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Nouriel Roubini: Transformem as dívidas em ações

Economia mundial poderá despencar em 2010 ou 2011, sucumbindo à “tormenta final”. Por isso, o professor de Economia da Universidade de Nova York, Nouriel Roubini, posta-se a favor da redução da dívida das famílias e das empresas — o que pode ser feito,

Respondendo as perguntas por e-mail, o professor Roubini, ou Dr. Doom, como é chamado, pois previu a eclosão da atual crise, diz que a situação da economia mundial não se deve meramente à falta de liquidez e de confiança, mas principalmente à falta de garantias e créditos. De acordo com ele, a política econômica que os grandes países do planeta seguem é apenas parcialmente correta, e envolve o risco de levar ao agravamento da crise no futuro.


 


Levado a comparar a crise japonesa da década de 1990 com a atual, e o fato de que o Japão era e é um país fornecedor de crédito enquanto os EUA devem ao resto do mundo, Roubini questionou-se se é necessária uma política econômica diferente da até hoje adotada.  Roubini revelou que tanto no Japão quanto nos EUA os empréstimos de alto risco devem ser sumariamente eliminados, e não serem transferidos do setor privado ao setor público, caso queiramos evitar que o sistema econômico seja “entulhado e obstruído” por muitos anos ou décadas, como mostra a experiência japonesa.


 


“A ausência de uma verdadeira desmanipulação (redução de empréstimos) ou regulação adequada das dívidas levará à deflação e minará a capacidade das famílias de gastarem dinheiro, das empresas investirem e dos bancos e demais instituições de crédito emprestarem”, diz Roubini.


 


Para ele, “se a crise atual não se deve simplesmente à falta de liquidez e confiança, são necessários muito mais incentivos do que o fornecimento de “dinheiro fácil” e grande impulso fiscal para que a economia mundial retorne aos altos ritmos de crescimento”.


 


Roubini sustenta que a socialização dos prejuízos privados, no mesmo período em que as dívidas e a manipulação (endividamento) do setor privado se reduzem, significa aumento da manipulação no setor público, substituindo a desmanipulação do setor privado.


 


“Esta solução política cria um outro problema perigoso de dívida e confiabilidade (sol-vency) para o futuro, desta vez para os estados”, afirma Roubini, observando que existem riscos de mais uma crise financeira – mais grave – quando surgir o problema do refinanciamento das dívidas existentes, e “a capacidade de endividamento dos estados se limitar”.


 


Roubini destaca que “a interpretação errônea dos motivos da atual crise leva à uma solução parcialmente equivocada, que agrava os problemas da dívida das famílias, das empresas, das instituições de crédito e dos governos”.


 


“A correta solução do problema das dívidas excessivas em relação aos próprios capitais, para famílias e empresas, é a redução desta dívida e sua transformação em capital de ações. Isto pode acontecer até com as famílias, que reduziriam o valor nominal do empréstimo habitacional e proporcionariam às instituições de crédito que concederam os empréstimos a oportunidade de registrar lucro se o preço da casa aumentar no futuro, em forma de warrant”.


 


Aliás, Roubini diz que “quando transformamos as dívidas em capitais, estamos socializando os prejuízos privados e aumentando a dívida pública, elevando o grau de manipulação da economia”.


 


Pergunto a Roubini se está preocupado com uma eventual depreciação da dívida dos EUA pelos organismos internacionais de avaliação de risco, e se algo desse tipo teria consequências sobre o dólar por um espaço de tempo longo.


 


Ele responde que “a dívida pública norte-americana, comparada a de outros países-membros do G-8, é baixa, soma US$ 11,3 trilhões (há um mês), enquanto a da Alemanha corresponde hoje a 60% do PIB e a do Japão a 100%”.


 


Roubini evitou se posicionar sobre o assunto, encaminhando a pergunta à Moody”s, que considera que o maior risco para a capacidade de crédito dos EUA, no horizonte de médio prazo, é a perda da posição internacional do dólar e a falta de decisão no enfrentamento da crise econômica.


 


Medo da “tormenta final”


 


De acordo com Roubini, “os dados recentes mostram que estamos mais perto do “fundo do poço” da crise mundial que há seis meses. Mas, a queda continuará durante este ano. Paralelamente, a economia mundial crescerá em ritmo inferior por pelo menos mais dois anos, 2010 e 2011″.


 


Finalmente, Roubini, justificando o título de Dr. Doom, não excluiu a eventualidade de vivenciarmos uma recessão de tipo W, com a economia mundial despencando novamente no final de 2010 ou em 2011, sucumbindo à “tormenta final” dos preços de petróleo mais altos, maiores impostos e taxas de juros da dívida pública nominais e reais superiores.