Emoção e homenagens no sepultamento de Magno Cruz
Publicado 05/08/2010 18:41 | Editado 04/03/2020 16:47
Um guerreiro. Essa foi a frase usada para definir a pessoa do engenheiro e militante do movimento negro Magno Cruz, durante o seu sepultamento no final da manhã de ontem, no Cemitério Parque da Saudade, no bairro do Vinhais. Centenas de pessoas saíram em cortejo, da casa de Magno, no bairro do Cohaserma, e seguiram até o cemitério embaladas pelos tambores e afoxés do Bloco Afro Akomabu.
Magno Cruz, 59 anos, ex-presidente do Centro de Cultura Negra do Maranhão (CCN-MA), morreu na manhã de terça-feira, 3, no Hospital UDI, no Jaracati, onde estava internado fazia duas semanas. Ele sofria de um câncer no pâncreas e havia se submetido a uma cirurgia, mas não resistiu às complicações pós-operatórias.
Segundo Marcos Cruz, irmão de Magno, ele sempre foi um bom pai, bom filho e um irmão maravilhoso. Marcos Cruz afirmou que além dos familiares, as comunidades às quais o engenheiro representava também estavam sentido a perda, considerada irreparável. “Para ser líder não precisa ter poder, basta estar a serviço de sua entidade. Além da saudade, as lembranças de um homem honesto, íntegro e trabalhador, servirão de testemunho de vida para os filhos e para aqueles que sempre o acompanharam. Meu irmão lutava pela dignidade da pessoa humana e pelo resgate constante da cidadania, porque ele, sim, era humanista de fato e de direito. Magno nunca se importou com o poder, mas com o ser humano em si”, declarou.
Pai de três filhos, Magno Cruz, além de ex-presidente do CCN, foi um dos fundadores do Sindicato dos Urbanitários do Maranhão, participou da fundação da Rádio Comunitária Conquista, e foi um ativo militante da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH). Ele fez parte do Partido dos Trabalhadores (PT) e chegou a se candidatar, por duas vezes, ao cargo de vereador pelo município de São Luís.
Sustentáculo – De acordo com Silvana Barbosa, militante da Rádio Comunitária Conquista, Magno era o sustentáculo da emissora e difusor da luta pela igualdade social e racial. Ela afirmou que perdê-lo nesse momento foi algo inacreditável, uma vez que nenhum de seus amigos e companheiros de luta conseguiram absorver e assimilar o fato. Silvana explicou que o movimento se fragiliza, afinal perdeu seu “homem de frente”, aquele que tinha a capacidade de sensibilizar as pessoas e que tinha como compromisso de vida transformar a sociedade e lutar pela independência política dos movimentos sociais.
Para Ana Amélia Bandeira, uma das coordenadoras do CCN, Magno Cruz deixa um legado de liderança com mais de 30 anos à frente do movimento negro. Ela garantiu que a partir deste momento o compromisso dos que o acompanhavam é continuar as lutas junto à sociedade e à juventude. “Magno nunca se deixou abater e olha que as tribulações foram muitas. Sempre se dedicou de corpo e alma pelas nossas lutas, e foi o responsável pelos nossos espaços na mídia, que antes eram muito restritos. No CCN fica uma lacuna enorme e junto com ela uma saudade eterna”, declarou.
O diretor de Operações da Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema), Cristovam Dervalmar, lamentou a morte do colega de trabalho e afirmou que além do sentimento da perda, Magno Cruz vai deixar um grande vazio junto aos movimentos sociais e à classe sindical, uma vez que trabalhava pelo resgate social e racial. O diretor ressaltou que o Estado também perdeu um grande homem e um excelente profissional pela sua representação efetiva junto às comunidades.
Para o advogado da Sociedade Maranhense dos Direitos Humanos (SMDH), Luís Antônio Pedrosa, a perda é simplesmente irreparável e o que fica agora é o vazio junto aos movimentos sociais, que também era um foco de luta e trabalho do engenheiro. Pedrosa afirmou que não será possível encontrar alguém com o mesmo perfil de Magno Cruz, uma vez que deixou uma participação política no Estado impecável, como nenhuma outra liderança atuou.
O sepultamento de Magno Cruz foi marcado por homenagens, discursos emocionados, músicas, toadas de bumba meu boi e pelo som dos tambores do Bloco Afro Akomabu. Após o choro incontido de familiares e amigos do engenheiro, o corpo dele desceu ao túmulo sob flores e aplausos.
Fonte: Jornal Pequeno