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Filho de João Goulart cobra transparência sobre ditadura militar

João Vicente, filho do ex-presidente da República João Goulart, participou hoje da primeira audiência pública do Ciclo de Debates, promovido pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), do Senado, sobre os 50 anos da Campanha da Legalidade. A audiência foi solicitada e presidida pelo senador Paulo Paim (PT-RS).

A Campanha da Legalidade foi um movimento liderado pelo então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, para assegurar que o vice-presidente João Goulart assumisse a Presidência após a renúncia de Jânio Quadros em 25 de agosto de 1961.

O filho do ex-presidente da República fez um apelo à sociedade brasileira para que aproveite o ano 2014, quando se completarão cinco décadas do Golpe de 64, para refletir e cobrar das autoridades mais transparência sobre o período.

Segundo João Vicente Goulart, apesar de 2014 ser um ano festivo por conta da Copa do Mundo, os brasileiros não podem deixar a data passar em branco.

– É preciso refletir sobre tantas tragédias, tantas mortes e tanto obscurantismo. Ainda há muito para se investigar e apurar. Cinquenta anos depois, ainda há resistência à liberação de muitos documentos e informações – afirmou.

Comissão da Verdade

João Vicente defendeu ainda a instituição da Comissão da Verdade, cujo projeto de criação está sendo examinado pela Câmara dos Deputados (PL 7376/2010).

– Essa comissão poderia, por exemplo, ter poderes para convocar generais e outras autoridades para prestarem depoimentos, ainda que fosse "sob vara" e facilitar a apuração de casos de violação de direitos humanos na época da ditadura [1964-1985] – opinou.

Morte de Jango

Indagado por Paim sobre a causa da morte de Jango, João Vicente disse haver evidências de que o pai tenha sido envenenado com cianureto de potássio e questionou a demora para autorização da exumação do corpo.Jango morreu após parada cardíaca, quando estava exilado na Argentina, em 1976, e a morte é atualmente investigada pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul, mas a família quer que a Procuradoria-Geral da República assuma o caso.

Resgate da Memória

João Vicente Goulart, o senador Paulo Paim e o secretário de Estado de Representação do Governo do Rio Grande do Sul, Ronaldo Teixeira da Silva, outro participante da audiência pública, foram unânimes na defesa da legitimidade e do direito de Jango assumir a presidência naquele ano de 1961, logo após a renúncia de Jânio Quadros. Eles destacaram ainda a importância histórica da campanha desencadeada por Brizola para garantir o cumprimento da Constituição.

– Naquela época o vice-presidente era eleito independentemente do presidente. E Jango recebeu mais votos até do que Jânio Quadros. Não tinha por que não assumir o comando do País. A legitimidade de Jango jamais poderia ter sido questionada – afirmou Ronaldo Teixeira da Silva, que representou o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro.

Os convidados lembraram ainda o legado político de Leonel Brizola e a importância do trabalhismo para o Brasil. Também participaram da audiência o senador Wellington Dias (PT-PI) e o deputado federal Amauri Teixeira (PT-BA), que destacaram a importância da Campanha da Legalidade.

A próxima audiência pública do Ciclo de Debates sobre o tema será na primeira segunda-feira de outubro. Haverá ainda outro encontro em novembro (7) e o encerramento ocorrerá em dezembro (5), quando será exibido o documentário "Jango em 3 Atos", dirigido pelo jornalista da TV Senado Deraldo Goulart.

Fonte: Agência Senado