Simonal se gabava de ser 'dedo-duro', diz Paulo Vanzolini
O compositor Paulo Vanzolini afirmou à TV Estadão que o músico Wilson Simonal ''se gabava de ser dedo-duro'' da ditadura. ''Ele era o maior dedo-duro mesmo. Não só era como se gabava de ser. O depoimento foi dado em entrevista ao crítico Luiz Carlos Merte
Publicado 05/06/2009 16:38
“Na frente de muitos amigos, (Simonal) dizia: ‘Eu entreguei muita gente boa'”, acusa Vanzolini, que critica o documentário Simonal — Ninguém Sabe o Duro Que Dei, lançado recentemente. ''Essa recuperação que estão fazendo do Simonal é falsa. Ele era dedo-duro mesmo'', completou.
Pouco antes de morrer, aos 62 anos, doente, magoado e esquecido, Wilson Simonal (1938- 2000) dizia que ainda sonhava com o reconhecimento em vida por suas qualidades artísticas — mas já era tarde demais. O que ficou mais forte na memória do público que não o viu cantar foi a controvertida imagem de delator.
O contador Raphael Viviani foi o pivô do episódio que marcou a queda vertiginosa de Simonal — um ídolo que, no auge do sucesso, concorria em popularidade com Roberto Carlos. Acusado pelo cantor de tê-lo desfalcado, Viviani foi demitido e moveu uma ação trabalhista contra Simonal.
O troco veio em forma de tortura, praticada, entre outros, por um segurança do cantor (como ele mesmo revelou) ligado ao Dops (Departamento de Ordem Política e Social). Processado por mais esse episódio, Simonal levou como testemunha aquele mesmo policial, Mário Borges, que o apontou como colaborador do Dops. Depois disso, o ídolo desmoronou.
A bola de neve foi aumentando à medida que órgãos de imprensa, como O Pasquim, aceitaram tal informação e começaram uma caça às bruxas contra o artista. Simonal, então, perdeu prestígio e amigos, além de ter sido perseguido pelo resto da vida.
A surra dada em Viviani rendeu ao cantor, em 1972 uma condenação a mais de cinco anos de prisão, que cumpriu em liberdade. Foi somente em 2003 que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) o reabilitou simbolicamente, após uma investigação do caso, a pedido da família.
Um documento da Secretaria Nacional de Direitos Humanos revelou que não havia nenhuma prova contra Simonal. Mas já era tarde demais — o cantor morrera havia três anos.
Da Redação, com informações da Agência Estado