Sem categoria

Isolado, Kassab pensa em largar Serra e ir para o PMDB pró-Lula

O resultado das eleições 2010 será decisivo para o futuro político do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Diante da perspectiva de seu isolamento dentro do DEM com a eventual vitória do inimigo tucano Geraldo Alckmin ao governo paulista, Kassab já começa a cogitar uma transição para a base aliada do governo Lula — e, por tabela, para a provável gestão de Dilma Rousseff na Presidência.

Em caso de vitória de Dilma, a situação do prefeito ficaria ainda mais difícil, uma vez que a perda de poder de José Serra levaria Kassab a ser oposição em São Paulo. Ele tem ainda problemas dentro do DEM, onde disputa poder com o clã dos Maia — o presidente da legenda, deputado federal Rodrigo Maia e seu pai, o ex-prefeito do Rio Cesar Maia.

Em meio ao iminente risco de isolamento, a hipótese mais provável é que o prefeito migre para o PMDB e integre a ala do partido que apoia Dilma. Neste caso, surge o problema da perda de mandato — o que exigiria negociação para a liberação dos eleitos em 2010 pelo DEM.

Entusiastas da aproximação PMDB-Kassab sustentam que a iniciativa é benéfica para ambas as partes. Dono do maior estoque de votos do DEM, Kassab daria ao PMDB um dos poucos atributos que lhe faltam: densidade eleitoral no principal estado do país. Já o PMDB representaria para Kassab uma alternativa tanto à decadência do DEM quanto à perspectiva de entronização de Alckmin no PSDB paulista.

Outro fator que deve estimular a mudança de Kassab é a iminente refiliação de Luiz Carlos Santos, hoje no DEM, ao PMDB. Essa força-tarefa é liderada pelo presidente nacional da legenda e candidato a vice na chapa de Dilma, Michel Temer. Se Luiz Carlos se filiar, é mais do que provável que Kassab comece também a pensar – com mais seriedade – em seguir o mesmo caminho.

O retorno do parlamentar ao PMDB passa pela poderosa a articulação para aprovar na Câmara a emenda Luiz Carlos Santos (nº157/2003), que convoca Assembleia de Revisão Constitucional. À frente dessa movimentação está o próprio autor da proposta, que foi ministro da Articulação Política do governo FHC e ex-deputado federal.

Há duas semanas, Luiz Carlos jantou, em São Paulo, com um poderoso peemedebista — que garantiu total empenho de Temer para aprovar a proposta de emenda. Uma vez concretizada a aprovação, Temer consegue o apoio do ex-ministro para engordar sua ala no PMDB do estado contra o grupo de Orestes Quércia. O próprio Luiz Carlos afirma voltaria ao partido, onde esteve até 1996.

Novo partido?

Uma segunda possibilidade para Kassab está na criação de um partido para atrair dissidentes de DEM, PSDB, PPS e PTB — que apoiam a esfacelada candidatura presidencial de Serra, tutor de Kassab. Numa nova legenda, Kassab traria consigo uma bancada de dez deputados federais e dez estaduais que espera eleger neste ano pelo DEM em São Paulo, poderia agregar também lideranças descontentes de partidos da oposição federal e ainda evitaria a perda de mandato dos candidatos para o DEM.

Existe ainda a alternativa de fusão do DEM com PR, partido originado do extinto PL, do qual Kassab foi filiado. O PR, contudo, daria pouco espaço para Kassab exercer a liderança que tem em São Paulo no DEM.

Na cúpula do DEM, a leitura é que Kassab deve deixar qualquer decisão política para depois das eleições. O partido prepara-se para "sair da posição de parceiro secundário do PSDB", como afirma um dirigente do partido. A possibilidade de associar-se a outro partido, criando uma nova legenda, é uma das hipóteses cogitadas.

O futuro político de Kassab é incerto. O prefeito foi reeleito no cargo em 2008 e não poderá concorrer novamente ao cargo em 2012. Com o desgaste do grupo de Serra no PSDB, Kassab não deverá ter apoio dos tucanos para concorrer ao governo ou ao Senado em 2014. O mais provável, segundo correligionários, é que ele dispute uma vaga como deputado federal.

A relação entre Kassab e Alckmin desgastou-se na disputa municipal de 2008. Serra apoiou Kassab e o diretório do PSDB de São Paulo se dividiu. No programa eleitoral, Alckmin chegou a chamar o adversário de dissimulado e foi derrotado no primeiro turno. Kassab é um político de bastidores. Eleito em 2004 como vice de Serra na Prefeitura de São Paulo, assumiu o governo um ano e três meses depois, quando o tucano renunciou para disputar o governo paulista.

Sua reeleição teve Serra como principal fiador. Kassab iniciou o novo mandato com 59% de aprovação. No início do ano, enfrentou problemas de enchentes, trânsito e até pedido de cassação de mandato, acusado de receber doações ilegais de campanha. Em março, a administração recebeu a pior avaliação – 34% dos entrevistados consideraram como ruim ou péssima. Em julho, a avaliação positiva chegou a 42% e a negativa caiu para 26%.

DEM desnutrido

As especulações em torno de Kassab revelam, de quebra, a fragilidade a que o DEM ficará exposto depois das eleições. Caso Serra perca mesmo a eleição de 3 de outubro, Rodrigo Maia estará ainda mais forte para continuar na presidência do DEM — mas um DEM muito desnutrido. Mesmo democratas mais próximos de Maia estão de malas prontas para mudar de legenda.

Roberto Brant, ministro da Previdência Social do governo Fernando Henrique Cardoso, na cota do PFL-DEM, acredita que o DEM vai cair na velha regra do “ou vai, ou racha”. “Não vamos nos fundir com o PSDB, porque ficaríamos absolutamente apagados. Só restam duas opções para o DEM: ou se torna um partido forte de oposição, para atuar com a firmeza que o PSDB não tem, ou se junta ao governo”, afirma.

Segundo Brant, qualquer hipótese não reverterá o enfraquecimento dos “demos”, e uma transição a um governo Dilma converteria o DEM “numa espécie de PTB ou PR”. Mas a debandada, diz ele, é inevitável: “Não duvido nada que metade dos deputados, se convidados, vá para a base governista.”

Da Redação, com agências