De volta à fronteira, Zelaya pressiona e ameaça retorno
O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, voltou neste sábado (25), à cidade de Las Manos, do lado nicaraguense da fronteira, onde pretende acampar para pressionar pelo seu retorno a Manágua. Zelaya estava no município nicaraguense de Ocotal, na pr
Publicado 25/07/2009 21:14
O governante deposto — que é acompanhado pelo chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, seus colaboradores mais próximos e centenas de seguidores — chegou à fronteira com uma camisa branca, seu habitual chapéu de vaqueiro e um megafone na mão. Seu discurso voltou a denunciar Roberto Micheletti, que o substituiu na presidência através de um golpe de Estado.
“Fora Micheletti, fora Micheletti”, gritava Zelaya, eufórico, pelo megafone, enquanto era acompanhado por seus seguidores. Zelaya anunciou que montará acampamentos ainda neste sábado em Las Manos, à espera de seus compatriotas e de sua família, antes de retornar a Honduras.
“Vamos montar acampamentos hoje aqui, com água e comida. E aqui vamos estar hoje à tarde, hoje à noite, amanhã de manhã, esperando os amigos e compatriotas que vêm (de Honduras) — e eu estarei esperando minha família”, afirmou o presidente deposto. Além disso, ele afirmou que formarão um movimento, integrado por organizações sociais e populares, camponeses, indígenas, entre outros, que chegará a Las Manos, procedente de Honduras, para levá-lo de volta ao país.
“Nunca vamos aceitar um presidente imposto pelos militares. Não aceitamos um presidente nomeado pelo Parlamento”, continuou Zelaya, em referência a Roberto Micheletti, nomeado líder pelo Congresso numa manobra inconstitucional. O presidente deposto criticou ainda os militares de seu país que o impediram de ver sua família.
Zelaya também agradeceu ao presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, pela recepção. E repetiu que “Deus o acompanha na operação de volta”, provocando entre os seus simpatizantes gritos de “Zelaya, aguente, que o povo se levanta”.
Na sexta-feira, em um ato simbólico, Zelaya e simpatizantes pisaram brevemente em solo hondurenho, mas deixaram o país minutos mais tarde, ao serem confrontados por soldados. O governo golpista ampliou o toque de recolher na região, mas Zelaya não foi detido, como havia ameaçado Miocheletti.
O correspondente da BBC Stephen Gibbs, que testemunhou o episódio na sexta-feira, disse que os militares, aparentemente indecisos sobre como reagir, recuaram 20 metros à medida que Zelaya cruzava a linha que marca a divisa entre os dois países. O evento durou menos de 30 minutos. Zelaya posou ao lado de um sinal onde se lia “Bem-vindo a Honduras” e voltou para a Nicarágua.
“Não tenho medo, mas também não sou maluco”, disse o presidente deposto ao canal de TV venezuelano Telesur. “Poderia haver violência, e eu não quero ser a causa.” Zelaya — que foi deposto no dia 28 de junho — já havia tentado voltar ao país no dia 5 de julho, mas o avião que o trazia foi impedido pelos militares de pousar no aeroporto da capital hondurenha, Tegucigalpa.