Para Bob Fernandes, jornalismo investigativo é termo redundante

O projeto Primeira Terça de novembro foi expecionalmente realizado nessa quarta-feira, 18, na sede do SJPMG (Avenida Álvares Cabral, 400). A mudança de data ocorreu devido à agenda do convidado, Bob Fernandes. Editor, repórter e colunista da revista virtual Terra Magazine, ele falou sobre vários assuntos em sua palestra, como reportagens especiais, novas mídias, informações no meio digital e a crise dos jornais impressos.

Nascido em Barretos (SP), em 1953, Roberto Fernandes de Souza se formou em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Foi um dos primeiros a denunciar o escândalo que culminaria na renúncia do presidente Fernando Collor e estava na Venezuela um mês antes do golpe que tentou derrubar o presidente Hugo Chávez. Durante o golpe, fez questão de retornar a Caracas, para acompanhar os acontecimentos de perto. Na ocasião, gravou mais de 50 horas de entrevista com Chávez, material que está sendo convertido num "retrato" do governante ainda a ser publicado.

Bob disse em sua palestra que, ao deixar a revista Carta Capital, quatro anos atrás, decidiu que não se tornaria um blogueiro, pois não gostaria de varar madrugadas atualizando informações como outros colegas que fizeram essa opção. Hoje, ele tem um contrato com o portal Terra e total autonomia para editar a revista virtual Terra Magazine. Ele admite não ter conhecimentos tecnológicos e confessa que sequer sabe dirigir um automóvel. No entanto, domina com eficiência a Internet, considerando-a "um meio extraordinário de comunicação" . "Não tenho nenhum preconceito contra as novas tecnologias e o seu uso pela imprensa. Se hoje os repórteres saem pouco às ruas é justamente porque se beneficiam do celular e da Internet", reconhece.

Sobre a crise dos jornais impressos, Bob afirma que falta criatividade e coragem para romperem com hábitos cultivados na relação com os poderosos. "Ou os jornais e revistas repensam a maneira de fazer jornalismo ou terão dificuldades para superar a crise", reconhece. No entanto, o caminho natural desses veículos, que seria a análise independente dos fatos, parece distante de acontecer por vários motivos: "Falta capacidade crítica para abordar os grandes temas. Isso resulta do tipo de relação entre a imprensa e o poder ao longo da história nacional". Por outro lado, "as redações perdem suas referências, na medida em que afastam da reportagem os jornalistas mais experientes".

Bob Fernantes disse que muitas coisas que poderiam ser feitas nos jornais não o são justamente porque os profissionais não querem fazer, ou por falta de vontade ou de condições. Ele admira as novas gerações de jornalistas pela facilidade com que lidam com as novas tecnologias, mas lamenta ver jovens mimados e individualistas, que não aceitam ser repreendidos, que pensam saber tudo e que passam por cima da experiência acumulada por profissionais veteranos. "Esse tipo de comportamento arrogante reflete nos resultados", ressaltou.

Perguntado sobre onde anda o jornalismo investigativo, o editor de Terra Magazine foi categórico: "Como o jornalismo virou uma grande suruba, precisam colocar uma placa dizendo, 'aqui se faz jornalismo investigativo'. No entanto, eu parto do princípio de que jornalismo é investigativo por natureza". Ou seja, se não é investigativo, certamente não é jornalismo.

Fonte: Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais