Chuvas voltam a castigar zona norte do Ceará
Uma campanha unificada em favor dos desabrigados pelas chuvas será lançada hoje pelo governador Cid
Publicado 12/05/2009 08:49 | Editado 04/03/2020 16:35
As chuvas deram uma trégua durante a semana que passou, mas de domingo para segunda-feira voltaram a causar estragos na zona norte do Estado, provocando mais alagamentos e destruições. Na cidade de Pacujá, distante 295 km de Fortaleza, centenas de famílias tiveram suas casas invadidas pelas águas do rio que corta a cidade. Em Cariré, o arrombamento de um açude particular que recebe água do rio Caiçara causou estragos na CE 183, próximo à sede daquele município, destruindo cerca de 20 metros da rodovia, que ficou interditada nos dois sentidos, impedindo a passagem de veículos entre Sobral e Varjota. Árvores foram arrancadas e plantações foram destruídas. Devido às chuvas que banharam a região, a cidade de Reriutaba voltou a sofrer inundação e centenas de famílias foram obrigadas e deixar suas casas, sendo levadas para abrigos improvisados pela Prefeitura.
Em Pacujá, por duas vezes este ano, a cheia dos rios Jaibaras, Quirino e Graça, inundaram casas e ruas, obrigando a Prefeitura a fazer a retirada de algumas delas para locais mais seguros, como o Ginásio Poliesportivo. Os bairros mais afetados pela cheia foram Pantanal e Casa Populares, além da Avenida Coriolano Alves de Brito, a principal via da cidade. Naquela artéria, o nível da água chegou ao ponto de lavar todas as casas, mas não houve a necessidade de fazer a remoção das famílias. “Estamos de prontidão com veículos disponíveis para, em caso de necessidade, retirar as pessoas”, disse Raimundo Rodrigues de Sousa, secretário de Administração e Finanças de Pacujá.
Ele informou ainda que as cheias afetaram 200 famílias que moram na área ribeirinha, 100 delas moram no bairro Pantanal. “Nós temos projetos para melhorar a vida dessas famílias e verba garantida pelo Governo Federal, mas as obras só deverão ser iniciadas em junho”, assegurou Rodrigues.
“Enquanto isso não acontece, nós somos obrigados a viver com essa situação há anos. Eles aparecem com o paliativo e não acompanham a obra”, reclamava o morador João Severino, que precisou abandonar a casa com medo da inundação.
Para o vereador Francisco de Oliveira Júnior, mais conhecido por Júnior Brito, projetos aprovados pela Câmara existem. “Temos projetos aprovados que podem melhorar a vida desse povo. Projetos que podem ser feitos com recursos da prefeitura”, afirmou o vereador, ao mesmo tempo em que aguarda a liberação de recursos por parte da administração para execução de obras que possam evitar a erosão do terreno nas margens do rio.
Enquanto as melhorias não acontecem, a dona de casa Francisca do Nascimento vive na obrigação de ter que abandonar a casa mais uma vez. Ela disse que estava abrigada no Ginásio Poliesportivo da cidade até a última sexta-feira e resolveu voltar para casa. Ontem de manhã, viu a casa ser novamente invadida pelas águas. “Acho que vou ter que voltar para o ginásio, não sei até quando. Este ano já é segunda vez que tenho que deixar a minha casa”, desabafou Francisca Nascimento, que mora na rua 22 de Setembro, onde cerca de dez casas foram alagadas. Ao final do dia as águas começaram a baixar.
Campanha unificada
O governador Cid Gomes vai reunir hoje, às 9 horas, no auditório da Federação das Indústrias do Estado (Fiec), em Fortaleza, várias entidades e organizações com o objetivo de concentrar todas as ações de apoio aos desabrigados das enchentes no Ceará numa única campanha.
Na ocasião, Cid, ao lado dos presidentes da Fiec, CDL, Sesi, BNB, dirigentes estaduais do Banco do Brasil, Correios, Caixa Econômica, Aprece e Acert, anunciará uma só estratégia em favor dos mais de 200 mil cearenses que sofrem com as fortes chuvas.
A campanha será coordenada pelo governo estadual por meio da Defesa Civil do Ceará e Corpo de Bombeiros, com apoio também da Cruz Vermelha. Avaliou-se que havia dispersão nesse trabalho, acarretando problemas para a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros no que diz respeito a organizar o que vinha recebendo e a ser mais célere no repasse para os municípios do Interior.
Caberá ao governo estadual assegurar toda a logística nessa estratégia. Em muitos municípios, a ajuda aos desabrigados ainda é insuficiente. Faltam água potável, alimentos, agasalhos, lençóis e colchões, diante da elevada demanda.
Famílias do Vale do Jaguaribe retornam às casas após cheias
O principal sentimento da população do Vale do Jaguaribe é de expectativa. Se, por um lado, a redução de chuvas nos últimos dias fez baixarem as águas dos principais rios, por outro, o aumento da vazão do Castanhão na manhã de ontem, para 1000 metros cúbicos por segundo, somado às chuvas futuras, gera dúvida sobre em que nível ficarão as águas nas áreas ribeirinhas das cidades mais atingidas. Na manhã de ontem, famílias de Itaiçaba e Jaguaruana faziam o caminho de volta para casa. A Defesa Civil alerta que só com uma avaliação mais precisa sobre o quadro das águas no Ceará pode assegurar a saída, ou não, dos abrigos na região.
Com novo recorde de acúmulo a cada dia e, por isso, diminuindo o seu “pulmão de reserva”, o açude Castanhão teve aumentada sua vazão, mais uma vez, na manhã de ontem. É a quarta intervenção nesse sentido em três semanas. A abertura das comportas aumentou de 2,25 m (valor de sábado) para 2,77metros ao meio dia de ontem. Agora o aumento é de 800 para 1000 metros cúbicos (ou um milhão de litros) por segundo liberados para a calha do rio Jaguaribe, que já vinha registrando pequena diminuição, além da bacia do Banabuiú. Duas válvulas que ficavam abertas desde a inauguração do açude, liberando em média 70 metros cúbicos por segundo, estão fechadas há dois dias, para manutenções.
À primeira vista, o aumento da vazão do Castanhão fez provocar o alarde de que as cidades já atingidas, como Jaguaruana, Itaiçaba e Limoeiro do Norte, estariam ainda mais alagadas, mas a informação é especulativa e hipotética, visto que, apesar dos quase 90% de alagamento na zona urbana de Itaiçaba, já houve redução da água para baixo da “marca velha” de 2,87 metros acima do nível do mar, como é chamado o nível mais alto a que a água chegou nas chuvas deste ano. A cidade está com 1.850 famílias desabrigadas e, até agora, recebeu apenas 550 cestas básicas da Defesa Civil do Estado.
O prefeito de Itaiçaba, Frank Gomes, também presidente da Associação dos Municípios do Vale do Jaguaribe, esteve na manhã de ontem na sede da Defesa Civil, em Fortaleza, e negou que houvesse mobilização para retirar mais famílias em função da nova vazão do Castanhão, “mas é claro que quanto mais água entra, nos preocupa, felizmente tem baixado mais o nível do rio no fim de semana, e temos menos água do que na semana passada, só que a situação ainda não chegou ao controle, porque continuamos com quase 90% da zona urbana debaixo d’água”, afirmou Frank. Choveu “fino” na manhã de ontem em Itaiçaba, onde, pelo menos, sete comunidades da zona rural só são visitadas de barco ou por helicóptero.
Em Limoeiro do Norte, também atingido pela cheia do Jaguaribe, as águas baixaram nos últimos dias, descobrindo um pouco mais a Ilha de Santa Terezinha, e famílias já pensavam em retornar para suas casas – fato que já era concretizado em Itaiçaba. Não houve aumento no número de desabrigados, mas a situação na região jaguaribana não é de tranquilidade, visto que a previsão de chuvas pela Funceme estendeu-se para meados de julho, e o Castanhão está a poucos metros da sangria – mesmo com a liberação de um milhão de litros de água por segundo o mesmo açude recebe, no mesmo tempo, 1,4 milhão de litros de água do rio Figueiredo, gerando um saldo cumulativo de 400 metros cúbicos de água por segundo. O açude registrava ao meio dia de ontem a cota 105,37. Se atingir a cota de sangria, de 106 metros acima do nível do mar, tudo o que vier do rio Figueiredo, à montante, passará para o leito do rio Jaguaribe.
Agora quem reclama das águas do Castanhão é a população de Jaguaretama. A água represada no Castanhão já está chegando a algumas partes da sede do município.