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Não devemos ter ilusões quanto à crise, diz Renato Rabelo

A Comissão Política Nacional do PCdoB esteve reunida durante toda esta segunda-feira (11), em São Paulo, para fazer uma análise política da situação atual e também para dar novos passos na construção de seu projeto político para 2010.


 

O presidente do Partido Comunista do Brasil, Renato Rabelo, procurou desenhar um panorama da fase da crise financeira do capitalismo, onde ressalta o fato de que a recessão que se instalou nos Estados Unidos e na Europa será demorada e deverá apresentar grandes instabilidades. Citou como referência importante na avaliação das perspectivas desta crise a opinião de economistas como o Prêmio Nobel de economia Joseph Stiglitz: “pode ocorrer nos Estados Unidos o que aconteceu com o Japão nos últimos anos, que vive uma recessão prolongada”.


 


Não devemos ter ilusões, disse Renato. O processo recessivo americano está diretamente relacionado a fenômenos estruturais como déficits monumentais, desemprego em grande escala, queda na atividade industrial e grande desconfiança na capacidade de recuperação econômica. A Europa também enfrenta o problema do desemprego, como é o caso da Espanha, que apresenta o maior desemprego das últimas décadas, a Itália e a França com intensa movimentação social de oposição às políticas de seus governos nacionais. Em síntese, concluiu o presidente do PCdoB, não existe ainda uma arquitetura nova como alternativa à essa crise tão ou mais profunda quanto foi a de 1929/30 para o capitalismo.


 


Como um sinal positivo, nesta cena internacional, o presidente do PCdoB destacou a eleição e posse do novo presidente da África do Sul, Jacob Zuma, ex-dirigente do Partido Comunista da África do Sul e candidato do Congresso Nacional Africano (CNA). Zuma foi eleito com mais de 60% dos votos, apoiado também por Nelson Mandela (primeiro presidente eleito no pós-apartheid),  pelo Partido Comunista, pela principal central sindical do país, a COSATO, e pelos sindicatos e entidades populares. São grandes os desafios que os sul-africanos deverão enfrentar, problemas estruturais importantes como a alta concentração de renda, a criminalidade, a epidemia de aids e uma política econômica ainda marcada pela visão neoliberal.


 


No quadro econômico brasileiro, a reação à crise ainda vai exigir grandes esforços. O último trimestre de 2008 o PIB brasileiro apresentou uma queda de 3,6% e para o primeiro trimestre de 2009 se prevê uma queda um pouco menor, de 3% — ou seja, tecnicamente estamos numa recessão se consideramos o conceito corrente de que duas quedas seguidas no crescimento trimestral configuram um quadro recessivo. A retomada do crescimento se apresenta lenta, com a perspectiva de crescimento 0% no ano de 2009, segundo a maioria dos institutos de pesquisa e entidades como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Fiesp. Isso tudo apesar de todas as medidas anticíclicas tomadas pelo governo da República.


 


Sucessão 2010



Na esfera política, a gestão federal vem trabalhando firmemente com a hipótese de lançamento da atual Ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, como candidata da base governista, atingida recentemente por uma doença que acabou tendo grande repercussão política. Seus defensores procuram apresentá-la como uma mulher de fibra, que poderá enfrentar a doença e fazer a campanha necessária para que ela tenha projeção popular. O PMDB, por sua vez, vem forçando o governo Lula a lhe ceder maior espaço na coordenação política e em cargos que lhe dêem maior visibilidade, como se fosse o preço a pagar pelo apoio à candidata oficial. Seus objetivos vão desde a conquista de uma neutralidade do PMDB à candidatura de Dilma, até a aliança formal em uma chapa presidencial. O PT se esforça para centralizar suas alianças políticas regionais, para dar maior suporte caso Dilma Rousseff se firme como candidata ao final do processo.


 


 Os tucanos, por seu turno, fazem grande movimentação para unificar suas fileiras, construindo uma chapa de unidade entre o grupo do governador de São Paulo, José Serra e o do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, e fazendo articulações com o PMDB, tentando atraí-lo para seu campo político.


 


Em meio a essas movimentações, ganha corpo a campanha sistemática da mídia contra o exercício da política, contra os políticos e contra o legislativo brasileiro. Nas últimas semanas fez de tudo para colocar o Congresso Nacional de joelhos, jogando a população contra os políticos, generalizando denúncias de corrupção como se fossem intrínsecas à atividade dos deputados e senadores.


 


A avaliação feita durante a reunião da CPN é de que não vai parar por aí a tentativa de desmoralizar o Legislativo para que a própria mídia paute as questões políticas, segundo seus interesses intimamente ligados ao capital financeiro e ao projeto de retomada da orientação neoliberal.


 


Além desses temas, a CPN tratou do debate sobre a questão indígena, em andamento no partido.