Sem categoria

Quem conduz aliança com PMDB é o PT e não Lula, diz Berzoini

O PMDB ainda está melindrado com a declaração do presidente Lula, que pediu uma lista com três nomes de candidatos à vice-presidência, parte que cabe a eles enquanto sócios na coligação para eleger a ministra petista Dilma Rousseff (Casa Civil) no ano que vem. O intuito é mostrar que também mandam nessa coligação com o PT.

O líder peemedebista na Câmara e negociador da aliança, Henrique Eduardo Alves (RN), já se mostrou desgostoso. O presidente da mesma Casa e candidato virtual a vice de Dilma, Michel Temer (SP), sinalizou apoio à candidatura do correligionário paranaense Roberto Requião ao Planalto.

Enquanto isso, o PT segue a cartilha: "É óbvio que estamos minimizando o episódio", afirma o deputado Ricardo Berzoini (SP), presidente da legenda. Em entrevista a Terra Magazine, ele segue à risca o que deve ser feito pelos petistas para tentar afagar os ânimos dos peemedebistas. Mas não nega que a declaração de Lula tenha sido "descuidada", ou uma "incorreção". "A relação entre PT e PMDB é muito maior do que uma eventual incorreção em uma entrevista".

– Quem conduz essa conversa é o PT e não o presidente Lula. Ele não se reúne semanalmente com o PMDB para tratar desse assunto. Então, entendemos como uma declaração isolada, talvez um pouco descuidada de Lula e que gerou um mal estar. Como se supera um mal estar? Reafirmando a posição do PT – explica Ricardo Berzoini.

O presidente do PT nega que o episódio desautorize Lula a falar sobre as alianças para o ano que vem. Contudo, ressalva que ele é "presidente da República e, justamente por não acompanhar o dia-a-dia do partido, muitas vezes pode ser impreciso numa fala". "Todos nós podemos dar declarações infelizes, qualquer um de nós já deu várias", acrescenta.

– Estamos fazendo algo que muitos partidos não fazem. Estamos dizendo que o presidente não tem razão (Risos). Nesse caso, Lula não tem razão.

Leia abaixo a íntegra da entrevista:

Terra Magazine – O senhor já declarou que essa não era a posição do partido, mas, mesmo assim, Temer sinalizou que apoia a candidatura do governador paranaense Roberto Requião (PMDB) à Presidência da República. O senhor acha que estão realmente abalados com a sugestão do presidente Lula? Causa estranheza a reação?
Ricardo Berzoini – Claro que a declaração do presidente Lula é uma declaração que, na minha opinião, não tem a ver com qualquer tipo de restrição. Aconteceu no meio de uma entrevista, algo que poderia até ser razoável, em um outro momento. Inclusive, o declarado não combina com aquilo que já tínhamos combinado com o PMDB. Eu respeito essas declarações do PMDB, mas obviamente, do nosso ponto de vista, esse episódio não muda a nossa relação com eles. Eu desejo que, depois de refletirem sobre isso, entendam que foi um fato isolado e não um problema de relação política entre os partidos.

O senhor acredita que eles estejam realmente abalados com essa sugestão do presidente Lula?
Conversei, por telefone, com Temer e com Henrique Eduardo Alves. Conversei também com pessoas do governo, mas não com Lula por estar em viagem. Todos reforçam que esta era uma situação que deveria ser esclarecida ao PMDB. Do meu ponto de vista partidário, está superado. Não há ninguém que manifeste esse desejo e sustente a lista tríplice. Agora, acho que a nossa relação é muito maior do que isso: Eles são presença forte nos ministérios, temos uma série de assuntos comuns aos dois partidos, tratados na Câmara, Senado e governo. Temos aliança em vários Estados e cidades importantes. Portanto, a relação entre PT e PMDB é muito maior do que uma eventual incorreção em uma entrevista.

O que poderia reverter essa situação?
O que podemos fazer é assegurar que não é essa a posição do PT. Nosso protocolo é claro – Temer e eu assinamos um. Esse protocolo diz, claramente, que o PT indica a candidatura à presidência e o PMDB à vice-presidência.

Cancelaram a reunião desta quarta, por exemplo. Isso é grave?
Isso era mais uma reunião entre nós. Claro que era importante ser realizada.

Era a última do ano, né?
Em função do calendário seria a última do ano. Do meu ponto de vista, não vejo nenhum problema em cancelar, ficando claro que, da parte do PT, nós poderíamos não só manter, mas também reagendar a reunião. Sem problema algum, da parte petista. Como nós manifestamos claramente que não tem essa lista, obviamente eles precisam, nessa questão partidária, ter certeza de que isso não é verdade.

Como humanos, todos estamos sujeitos a equívocos. Essa fala do Lula, mesmo que não intencionalmente, causou um problema político com o PMDB. Dizer que não é a posição do partido é colocar panos quentes? Seria o mais prudente neste momento?
Numa relação madura, ninguém tem que acalmar ninguém. O PMDB é um partido importante, que tem uma dinâmica interna e os seus dirigentes sabem conduzir isso. O PT também é um partido importante. Ou seja, é uma relação equilibrada, não há, entre nós, uma relação de blefe. Nós já nos pronunciamos para que não fique dúvida em relação à palavra do PT. Quem conduz essa conversa é o PT e não o presidente Lula. Ele não se reúne semanalmente com o PMDB para tratar desse assunto. Então, entendemos como uma declaração isolada, talvez um pouco descuidada de Lula e que gerou um mal estar. Como se supera um mal estar? Reafirmando a posição do PT.

Mas é difícil engolir esse "descuido", tendo em vista que, até então, Lula era a voz oficial da aliança, ele é quem escolheu a candidata, ele que trabalha da divulgação da imagem dela enquanto sua candidata…
Lula é uma voz importante, evidentemente. Mas ele tem muita coisa para cuidar. E tem mais, a responsabilidade de tratar das alianças é do partido. Tanto é que o presidente Lula não assinou o protocolo, mas eu, Temer e (o prefeito de Goiânia) Iris (Rezende). A responsabilidade pelo cumprimento daquilo que assumimos, enquanto tarefa partidária dos dois maiores partidos da coalizão do governo, é minha e da direção do PMDB. Por isso que reafirmo tanto que, da nossa parte, não mudou nada. E o presidente Lula também já disse para interlocutores que não mudou nada e que aquela fala dele não tinha o sentido de indicar um método. Do ponto de vista político, é óbvio que estamos minimizando o episódio. O PMDB faz parte do governo, temos várias alianças. Essa declaração é pequena perto do que temos de compromissos comuns.

O senhor não tem receio de que Lula seja, então, desautorizado publicamente a falar sobre o tema?
Não, não. É que Lula é presidente da República e, justamente por não acompanhar o dia-a-dia do partido, muitas vezes pode ser impreciso numa fala. Todos nós podemos dar declarações infelizes, qualquer um de nós já deu várias. Então, não há razão para fazermos disso um grande problema. Seria, se fosse uma decisão do PT. Mas estamos fazendo algo que muitos partidos não fazem. Estamos dizendo que o presidente não tem razão (Risos). Nesse caso, Lula não tem razão. Nós assumimos um compromisso e uma coisa que eu valorizo muito na política é a palavra. O presidente Lula não é obrigado a saber dos detalhes do compromisso porque ele não participou dos detalhes da redação desse protocolo. Da nossa parte, então, não tem problema nenhum, nem com Lula, nem com o PMDB.

Mudando de "ala" peemedebista, o senhor viu que Orestes Quércia (PMDB-SP) venceu novamente e continua no comando do diretório paulista?
Previsível, né?(Risos). Claro, claro…

PMDB de São Paulo é caso perdido para angariar mais apoio a candidatura de Dilma?
Veja bem, Quércia, há muito tempo, controla a estrutura partidária. Temer é posição minoritária. Então, não é novidade. A outra coisa é a base do PMDB paulista, que tem, sim, uma vinculação muito forte com a realidade da população e que vê o trabalho do PT. Esses não votam na convenção. Tem muita coisa para ser disputada em termos de opinião no PMDB. Mas a instância do diretório estadual ela é comandada por Quércia desde o tempo em que o PSDB deixou o PMDB para se fundar partido.

Qual será o balanço petista de 2009?
No final de 2008, fizemos uma reunião do diretório nacional e apontamos que o principal desafio para o PT e governo era a superação da crise econômica. Naquela época tínhamos muitas preocupações com o alcance da crise no Brasil, inclusive apresentamos algumas sugestões ao governo e ele incorporou 100% delas. Para nós, o balanço é positivo. Estamos fechando o ano com geração de 1 milhão de empregos, com uma recuperação da parte da economia não vinculada à exportação. Internamente, realizamos a maior eleição da nossa história, elegemos um presidente, que é o Dutra, com 58% dos votos. E renovamos o diretório nacional com uma disputa respeitosa. O PT está com mais filiados e mais organizado internamente. Pessoalmente, estou satisfeito com 2009, foi um ano de bons resultados.

E o senhor? O que será em 2010?
Minha grande tarefa será fazer um bom último ano de deputado federal, disputar a eleição, também como deputado e ajudar, modestamente, como parlamentar e filiado, nas campanhas.

Fonte: Terra Magazine