Alta do petróleo é uma nova ameaça à combalida economia mundial
A chamada economia mundial ainda não superou os efeitos da recessão iniciada em dezembro de 2007 nos Estados Unidos. A crise econômica se desdobrou na chamada guerra cambial e na crise da dívida externa da Europa. Agora, um outro fantasma ronda o mundo capitalista. É a disparada dos preços do petróleo, que pode trazer à tona a estagflação, uma combinação insólita entre inflação e estagnação econômica.
Publicado 23/02/2011 17:03
As cotações do petróleo começam a ficar nervosas à medida que os protestos se alastram na Líbia e chegam perigosamente perto da Arábia Saudita, o maior produtor mundial e o único com capacidade de suprir quantias suficientes de óleo no caso de interrupções no fornecimento pelos países vizinhos. Em Londres, o combustível é cotado a mais de US$ 105 e nos EUA ultrapassou a marca dos US$ 100 nesta quarta-feira.
Arábia Saudita
A temperatura dos preços subiu a ponto de criar expectativas de que o limite em que é capaz de causar estragos na economia global pode não estar longe, embora para isso seja necessário algo impensável até há pouco: que a Arábia Saudita mergulhe em uma onda de insatisfação popular.
Com o acirramento dos conflitos na Líbia e a persistência de manifestações de descontentamento no Iêmen, Bahrein, Argélia e Marrocos, a crise das autocracias árabes mudou de qualidade, avalia Mohamed El-Erian, CEO da Pimco, maior gestora de fundos de renda fixa do mundo. Para ele, os acontecimentos do fim de semana foram um "ponto de inflexão".
Inflação e estagnação
"No curto prazo, os acontecimentos na região serão estagflacionários para a economia mundial", afirma, em artigo ao "FT" reproduzido pelo Valor. A alta do petróleo elevará os custos de produção, a maior estocagem preventiva em todo o mundo intensificará a pressão sobre as commodities como um todo, agravando o impacto de desequilíbrios entre oferta e demanda, e a região será um mercado menor para as exportações de outros países.
Para o Bank of America Merrill Lynch, o barril do tipo Brent deve ser negociado no curto prazo em uma banda de US$ 105 a US$ 110. Ontem, ele atingiu US$ 105,78, praticamente estável. Já o tipo WTI subiu 8,55%, para US$ 93,57. Segundo o banco, apenas um barril a US$ 120, por um período de tempo suficientemente longo, seria capaz de criar danos extensivos à economia mundial. O Goldman Sachs também acredita que o barril pode atingir níveis recordes se as turbulências chegarem à Arábia Saudita.
Para Fatih Birol, economista-chefe da Agência Internacional de Energia (AIE), os preços estão "perigosamente altos" e acima de US$ 100 eles se tornam um risco para a recuperação mundial no médio prazo. "Por enquanto, a confiança mundial ainda é forte", disse. O otimismo é compartilhado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). "É improvável que [a crise no Oriente Médio e no norte da África] gere uma mudança substancial no panorama econômico mundial", afirmou o vice-diretor-geral do Fundo, John Lipsky. A cada US$ 10 de aumento nos preços do petróleo a economia mundial deixa de crescer meio ponto percentual, calcula Julian Jessop, da Capital Economics, em Londres.
Com agências