Falta de dinheiro e desentendimentos abalam campanha tucana
“Em casa que não tem pão…”. O velho ditado cai feito luva no atual momento da campanha tucana e amplia a irritação do presidenciável do PSDB, José Serra, normalmente conhecido por seu temperamento ácido. A queda no volume de doações aos cofres da aliança direitista tem mexido com os nervos dos aliados em Estados importantes para a sobrevivência de mais uma tentativa do ex-governador paulista de chegar ao Palácio do Planalto.
Publicado 11/08/2010 19:24
Tanto o DEM quanto o PPS têm demontrado níveis de insatisfação com os rumos da campanha incompatíveis com o discurso de união apresentado na convenção do PSDB, há quase dois meses.
Presidente tucano, Sérgio Guerra acredita que há “um certo exagero” nas reclamações dos aliados. Ele aponta problemas na composição política da aliança da direita apenas no Pará, onde Valéria Pires Franco (DEM) não teve a legenda ao Senado. Ainda assim, os tucanos teriam sacrificado aliados em Santa Catarina, na Paraíba, no Espírito Santo, em Sergipe e no Rio Grande do Norte em favor dos democratas.
– Chegamos a fazer uma intervenção no Rio Grande do Norte para colocar um aliado que favorecesse o acordo com o DEM – lembra Guerra, em conversa com jornalistas, nesta quarta-feira.
Candidato ao Senado pelo Paraná, Gustavo Fruet (PSDB) também admite um ambiente tenso entre os aliados, principalmente pela questão financeira.
– Todos nós enfrentamos problemas, até porque a arrecadação está muito aquém do previsto, mas não adianta sair reclamando. Em campanha é difícil manter a sintonia o tempo todo – conforma-se.
Não bastasse a questão financeira, o centralismo do candidato tucano sobre a agenda segue como outro fator de insatisfação dos aliados. O conselho político montado por Serra, no início da campanha, mostra-se ineficaz para gerir a crise que se amplia à medida que a adversária petista cresce nas pesquisas de opinião. Integrado pelo próprio candidato e os presidentes nacionais das legendas aliadas (PSDB, DEM, PPS, PTB), além do ex-governador mineiro Aécio e do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, o colegiado não se coordena o suficiente para controlar o incêndio na campanha tucana.
Guerra, em visita a Belo Horizonte na noite passada, viu o desempenho da candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, numa noite fria, em pleno meio de semana, levou mais de 7 mil pessoas a um comício na capital mineira. O motivo da viagem de Guerra a Minas Gerais, no entanto, era outro. Ele foi pedir, pessoalmente, que o ex-governador mineiro interceda junto ao presidente nacional do DEM, o deputado Rodrigo Maia (RJ), que rompeu relações com Serra.
De passagem pelo Rio, onde presidenciável tucano grava entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, aliados tentaram ao máximo agendar uma conversa entre ele e o filho do ex-prefeito Cesar Maia, mas o próprio Rodrigo, em conversa com jornalistas, disse que seria perda de tempo.
Problemas generalizados
Avoluma-se o número de Estados brasileiros onde a campanha do tucano segue ladeira abaixo, com um aumento progressivo da tensão na aliança da direita. Na Bahia, o deputado federal Jutahy Júnior (PSDB) sempre foi oposição aos aliados do ex-senador Antônio Carlos Magalhães, líder histórico do antigo PFL, atual DEM. A morte do senador apazigou as desavenças, mas não o bastante para o parlamentar subir no palanque de um dos herdeiros do carlismo. O candidato a governador Paulo Souto (DEM) reclama da falta de empenho de Jutahy.
No Pará, a vice-presidente do DEM, Valéria Pires Franco tinha pretensões reais de concorrer ao Senado. Sonhava ainda com a vice de José Serra (PSDB). Por conta das composições regionais e nacionais, os dois planos acabaram naufragando e ela, segundo observadores, não tem se mobilizado em favor do candidato tucano.
Na Paraíba, ainda que o PSDB esteja fechado com o DEM pela candidatura de Ricardo Coutinho (PSB) no pleito local, o senador tucano Cícero Lucena tem feito movimentos claro na direção de José Maranhão (PMDB), aliado de Dilma. Oficialmente, o parlamentar mantém o apoio ao socialista, mas liberou o suplente, o empresário João Rafael de Aguiar, para embarcar na campanha de Maranhão.
A situação no Rio Grande do Sul é ainda mais grave. A governadora Yeda Crusius se viu em situação difícil, durante os quatro anos de seu mandato, com o vice Paulo Feijó, do DEM, que liderou um movimento de cassação da titular. A batalha desgastou a relação entre os dois partidos até o rompimento oficial da aliança. No Estado gaúcho, Serra não conta com a presença de nenhum líder expressivo de ambas as legendas.
Em Minas, onde o candidato do PSDB ao Senado é o mais bem avaliado pelos eleitores, segundo as últimas pesquisas, a transferência de votos para o político paulista não tem ocorrido da forma esperada pela coordenação da campanha nacional. Admiradores do ex-governador mineiro e importantes cabos eleitorais nos municípios do segundo mais importante colégio eleitoral brasileiro simplesmente se recusam a distribuir material de campanha que contenham a fotografia de Serra. O fato levou os coordenadores nacionais do PSDB a montar comitês isolados nas regiões mais importantes, na tentativa de romper o cerco ao líder tucano.
No Rio de Janeiro, tucanos e democratas fluminenses não se bicam há muito tempo. A escolha do deputado Índio da Costa (DEM-RJ) como vice de José Serra fez políticos locais do PSDB, como Márcio Fortes e Andrea Gouvêa Vieira, baterem forte, publicamente, no partido. Para complicar ainda mais a história, os tucanos uniram-se ao candidato do Partido Verde ao governo fluminense, Fernando Gabeira, em uma tentativa frustrada de barrar o nome de Cesar Maia (DEM) ao Senado. Devido à total falta de entrosamente entre as legendas, falta desde militantes até santinhos, tanto na campanha presidencial quanto na tentativa do ex-guerrilheiro Gabeira chegar ao governo do Rio.
Fonte: Correio do Brasil