Haiti: Um exemplo cruel da ação do imperialismo
A imposição dos interesses dos EUA criou o cenário que agravou as conseqüências da catástrofe
Publicado 26/02/2010 15:44 | Editado 13/12/2019 03:30

O terremoto que destruiu Porto Príncipe, capital do Haiti, em 12 de janeiro de 2010, com mais de 150 mil mortos e mais de três milhões de desabrigados, foi um desastre natural agravado pelas chagas sociais provocadas pelo imperialismo.
O Haiti sofreu, no século XX, várias intervenções diretas dos EUA: ocupação militar desde 1915, apoio à ditadura de Papa Doc e seu filho Baby Doc, de 1957 a 1986, e depois as reformas neoliberais impostas pelo FMI, Banco Mundial e governo dos EUA.
![]() |
… vasculham… |
![]() |
… os escombros da capital |
Assim foi desenhado o cenário da catástrofe: empobrecimento e precarização das condições de vida do povo que, hoje, tem cerca de 80% vivendo abaixo da linha da pobreza. Os empregos prometidos nunca vieram, e as mudanças no campo arruinaram os pequenos agricultores e provocaram o êxodo rural que encheu de favelas a periferia da capital. O resultado: a pobreza extrema, expressa no 146º lugar (um dos últimos) no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU.
Agora, numa disputa aberta de poder, o governo de Washington faz de tudo para abocanhar o controle da ilha. O que ocorre no Haiti é o exemplo cruel da ação do imperialismo e de seus objetivos militaristas e agressivos contra os povos.
O jornalista Kim Ives, editor do periódico Haiti Liberte e, há alguns anos, morador do país, denunciou – em uma entrevista à publicação progressista Democracy Now!, de Nova York, o “terremoto político e econômico” que ocorreu antes no país, imposto pelos governos dos EUA.
O centro desse terremoto foram os dois golpes de Estado de 1991-1994 e de 2004, com apoio dos EUA, para afastar do poder o governo nacionalista do padre presidente Jean Bertrand Aristide. Ele derrotou o esquema eleitoral apoiado pelos EUA e, ao tomar posse em 7 de fevereiro de 1991, declarou a segunda independência do Haiti. Acabou deposto e exilado.
A orientação nacionalista de Aristide foi substituída por governos submissos aos EUA, que promoveram não só a privatização de empresas estatais, mas facilitaram a especulação com gêneros alimentícios. Especialmente o arroz, que vinha dos EUA com forte subsídio. Os pequenos agricultores haitianos, que o produziam, não aguentaram a concorrência e faliram, vindo engrossar a população pobre das favelas de Porto Príncipe.
As estatais haitianas foram vendidas a investidores dos EUA e estrangeiros, denunciou Ives. Entre elas a Minoterie d’Haiti e a Ciment d’Haiti, que produziam farinha de trigo e cimento. “A respeito do trigo, agora temos uma população faminta”, explicou o jornalista. A estatal foi vendida para uma multinacional e, logo depois, fechada. “E agora o Haiti não tem um moinho de trigo, nem estatal nem privado”. É preciso importá-lo, “e boa parte vem dos EUA”.
Com a telefonia aconteceu a mesma coisa. A Teleco, estatal, foi privatizada uma semana antes do terremoto. Antes de privatizá-la, porém, ela foi sucateada, como um sindicalista do setor de telecomunicações relatou a Ives. Ele mostrou ao jornalista um galpão com equipamentos modernos, mas que não podia ser usado. “Estão sucateando a companhia estatal para privatizá-la”, denunciou. Hoje, as comunicações do país são controladas por três companhias estrangeiras de telefonia celular: Digicel, Voila e Haitel.