Crianças afegãs; entre a miséria e o trabalho forçado
Os menores do Afeganistão emergem como as vítimas por excelência da fome, doenças, analfabetismo e o trabalho forçado imperante num país exposto à guerra e suas nefastas consequências.
Publicado 12/11/2011 13:55
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) estima que ao menos 30% das crianças do Afeganistão, com idades entre cinco e 14 anos, realizam algum tipo de trabalho.
A situação já era má para a infância afegã antes que começassem os bombardeios dos Estados Unidos e Reino Unido há uma década mas agora é pior, declarou à imprensa Eric Laroche, representante de Unicef no país.
Como a maioria das crianças está desnutrida e carece de abrigo adequado, a Unicef considera que 100 mil deles morrerão este inverno de pneumonia, diarréia e outras doenças.
Laroche destacou que menos de cinco por cento de todos os jovens do Afeganistão assistem à escola, cifra reveladora do colapso do sistema educativo numa nação devastada pelos conflitos bélicos; de fato, uma geração inteira de menores afegãos cresce sem educação, asseverou, e as meninas são as mais afetadas.
Para piorar tal situação, tem-se recrudescido o recrutamento e a mobilização de pequenos com fins de guerra.
Em diversos depoimentos publicados abundam exemplos como os de Yasin, um dos quase dois milhões de infantes obrigados a trabalhar para sustentar a sua família, geralmente como única fonte de rendimentos do lar.
O menor de 11 anos esfrega automóveis num comércio na capital, no qual consegue 20 afganis (menos de meio dólar) diários.
Também se mostra o caso de Rokay, de 13 anos, quem diariamente se desloca de sua casa, no norte de Cabul, a capital, à rua central de Shar-e-Nao, para vender ovos cozidos a sete afganis (15 centavos de dólar).
A capital está repleta de crianças que trabalham na rua e em negócios de toda natureza -desde comércios até oficinas de reparo de carros e da indústria metalúrgica-, fenômeno motivado por uma crise econômica e social acentuada pela guerra.
Com uma renda per capita de 800 dólares, 42% dos 30 milhões de afegãos vive abaixo do limite da pobreza. A alta taxa tem sua origem em fatores estruturais mas a sucessão de conflitos armados sofridos no país durante os últimos anos aumentou-a por trazer um desequilíbrio de gênero que se choca contra os usos e costumes locais.
Milhares de homens morreram ou arrastam sequelas graves pelas feridas em combate, e ainda que a queda do regime talebã há uma década forçou mudanças legais a respeito da situação da mulher, em muitas províncias não se aceita culturalmente o trabalho feminino.
No caso de o marido morrer ou ficar incapacitado, o núcleo familiar passa a depender dos outros homens da casa, independentemente de sua idade, pelo que com frequência são os meninos quem se convertem no novo cabeça da família.
Grupos humanitários e de direitos humanos dizem que as leis em matéria de trabalho infantil são regularmente desobedecidas. Conquanto os menores de idade possam trabalhar legalmente até 35 horas por semana dos 14 anos em diante, não se lhes permite realizar trabalhos perigosos.
O Afeganistão é um dos países mais pobres do mundo, onde as crianças representam a metade da população, um quarto dos pequenos morre antes dos cinco anos e a expectativa de vida média é de 44.
Em recentes declarações à imprensa, o vice-ministro afegão de Trabalho e Assuntos Sociais, Waselnur Mohmand, mencionou iniciativas como a abertura de um escritório para assistir a esses infantes, com ajuda financeira europeia.
O servidor público disse que o governo tem empreendido um projeto chamado Rede de Ação de Proteção da Infância (CPAN por suas siglas em inglês), o qual assegura que já presta cuidados aos jovens em 28 das 34 províncias do país.
Mas é improvável, no entanto, que esses planos cheguem a tempo para Yasin e Rokay, a quem o trabalho diário ainda lhes permite sonhar.
O primeiro quer ser militar, mas o segundo aponta mais alto quando se lhe pergunta que desejaria ser quando crescer: "Quero ser presidente do Afeganistão".
Fonte: Prensa Latina