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Tucano ignora números e recusa ingresso da Venezuela ao Mercosul

O senador tucano Tasso Jereissati (CE) ignorou todos os números que demonstram a importância da Venezuela no Mercosul e, alegando aspectos políticos, rejeitou a adesão do País ao bloco econômico na reunião da Comissão de Relações Exteriores do Senado, nesta quinta-feira (1o). Ao final da leitura do relatório, houve pedido de vistas coletivo, o que adiou a discussão e votação da matéria para o dia 29 de outubro.

O senador Inácio Arruda (PCdoB-CE), membro da Comissão, disse que a rejeição surpreendeu a todos que esperaram a aprovação, mesmo que com ressalvas, considerando os aspectos econômico, social e sobretudo político do Mercosul. O senador Pedro Simon (PMDB- RS) demonstrou indignação com o relatório, acusando Jereissati de ignorar toda a luta pela integração da América do Sul e a importância dessa união para os países da região.

Para Inácio, a indignação de Simon é justificável porque todos os senadores acreditavam que qualquer argumento seria usado como ressalva e não como rejeição. E acrescenta que “ao se negar acesso da Venezuela ao Mercosul, está-se bombardeando a posição brasileira no diálogo internacional.”

O tucano, apesar de apresentar questionamentos nos aspectos técnicos, baseou sua posição no ponto de vista ideológico, tentando aplicar uma derrota política ao presidente venezuelano, Hugo Chávez e ao próprio governo brasileiro. Para Inácio Arruda, ao tomar essa posição, o tucano defende sua ideologia e se posiciona contra os interesses do Brasil.

Quem é Bolívar?

A indignação do senador Pedro Simon gerou um início de bate-boca entre Jereissati e ele. O tucano acusou Simon de não ter lido o relatório, ao que Simon respondeu perguntando se ele (o autor) leu, porque ele tinha ouvido a leitura do documento. Simon disse a Jereissati que “nós não somos santos, temos nossos erros e equívocos até virar uma grande democracia”, recusando os argumentos de Jereissati com relação ao comportamento político de Chávez.

Simon lembrou o exemplo da União Européia, que tem países que não são democracias, “mas estão entrando e se integrando e dando exemplo fantástico.” Na opinião dele, o relatório ignorou a integração da América do Sul, que vem sendo perseguida pela América do Sul, que os Estados Unidos não querem porque querem continuar mandando no continente com a OEA (Organização dos Estados Americanos). “Os Estados Unidos não querem a América do Sul se entendendo, se respeitando, querem a OEA que eles mandam.”

Jereissati procurou se justificar dizendo que a intenção de Chávez era implantar uma entidade “bolivariana”, tropeçando na palavra, e destacando que nem sabia o sentido dele, ao que foi rebatido por Simon. O senador, ajudado por Inácio Arruda, disse que “bolivariano” vem do nome de Simon Bolívar, líder revolucionário venezuelano responsável pela independência de vários territórios da América Espanhola. Foi importantíssimo personagem na história da América Latina. A lição deixou o tucano “vermelho”.

Jereissati admitiu que “não há como ignorar a legitimidade das eleições havidas na Venezuela no que se refere ao presidente Hugo Chávez”, mas que tem dúvidas quanto ao futuro. Também reconheceu o “comércio pujante” da Venezuela com o Brasil, mas que seu voto estava baseado no fato de que Chavez é amigo de Lula e que tinha dúvidas de qual seria o relacionamento dele com outro governo brasileiro no poder.

Morte do Mercosul

O líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), disse que esta será uma decisão política e que o Senado deve escolher entre votar “olhando para trás ou para frente.” Ele vai apresentar voto em separado a favor da adesão, respondendo a todas as dúvidas apresentadas por Jereissati que, segundo ele, merecem respostas para acabar com as divergências.

Pedro Simon disse que rejeitar a Venezuela representa a morte do Mercosul e fez uma defesa apaixonada da integração do continente sul-americano: “Não aceito que essa comissão vote contra o Mercosul, o que importa é a integração, é nos darmos forças, nos darmos as mãos, até para garantir a democracia nos países,” acrescentando que “o Senado vai matar o Mercosul, porque mata se a Venezuela não entra.”

O senador Inácio Arruda lembrou que, ao longo de uma série de audiência públicas, quando foram ouvidas várias personalidades – diplomadas, empresários, juristas etc – foram ressaltados por todos os aspectos vantajosos para o Brasil da integração do continente que se fortalece com a adesão da Venezuela ao Mercosul. No ano passado, o Brasil exportou para o Mercosul, US$21,74 bilhões. Só para a Venezuela foram US$5,15 bilhões.

A proposta de adesão da Venezuela ao Mercosul já foi aprovada na Câmara dos Deputados e pelos demais membros do Mercosul.

De Brasília
Márcia Xavier