Para Jamil ação na cracolândia fracassou

No lançamento do site SPressoSP, Vereador Jamil Murad diz que ação na cracolândia gerou desconfiança dos dependentes em relação aos agentes públicos

Jamil falando

No último sábado, 4, o vereador Jamil Murad (PCdoB) esteve na Casa Fora do Eixo, no Cambuci, durante lançamento do site SPressoSP, debatendo o problema do crack e as ações da operação na cracolândia, juntamente com a coordenadora do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública, Daniela Skromov de Albuquerque e com o padre Julio Lancelotti.

Para Jamil, a operação foi um fracasso e “acabou causando desconfiança dos dependentes em relação aos agentes públicos (de áreas como saúde e assistência social)”. Além dos participantes que lotaram a Casa, cerca de 700 pessoas participaram pela rede e o debate esteve no sexto lugar entre os trending topics do Twitter em São Paulo.

O vereador afirmou que a Secretaria Municipal de Saúde, bem como a de Assistência Social, não sabia da operação quando a mesma teve início. “Assim como em Pinheirinho, as ações da polícia na cracolândia tiveram um viés autoritário”.

Segundo o parlamentar, que preside a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de São Paulo, “não podemos ficar indiferentes a essas pessoas (os dependentes do crack) que estão desligadas de suas famílias e de seu meio social, submetidas aos mais variados sofrimentos”.

Porém, a saída, segundo ele, não passa por questões de segurança pública, mas por “um sistema de atendimento nas frentes de saúde e assistência social através de uma rede que funcione 24 horas. São Paulo dispõe de alguns locais, mas a rede ainda é pequena, ainda está sendo construída”. Segundo Jamil, a segurança pública deve focar-se na área da Inteligência para combater o tráfico.

Segundo o vereador, as autoridades do governo estadual, a quem cabe o comando da PM, “estão surfando no apoio momentâneo da opinião pública” captada através de pesquisas recentes. Para Jamil, esse apoio é relativo e dá mostras de ser temporário uma vez que dia após dia fica mais evidente que a operação não resolveu o problema dos usuários que vivem nas ruas da região central.

Ele lembrou ainda que nunca “vai existir um mundo sem álcool e drogas. O que temos de fazer é montar um sistema de proteção para atender aqueles que têm problemas de dependência. Além disso, devemos educar as pessoas, desde cedo, para ao menos evitar o abuso”.

De acordo com Jamil, o desenvolvimento pelo qual o país passa é um dos fatores que levarão à superação de problemas sociais graves que estão na base das dificuldades vividas pelos dependentes de crack e de outras drogas Brasil a fora.

Na mesma direção seguiu a argumentação de Daniela Skromov de Albuquerque, coordenadora do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública. Ela lembrou que a cidadania e a dignidade humana, proclamadas na Constituição de 1988, devem ser a base da atuação do poder público e o Estado deve primar pela proteção da pessoa.

“O foco do Estado, conforme a lei, deve ser a garantia dos direitos de todas as pessoas, especialmente as mais vulneráveis. O grau de democracia de um país é proporcional à maneira como a sociedade trata os mais vulneráveis”, destacou Daniela.

Um dos erros da Operação Sufoco, conforme enfatizou, foi o fato de ter “partido da premissa de combate ao tráfico e não da assistência aos mais vulneráveis”. Segundo ela, a segurança pública deve atuar no âmbito da inteligência, da investigação do tráfico. O resultado é que “hoje, o problema não está resolvido, está apenas dispersado”.

Outro ponto colocado por Daniela é a questão da dificuldade que se criou, agora, para abordar os dependentes e convencê-los ao tratamento. “Quando um grupo está num determinado território, fica mais fácil pensar ações específicas. Essas pessoas precisam do Estado se aproximando e dialogando com elas e o que foi feito seguiu a lógica da guerra. A lógica imediatista compromete as ações de fundo”.

Na avaliação do padre Julio Lancelotti, “a cracolândia foi eleita o bode expiatório de uma cidade que não sabe lidar com seus problemas humanos. Sabemos lidar com a tecnologia, com os aparelhos, mas não sabemos lidar com as pessoas que consideramos sofrer algum tipo de desvio. Olhar a cracolândia é ver a nossa incompetência para lidar com este problema”.

Para ele, a “a operação foi uma ação midiática, um grande teatro. Precisamos enfrentar os problemas humanos com uma concepção fora do eixo”.

Priscila Lobregatte
www.jamilmurad.com.br