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A organização popular diante do caos

Como os moradores da periferia de Porto Príncipe enfrentam suas enormes dificuldades

Kim Ivez se revolta contra a mídia e os governos estrangeiros que, diante do desastre e da pobreza dos haitianos, insistem em propagar a “incapacidade” dos haitianos para enfrentar o caos. “Vemos em todas as partes do Haiti que a população se organiza em comitês populares para limpar, tirar os cadáveres dos escombros, construir acampamentos de refugiados, estabelecer segurança para esse acampamentos. Esta é uma população que é autossuficiente, e tem sido já faz muitos anos”. Uma semana depois do terremoto, no dia 19, ele viu em frente ao hospital geral, em Porto Príncipe, cenas que mostram o comportamento inadequado das tropas dos EUA no país. “As pessoas entravam e saiam do hospital para levar comida aos seus ou porque precisavam de assistência, e um grupo de soldados da brigada 82 aerotransportada, colocados em frente ao hospital, gritava em inglês para a multidão. Não sabiam o que faziam, e aumentavam o caos ao invés de diminuí-lo. Teria sido cômico se não fosse trágico”.

Uma distribuição ordeira e equitativa
Em outra noite, ele viu como uma comunidade de Porto Príncipe organizava, ela própria, a distribuição de alimentos. “Um carregamento de alimentos chegou durante a noite sem aviso prévio. Podia ter ocorrido uma batalha campal”. Entretanto, rapidamente a organização popular local mobilizou seus militantes. “Formaram uma fila com as 600 pessoas acampadas no campo de futebol atrás da casa, que também é um hospital, e repartiram a comida de forma ordeira e equitativa. Foram completamente capazes. Não precisam dos marines. Não precisam da ONU. Não precisam de nenhuma dessas coisas que a mídia, Hillary Clinton e as autoridades estrangeiras nos asseguram que precisam. Essas são coisas que o povo haitiano pode fazer por si mesmo e esta fazendo para si mesmo”.