Artistas pedem que Alerj rejeite as OS na cultura

Em reunião que durou quatro horas, o Colégio de Líderes da Assembléia Legislativa do Rio recebeu um grupo de artistas contrários à proposta do Governo que entrega a gestão dos equipamentos culturais fluminenses para as Organizações Sociais (OS). No encont

O projeto de lei 1.975/09 foi duramente criticado por artistas e representantes de sindicatos trabalhistas, sobretudo ligados ao Theatro Municipal, que, ressaltam, corre o risco de perder seus quadros caso o projeto seja aprovado como foi enviado à Alerj.



Além de Picciani, 19 deputados se pronunciaram na reunião do dia 2. Todos, à exceção do líder do Governo, deputado Paulo Melo (PMDB), defenderam a retirada do projeto para envio de um texto “aprimorado” à Casa.



Segundo o deputado estadual Fernando Gusmão (PCdoB), o projeto das OS é prejudicial para a cultura e os funcionários do setor. “O projeto retira direitos dos trabalhadores e deixa a cultura sem memória. Hoje nós temos uma OS, amanhã pode ser outra. A cultura precisa ser uma política de estado. Acho que, inclusive, terá muita dificuldade de passar na Assembleia”.



Projeto tem “visão mercantilista da cultura”



Uma solução para os problemas do teatro sem necessidade da gestão pelas OS foi sugerida pelo presidente da Associação Brasileira dos Artistas Líricos (Abal), Fernando Bicudo. “É muito temerário entregar um tesouro nas mãos de uma criança”, ilustrou. “É preciso ouvir o corpo técnico e artístico antes de se diagnosticar o problema, mas acredito que a solução para este caso possa estar no aprimoramento dos estatutos, que foram feitos sem o aproveitamento dos corpos artísticos, sem dinamizar a produção”, argumentou, referindo-se ao estatuto da Fundação Theatro Municipal. “Uma comissão destinada a reformar o estatuto resolveria as questões de forma segura”, garantiu, defendendo a retirada do projeto. “Como é possível querer administrar uma instituição centenária com a maioria esmagadora dos seus funcionários contra?”, questionou. Bicudo também criticou o que chamou de visão mercantilista da cultura e citou as gestões públicas dos grandes teatros e casas de concerto na Europa como exemplo. “A arte erudita não é comercial. Por isso, em todo o mundo, ela é subsidiada pelo Estado. Com esta entrega às OS, corremos o risco de que seja priorizado o aluguel do teatro para atrações mais lucrativas”, acentuou.



O maestro Tim Rescala, membro diretor do sindicato dos músicos do Theatro Municipal, chamou a atenção para o alegado apoio da classe artística ao projeto do Governo. Segundo ele, o apoio é, em grande parte, fruto do desconhecimento do texto. “Além do fato de que esta ala de artistas é, em sua maioria, composta por produtores. O artista que vive de seu trabalho tem uma postura diferente e é contra a proposta, que não é nada do que dizem”, argumentou.



Rescala afirmou ter recebido um telefonema da secretária de Estado de Cultura, Adriana Rattes, que teria assumido que o projeto, como está, extingue os corpos estáveis do teatro (coro, balé e orquestra). Seu irmão, o membro do coro Zé Rescala, chamou a atenção para o fato de que o projeto não traz propostas concretas para o problema dos teatros e museus do estado, apenas uma solução “questionável”. A primeira-bailarina Ana Botafogo acentuou que a defesa que se fazia ali não era corporativista, mas da história da cultura fluminense.



Também estiveram presentes ao encontro o ator Francisco Cuoco, o presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Rio de Janeiro (Sated-Rj), Jorge Coutinho, dezenas de representantes da Fundação Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Janeiro (Funarj).