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Obama não vai mais mostrar fotos de torturas

Em uma repentina mudança de atitude, o presidente dos Estados Unidos procura agora bloquear a publicação de mais de 40 fotografias que mostram militares americanos torturando prisioneiros no Iraque e no Afeganistão, alegando que a publicação das imagen

O Pentágono vem preparando a publicação dessas fotografias há alguns dias, cumprindo com uma lei federal sancionada a pedido da organização não governamental American Civil Liberties Union (ACLU). Previa-se que a publicação dessas fotografias seria feita em duas etapas, uma com 21 imagens e a outra com 23 imagens, sendo que mais adiante outras imagens seriam também reveladas. A data prevista inicialmente era 28 de maio.



Na tarde de terça-feira (13), entretanto, autoridades da Casa Branca indicaram que o presidente tinha ''segundas intenções'', principalmente por causa dos pedidos do secretário de Defesa, Robert Gates, e outros militares de alta patente, como o comandante das forças ocupantes no Iraque, o general Ray Odierno, seu antecessor, general David Petraeus, assim como o general David McKiernan, o oficial no comando dos americanos no Afeganistão. McKiernan foi removido do posto esta semana por Gates, por razões que não estariam ligadas às fotografias.



Os comandantes disseram a Obama que a publicação das fotografias poderia inflamar a opinião pública contra os Estados Unidos e seus soldados no mundo árabe e muçulmano — citando para isso o caso das fotografias das torturas feitas na prisão iraquiana de Abu Ghraib, que foram mostradas na primavera de 2004. ''Particularmente no Afeganistão, esta é a última coisa que eles precisam'', teria dito um oficial de alta patente do Pentágono.



Obama apoiava a revelação dessas fotografias há alguns meses, em seguida à publicação de quatro relatórios do Departamento de Justiça descrevendo em detalhes as ''técnicas avançadas de interrogatório'', um eufemismo para tortura, que eram permitidas para uso em terroristas suspeitos e que foram divulgadas no mês de abril deste ano.



Os auxiliares do presidente dizem que Obama queria ''ser o último a defender as ações mostradas'' nas imagens, tomadas entre 2003 e 2006, algumas delas em Abui Ghraib. Mas agora ele acredita que essas imagens ''fariam mais mal que o bem''. O próximo passo legal ainda não está claro, mas é possível que a questão termine na Suprema Corte.



As fotos deveriam ser divulgadas no dia 28 de maio, em resposta a uma ação legal iniciada pela ACLU há cinco anos. A organização disse estar ''surpresa e desapontada'' com a decisão de Obama e que vai continuar lutando pela publicação das imagens.  O ato é ''profundamente inconsistente com a promessa de transparência que o presidente Obama fez repetidas vezes'', diz a nota da ACLU.



A organização afirma que as polêmicas imagens mostrando tortura contra prisioneiros na prisão iraquiana de Abu Ghraib, divulgadas em 2004, não eram casos isolados, mas sim parte de uma política sistemática.



Por sua vez, o diretor-executivo da Anistia Internacional (AI) para os Estados Unidos, Larry Cox, acusa o governo americano de descumprir a obrigação imposta pelo juiz de publicar as imagens.



''Seres humanos sofreram torturas e viram seus direitos fundamentais renegados. O povo americano foi vítima de mentiras e os funcionários do governo que autorizaram e justificaram políticas abusivas receberam carta branca'', sublinha Cox.



''Agora, o governo Obama ignora sua obrigação legal de permitir a publicação dessas fotos de torturas, o que ajudaria os americanos a compreender a magnitude dos abusos cometidos em seu nome'', acrescentou o diretor da AI.



''Essa decisão não faz mais do que confirmar a necessidade urgente de realizar uma investigação que exponha e persiga judicialmente as torturas cometidas para que finalmente essa página possa ser virada'', concluiu Fox.


A divulgação das fotos era uma resposta à demanda apresentada pela ACLU em 2004, amparada na lei de liberdade de informação. Deveria incluir 44 novas imagens de prisões no Iraque e no Afeganistão em outros locais além da prisão de Abu Ghraib, onde soldados americanos foram flagrados praticando tortura contra prisioneiros.



Segundo a edição digital da rede MSNBC, o Pentágono publicará até duas mil fotografias, entre elas “várias dúzias” que recolhem abusos a detidos no campo de concentração de Guantânamo e em outros campos de concentração no Iraque e no Afeganistão.