderia considerar o número de participantes um retrato em alta resolução da crise pela qual passa categoria. Mas, uma análise mais apurada identificaria um momento histórico construído pelo grupo. Afora as ações de combate à ditadura militar, nos anos 60/70, e as campanhas salariais, há muitos anos os jornalistas não saiam às ruas em defesa dos seus direitos.
A tese defendida pelo Sindicato das Empresas de Rádio e TV de SP e sob análise do STF (Supremo Tribunal Federal), de que a legislação impede a liberdade de expressão, caiu por terra assim que os manifestantes chegaram ao Tribunal. A segurança vigiou o grupo o tempo todo. Às 14 horas, quando deveria começar o julgamento, além dos seguranças, efetivos da Polícia Militar do DF cercaram e reprimiram a manifestação pacífica.
Mas, foi a construção do momento histórico que marcou a vida dos estudantes. Muitos nunca haviam ido à capital federal, a maioria sequer havia participado de manifestações semelhantes. Paula Pereira – 2° ano de Jornalismo da PUC Campinas expressa este sentimento. “Foi um despertar para os jornalistas. Depois das ações de combate ao regime militar os profissionais dos meios de comunicação viveram numa certa apatia. Agora, surge uma nova geração com o mesmo espírito de luta da época da resistência à ditadura”, proclama. Na mesma linha segue Murillo Nascimento – 3° ano de jornalismo da PUC Campinas – quando diz “eu nunca havia participado de uma manifestação por um ideal. Isso me motivou, me animou a brigar por causas que acredito serem justas. Esta manifestação me fez sentir muito bem”.
Bárbara Zaiden – 1° ano de Jornalismo da Universidade Federal de Goiás (UFG) – estabelece a contradição entre a tese empresarial e a manifestação. “Mesmo não tendo muita gente, a ação da repressão mostrou a nossa força. É bom para eles verem que nós estamos preocupados com essa questão e que vamos defender os nossos direitos”, afirma empolgada. Laura Santos Braga – 1° de Jornalismo da UFG – também gostou. “Achei que a gente fez uma boa manifestação. Eles puderem ver que nós não concordamos com o fim do diploma porque estamos preocupados com o nosso futuro profissional”. A jovem Letícia da Costa Coelho – 2° ano de Jornalismo da Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP) – ressalta o espírito que se apossou da juventude após a manifestação. “As pessoas têm que se manifestar. Estamos lutando pelos nossos direitos. O ato foi muito importante, muito bom. Mostrou que a gente não vai aceitar o fim do diploma numa boa”, exclama.
A morosidade do ritual do STF permitiu que a democracia brasileira não fosse atacada como ocorreu há 45 anos com o golpe militar que depôs o presidente João Goulart. Por volta das 16 horas, os ministros perceberam que não conseguiriam cumprir a pauta e retiraram a discussão do diploma da pauta de votação. Mas, a pendência permanece. A sociedade brasileira tem se manifestado pela defesa do diploma. Além dos diversos atos públicos realizados por todo o país, pesquisa do Instituto Sensus mostra que 75% são a favor do diploma. Resultado parecido com enquete do portal Folha On Line, onde 54% já se manifestaram pelo sim. Resta saber se o STF consagrará o costume e a vontade popular ou o interesse de grupos empresariais.
De Campinas, Agildo Nogueira Jr.