Luta interna no PT sobre alianças do projeto Dilma 2010
O PT foi convencido pelo presidente Lula de que a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), embora com menos de 10 anos de petismo, deve ser a candidata a sucedê-lo em 2010. Porém não há acordo na hora de definir os palanques e alianças locais que sustenta
Publicado 05/05/2009 21:55
A questão toca um assunto ainda controvertido e cheio de nervos expostos no PT: política de alianças. Em seus nove primeiros anos, o partido simplesmente não compunha frentes, coligações ou coalizões. Estas foram introduzidas a partir de 1988, com a eleição de Luiza Erundina (hoje deputada federal do PSB), e principalmente de 1989, com a primeira campanha presidencial de Lula, pela Frente Brasil Popular (PT-PSB-PCdoB). Mas mesmo nas duas últimas décadas o PT manteve um número elevado de candidaturas próprias a cargos majoritários e resistências a alianças, especialmente quando não fornece o cabeça de chapa.
“Dilma tem que passar pela base”
Hoje isto é matéria vencida para um certo número de quadros petistas, entre os quais se destaca Luiz Inácio Lula da Silva. É notável o à vontade com que o presidente trata com sua vasta e heterogênea base de apoio, hoje integrada nada menos de 13 siglas; no segundo mandato, passou inclusive a reunir-se mensalmente com seus dirigentes, no Conselho Político do governo.
Na costura do projeto Dilma 2010 Lula se cerca de cuidados visando atrair todo este conjunto. Ainda na semana passada, ao comentar em Manaus o tratamento da ministra contra um câncer linfático, ele frisou que “a Dilma é minha candidata” mas “ela tem que passar pelo partido, tem que passar pela base aliada, tem que passar por uma discussão”. Dentro da base, trata com especial deferência o PMDB, dono do maior cacife de parlamentares e governos.
Esta conduta choca-se porém com a cultura enraizada no partido desde os primeiros anos, não integralmente superada por meio de uma discussão de fundo. Na dúvida, o reflexo condicionado petista é a candidatura própria. O PT gaúcho nunca deixou de lançar o seu candidato ao governo. O fluminense só fez uma vez, em 1998, devido a uma intervenção nacional, com sequelas que reverberam até hoje, pois o aliado eleito foi Anthony Garotinho, na época pelo PDT. Nos preparativos para 2010, a questão volta a se colocar.
Distrito Federal e Rio de Janeiro
O primeiro sinal de que haveria turbulências surgiu há quase um mês, no Rio: a tendência petista liderada pelo ex-deputado Wladimir Palmeira lançou para governador o atual prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, embora o partido participe do governo do peeemedebista Sérgio Cabral, candidato declarado à reeleição em 2010 e até cogitado como possível vice na chapa de Dilma.
A ala que de Palmeira é minoritária no PT-RJ, e pode-se alegar que ali houve apenas uma declaração de intenções políticas. Porém não é este o caso no Distrito Federal e no Rio Grande do Sul.
O Diretório Regional do PT-DF, reunido nesta segunda-feira (4), decidiu antecipar para 16 de agosto as prévias destinadas a escolher um candidato ao GDF (Governo do Distrito federal). Dos 39 membros do Diretório presentes (em um total de 47), 31 votaram pela antecipação e 13 queriam até uma data mais próxima, 30 de junho. Apenas oito apoiaram o calendário da Direção Nacional, que joga o debate para o ano que vem e subordina-o à lógica da disputa presidencial. O plano local do projeto Dilma 2010, segundo circula nos bastidores, cogita a possibilidade de apoiar o senador e ex-governador Joaquim Roriz (PMDB).
A azeda polêmica gaúcha
Porém é no Rio Grande do Sul que a disputa se azedou e nacionalizou mais acentuadamente. Também ali o Diretório petista antecipou a escolha de um candidato a governador, para um encontro estadual em 17 e 18 de julho. Lançaram-se candidatos o ministro da Justiça, Tarso Genro, o deputado Adão Villaverde e o prefeito de São Leopoldo, Ary Vanazzi.
O presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), reagiu pela imprensa dizendo que o calendário gaúcho é “informal”, pois contraria o Estatuto do partido, e que a prioridade do PT é uma aliança nacional para a Presidência. Nas entrelinhas, paira a possibilidade de um acordo com o PMDB gaúcho, que em 2008 reelegeu o prefeito de Porto Alegre em um segundo turno contra o PT, com a contrapartida do apoio peemedebista a Dilma.
Tarso Genro respondeu também pela imprensa. Julgou a posição de Berzoini “uma incompreensão, um desconhecimento completo do que ocorre no RS, o fato de que temos um partido programático, politizado e ético”, “um momento muito infeliz”. A contestação básica é que o PMDB-RS participa do atual governo da tucana Yeda Crusius, com elevadíssima rejeição, e que qualquer aliança local deve ser dos que “se opõem ao projeto neoliberal do governo Yeda Crusius”. Para Tarso, “Berzoini vai ter de pedir desculpas ao partido no estado”.
O presidente petista retorquiu que o pedido de desculpas é “uma declaração absolutamente ridícula”. E nesta terça-feira (5) passou a contar com um aliado de peso no debate interno, o ex-ministro e ex-presidente do PT José Dirceu.
Em seu blog, considera “naturais” as divergências do PT gaúcho e que as propostas em disputa “são todas legítimas e não devem ser desqualificadas”. Por isso diz “não entender porque Tarso Genro exige desculpas do presidente nacional do PT”.
Dirceu vai adiante e amarra o guiso no gato da política de alianças. “Quero deixar claro que defendo, sim, o diálogo com o PMDB, com os outros aliados e a abertura para alianças no Estado, sem pré-condições e sem ilusões”. Do contrário, ironiza, “restaria ao PT, então, fazer alianças com o PSOL e o PSTU”.
Se a um ano e meio das eleições de 2010 os ânimos estão nesta temperatura, o projeto Dilma 2010 passa a lidar com um flanco exposto. Lula, o grande eleitor de Dilma, não se pronuncia diretamente sobre o assunto, mas deixa nas entrelinhas uma divisão de tarefas: diz que Dilma deve tratar primeiro da saúde e segundo do PAC, dando a entender que ele se empenhará na costura do arco de alianças da candidatura. Será bom se incluir aí a unificação de seu próprio partido em torno de uma política de frente.