Seminário Emergência Étnica debate a criação de centros de memória

Nos dias 15, 16 e 17 de maio, o Seminário Emergência Étnica: índios, negros e quilombolas construindo seus lugares de memória no Ceará reúne representantes dos povos indígenas, de comunidades quilombolas e do movimento negro urbano

A Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, por meio do Museu do Ceará e do Sistema Estadual de Museus do Ceará, em parceria com a ONG Instituto da Memória do Povo Cearense (Imopec), promovem nos dias 15, 16 e 17 de maio o Seminário Emergência Étnica: índios, negros e quilombolas construindo seus lugares de memória no Ceará, no CEU – Condomínio Espiritual Uirapuru. O evento reúne 120 representantes dos povos indígenas, de comunidades quilombolas e do movimento negro urbano de todo o Ceará para discutir a criação de memoriais/museus, além de potencializar e estruturar outros centros culturais já existentes. Neste encontro serão debatidas e deliberadas propostas de políticas públicas para a área de museu, memória e patrimônio referentes às comunidades étnicas no Ceará.



Na programação serão apresentadas experiências de construções coletivas de museus afro, indígenas e quilombolas noutras regiões do Brasil. Entre 2008 e 2009, o Sistema Estadual de Museus do Ceará, vinculado à Secult, realizou visitas técnicas visando traçar um diagnóstico da situação dos espaços de memória em comunidades indígenas no Ceará, com o objetivo de incentivar a criação de memoriais étnicos. No seminário, os grupos visitados serão convidados a apresentar os seus relatos de experiência e a sua avaliação dos diagnósticos realizados. A seguir, todos os participantes serão divididos em grupos de trabalho específicos para elaborarem propostas dirigidas ao Governo do Estado do Ceará, que por meio da Secretaria da Cultura, disponibilizou recursos financeiros para a construção e/ou reorganização dos memoriais indígenas, e negros/quilombolas no estado.



O Seminário Emergência Étnica abre espaço para a história de grupos sociais que até bem pouco tempo atrás, estavam silenciada na historiografia e, sobretudo, nos museus históricos tradicionais, entendidos como espaços propícios à legitimação de uma “história oficial” dos grupos dominantes. Quando eram mencionados nesses espaços museológicos, tanto índios como grupos negros e quilombolas eram, em geral, apresentados como elementos “subalternos”, “primitivos” ou “exóticos” da nação brasileira. A ampliação de espaços que contem “outras” histórias permitem a reflexão sobre as potencialidades de espaços museológicos como ferramentas de luta política paera estes grupos sociais. Em consonância com a “história social” e a “nova museologia”, este seminário pretende construir uma visão de museus enquanto espaços propícios para a difusão das trajetórias e memórias de luta e resistência dos grupos indígenas e negros/quilombolas.



Museus indígenas no Ceará


 


No início de 2009, graças a uma pesquisa etnográfica empreendida pelos técnicos do Sistema Estadual de Museus, foram diagnosticados três museus indígenas em funcionamento no Ceará: o Memorial Cacique-Perna-de-Pau, construído pelos Tapeba, em Caucaia; a Oca da Memória organizada pelos povos Kalabaça e Tabajara, em Poranga; e o Museu dos Kanindé, em Aratuba. Existem ainda alguns centros culturais considerados 'lugares de memória” de outros grupos (Potiguara, Pitaguari e Tremembé), cada qual com suas funções específicas de acordo com a organização de cada povo.



Partindo dessas considerações, o Seminário se propõe a realizar um diagnóstico participativo destes museus existentes, com a mediação de técnicos especializados, possibilitando uma reestruturação dos acervos, conforme as normas da museologia contemporânea e as demandas de cada grupo visitado. A partir dos diagnósticos, serão apresentadas as propostas de reorganização dos “lugares da memória” já existentes.



Aos diagnósticos serão acrescidas novas informações acerca da atual situação dos grupos étnicos (indígenas, negros e quilombolas) cearenses, que ainda não possuem memoriais. Essas informações serão reunidas em três livros, publicados com os títulos: “Na mata do sabiá: contribuições sobre a presença indígena no Ceará” (organização: Estevão Palitot), “Negros no Ceará: história, memória e etnicidade” (vários autores) e “Trocas Étnicas: observações sobre espacialidade e culturas indígenas, negras e populares” (Alex Ratts). Os livros serão lançados como subsídios para os debates do Seminário.



O Seminário “Emergência étnica: índios, negros e quilombolas construindo seus lugares de memória no Ceará” pretende, portanto, garantir o diálogo entre esses segmentos sociais e o Governo do Estado do Ceará, em todas as suas etapas, ampliando assim o debate democrático sobre o direito e o respeito às diferenças étnico-culturais.


 


Fonte: Assessoria de Comunicação da Secult