Marta desdenha Lula: “Ele não é maior que a conjuntura”
A senadora Marta Suplicy (PT-SP) não se intimida com o empenho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela candidatura do ministro da Educação, Fernando Haddad, à Prefeitura de São Paulo em 2012. "Lula tem uma força enorme no partido, mas não é maior que o processo e a conjuntura. A candidata natural sou eu. O ungido é ele [Haddad]", diz.
Publicado 05/08/2011 10:05
Em entrevista ao Valor Econômico, Marta lembra que não é a primeira vez que o ex-presidente tenta lançar um candidato pouco conhecido em São Paulo e cita o apoio de Lula ao ex-deputado Ciro Gomes (PSB) em 2010, na disputa pelo governo paulista. A ideia não vingou no partido e Ciro desistiu de lançar-se. Agora, a petista acha que essa situação pode se repetir. "Não se constrói uma candidatura em 30 dias", diz. "Posso ganhar, sou a mais qualificada para o enfrentamento".
Valor Econômico: A senhora é pré-candidata?
Marta Suplicy: Sim. Acho que eu posso ganhar e que sou a mais preparada para resgatar a personalidade da cidade. Acho que o cenário para São Paulo hoje não é como foi a eleição de Dilma. Naquele momento, não tínhamos nenhum candidato com condição de disputar a Presidência, mas tínhamos uma ministra da Casa Civil excelente.
Quando Lula alçou Dilma como candidata, as pessoas ficaram surpresas, mas depois entenderam porque ela estava no núcleo de tudo o que estava acontecendo. Não teve nenhum antagonismo. Em São Paulo, a disputa tem vários candidatos. Não cabe um voluntarismo, já que tem vários candidatos qualificados. A situação é bem diferente.
Valor Econômico: Poderia detalhar?
Marta Suplicy: Lula teve dois anos de exposição diária na mídia para falar de sua candidata e Dilma pode falar de sua competência. Isso não ocorre agora, não tem mais essa exposição privilegiada com o presidente. A campanha vai se realizar em 30 dias, na televisão. O tempo de televisão deve ser fragmentado, porque já tem muitos candidatos de vários partidos. Não adianta dizer que Chalita não será candidato, o PDT não terá candidato. Achar que vai tirar candidatura não corresponde à realidade. E não se faz um candidato em 30 dias.
Valor Econômico: A senhora se incomoda com o apoio que o presidente Lula tem dado a Haddad?
Marta Suplicy: Não. Faz parte da política e a política é um processo que vai se modificando a cada dia. Nesse processo, há vários candidatos que serão eliminados, decantados. O que vai determinar uma candidatura é a conjuntura. Tenho que ficar muito tranquila, porque a candidatura natural é a minha.
Valor Econômico: Esse respaldo não a constrange, nem pelo fato de a senhora ter coordenado a campanha de Lula em São Paulo?
Marta Suplicy: Não, não me incomoda, porque Lula é assim. Ele teve a ideia de Ciro Gomes em São Paulo e foi muito importante ele ter colocado essa ideia. É o que ele acreditava que fosse correto. É bom ter uma pessoa como o presidente, que tem estratégias, que tem visões, que tem opinião e se expõe. Mas eu acho que uma cara nova em São Paulo, tendo a avaliação que eu tenho, com a experiência que eu tenho, não é o melhor caminho.
Valor Econômico: Haddad também diz ser pré-candidato e que não é preciso prévias para escolher o candidato…
Marta Suplicy: A candidata natural sou eu. O candidato ungido é ele [Haddad]. Nós vamos ver como o processo caminha e como a conjuntura determina. Não existe varinha mágica que chegue e diga “é esta a candidatura”. A não ser que seja uma ocasião muito especial, que foi a escolha de Dilma por Lula. Em outras situações, o processo determina.
Lula tem uma força enorme dentro do partido. Mas ele não é maior que o processo e nem que a conjuntura. Ele teve essa ideia e vai fazer um esforço nessa direção. Se ele se mostrar acertado, a conjuntura vai dizer e eu vou me recolher. Agora eu acho que tem que esperar o processo e a conjuntura. Podem mostrar que a candidatura do Haddad não caminha. E você não vai contra o processo.
Valor Econômico: Insistindo na questão das prévias, elas serão realizadas ou haverá acordo?
Marta Suplicy: Não tenho a menor ideia. Eu sou a candidata natural, não tenho que me mexer. Eu não tenho que ser contra nem a favor. Eu tô ali tranquila, tenho 30% dos votos.
Valor Econômico: O que pode determinar a escolha do candidato? As pesquisas eleitorais?
Marta Suplicy: Não só. Não posso dizer como vai ser. Acredito que eu posso ganhar, que sou a mais qualificada para fazer o enfrentamento com quem vier. Isso posto, a minha candidatura é natural dentro do partido. Se o processo demonstrar que não é, vamos ver. Mas acredito que vai ser muito difícil mostrar isso. Tenho 30%, a candidata natural, com rejeição de 18%, que é pequena para quem esteve no Executivo, tenho obra para mostrar e maturidade depois de dez anos para exercer o cargo. Acho que a minha candidatura é a que tem chance de ganhar.
Valor Econômico: Como a senhora pretende conquistar o apoio do partido? A bancada federal, por exemplo, está dividida e tem dois pré-candidatos…
Marta Suplicy: Eu não tenho que me mexer. Tenho apoio de parcelas do partido. Aloizio Mercadante tem apoio até maior que o meu. Haddad tem algum apoio dentro do partido. E temos a força de Lula. Agora ninguém vai achar que é uma disputa com Lula. Ele é uma força tão grande, tão distante de todos nós, tão poderoso que essa luta não poderia existir. Lula gostaria de um nome novo, mas ele tem experiência maior que todos nós de respeitar o processo e a conjuntura. Isso vai ser natural. Por isso, estou tranquila.
Valor Econômico: A senhora vai intensificar a agenda em São Paulo?
Marta Suplicy: Vou trabalhar como sempre fiz. O PT vai fazer as caravanas e vou participar de todas elas, como petista que sou.
Valor Econômico: O que tornaria a candidatura da senhora mais competitiva do que a de outros petistas?
Marta Suplicy: Por que eu sou uma candidata para ganhar? Primeiro é a maturidade. A gente aprende. Fui eleita prefeita há dez anos, fui ministra e agora sou senadora. Fiz muita coisa boa para a cidade, em uma situação adversa. Peguei a cidade depois de [Paulo] Maluf, [Celso] Pitta, com uma dívida gigantesca. Fiz o bilhete único, os CEUs, o renda mínima. Posso resgatar projetos importantes na área da Educação, recuperar o que não foi feito na área de trânsito.
A cidade está em uma situação de abandono, de falta de planejamento absoluto, além do território livre em termos imobiliários. O Plano Diretor não foi implementado, os planos de revitalização foram abandonados. A cidade cresce por inércia e pelo trabalho de seu povo. Não houve planejamento. Quero ser prefeita para que a cidade volte a funcionar.
Valor Econômico: Qual sua análise da candidatura Chalita?
Marta Suplicy: Acho que o PMDB é o partido mais forte do Brasil e estava em uma situação muito precária, sem liderança expressiva, elegeu só um deputado federal. Algo tinha que ser feito e foi feito esse gesto por Chalita.
Valor Econômico: Ele pode ser vice do PT? É possível uma aliança no primeiro turno?
Marta Suplicy: Tenho que respeitar todas as candidaturas, mas seria muito bom.
Valor Econômico: Não é contraditório o PT ter criticado tanto Chalita quando secretário da Educação de Alckmin e agora buscar uma aliança?
Marta Suplicy: Chalita é o candidato do PMDB. Se ele vier como parceiro, será tratado como parceiro. Se ele for opositor, será tratado como opositor e temos argumentos fortes. Mas quem manda na Educação de uma prefeitura petista é o PT.
Valor Econômico: Quem deve ser o adversário do PT? Serra?
Marta Suplicy: É o Serra. Ele não tem saída. Se não conseguir ser candidato agora, quanto mais em 2014. Vai ser ele. O [Andrea] Matarazzo está lá de clone, para sair na hora certa.
Valor Econômico: Na avaliação da senhora, qual é o ponto fraco da gestão do prefeito Gilberto Kassab?
Marta Suplicy: São muitos, mas o que mais me instiga é o motivo de ele não usar os R$ 7 bilhões de superávit, em uma cidade que precisa de corredor de ônibus, de limpeza de córrego, de habitação. A gestão toda foi marcada por um superávit gigantesco, por incapacidade de ação. Quando se é prefeito, dinheiro não fica no banco, vai para o povo.
Da Redação, com informações do Valor Econômico