Martin Almada pede abertura de arquivos da Operação Condor

A Operação Condor – articulação entre organismos de repressão política de ditaduras militares de Argentina, Chile, Brasil, Uruguai, Paraguai e Bolívia – foi tema de palestra na OAB/RJ, no dia 26. O assunto foi abordado pelo jurista paraguaio Martin Almada, preso político do regime de Alfredo Stroessner, e responsável pela descoberta dos arquivos da Operação quando trabalhava como consultor para a América Latina na Organização das Nações Unidas (ONU).

Martin Almada investigou a operação por 15 anos, até que chegou aos documentos, armazenados no Ministério da Defesa do Paraguai. Agora, ele luta pela a abertura dos arquivos dos demais países, inclusive o Brasil.

"Enquanto as forças armadas não tornarem públicos seus erros e pedirem perdão por eles, a questão não estará encerrada", sentenciou Almada, ao dizer que a correção dos problemas deixados como legado pelos regimes militares depende da investigação dessas engrenagens que faziam com que esses regimes funcionassem.

Presente ao encontro, o presidente da OAB/RJ, Wadih Damous, destacou a importância de abrir as portas da Seccional para a discussão de um tema tão relevante no cenário político do Brasil e da América Latina. "Nosso plenário tem recebido a visita de grupos, movimentos, personalidades importante na defesa dos direitos humanos, uma temática que ainda não se encerrou em nosso país. A repressão no Cone Sul ainda não chegou ao fim e hoje, estamos mantendo esse debate aceso", afirmou Wadih. Além dele, também compareceu à palestra o advogado Modesto da Silveira.

Ao falar da realidade paraguaia, Almada afirmou que as conquências do movimento militar ainda estão presentes no país. "A Operação Condor deixou mais de 100 mil vítimas. Se a ONU analisar caso por caso, vai ver que 50% eram representantes da classe operária e o restante era composto de religiosos, jornalistas, estudantes, intelectuais, artistas, ou seja, a classe 'pensante' da América Latina. Imagine uma sociedade sem isso? É por isso que no Paraguai temos deputados tão medíocres e corruptos. O neoliberalismo chegou lá através da Operação Condor", lamentou.

A perseguição dos militares a Almada foi iniciada por conta dos livros em que ele se baseou para escrever sua tese na universidade. Por conta de suas inclinações acadêmicas, ele foi considerado subversivo e tornou-se um alvo do regime. Os autores em questão eram o educador Paulo Freire e o ex-presidente da república Fernando Henrique Cardoso. "Fernando Henrique foi um grande traidor, que vendeu as empresas, vendeu o Brasil. Mas, na universidade, nós realmente acreditávamos que ele era um grande revolucionário. E foi nele e em Freire que me inspirei", explicou ele.

Ao fazer um relato sobre sua trajetória, o advogado revelou que, durante o mês em que esteve preso, passou por diversas sessões de tortura das quais participaram militares chilenos, brasileiros e argentinos. Para ele, o episódio mais dramático foi, sem dúvida, o que resultou na morte de sua esposa. Emocionado, ele lembrou o dia em que ela sofreu um ataque cardíaco ao receber em casa, após a prisão do marido, suas roupas ensanguentadas, acompanhadas de uma agulha de sapateiro (que teria sido usada para feri-lo). Na prisão, a informação que Almada recebeu foi a de que sua mulher havia cometido suicídio.

Da redação da Tribuna do Advogado