Evaldo Lima deixa a Secel e faz balanço de sua gestão
Em entrevista concedida ao jornal O Povo, o professor Evaldo Lima, fala sobre a saída da Secretaria de Esporte e Lazer de Fortaleza (Secel), faz um balanço de sua gestão à frente do órgão e ainda avalia como “vitoriosa” sua contribuição para a Prefeitura de Fortaleza. Leia a seguir a íntegra da entrevista:
Publicado 09/04/2012 10:02 | Editado 04/03/2020 16:29
Evaldo Lima encerrou na última quarta-feira (04/04) sua gestão na Secretaria de Esporte e Lazer de Fortaleza (Secel), onde atuou desde julho de 2009. Na bagagem, um trabalho que pode ser considerado vitorioso. Sobre o estádio Presidente Vargas, um dos maiores legados de sua administração, Evaldo lembrou a difícil época da reforma – uma das obras mais acompanhadas na gestão atual da Prefeitura – e a recompensa ao vê-lo pronto. No momento, não está certo o nome do substituto.
Até o Ferroviário, ameaçado de rebaixamento no Cearense, esteve presente no papo. E, talvez, seja o que mais preocupe Evaldo neste momento da vida.
O POVO – Por que sair da Secel?
Evaldo Lima – Sou filiado ao PCdoB. O partido colocou os cargos à disposição da Prefeitura. Além disso, tem a legislação. Caso venha a ser candidato, tenho que me afastar até o dia 6.
Vai se candidatar?
Na eleição passada fui candidato a vereador pelo PCdoB. Tive 4.809 votos. Foi uma votação expressiva. Meu nome estará colocado ao PCdoB. Aí depende deles.
Como surgiu a vontade de entrar na política?
Somos todos políticos. Mesmo quem é apolítico está envolvido no processo. A humanidade se realiza na vida pública, na vida coletiva. O fato de ser professor de História, e isso começou há muito tempo, em 1987, acabou me colocando à margem ao debate.
O senhor sente falta de dar aula por conta da falta de tempo?
Eu continuei dando aula. Procurava dar aula sempre pela manhã, de 7 às 8 horas, e depois vinha pra secretaria. No sábado também dou aula. Minha grande realização é dando aula. É minha profissão. Ser secretário ou político não é profissão.
O que tentou fazer como secretário e não deu certo?
Tive algumas lacunas durante este tempo. Fortaleza é uma cidade que não preserva a sua memória. Um espaço que preserve a memória seria fundamental. Um museu do futebol cearense. A publicação do livro do PV preenche uma lacuna, mas falta, sim, um museu do futebol cearense que era um desejo.
E a maior realização?
A reforma do estádio Presidente Vargas. Foram momentos tensos. Havia uma necessidade, uma emergência pelo estádio para a decisão do Estadual de 2011. A cidade pulsava pelo PV. Foi uma obra muito visitada. A entrega foi memorável. E a homenagem aos operários foi um momento gratificante, que não dá para esquecer.
Esta obra foi o momento de maior pressão nesses anos todos à frente da Secel?
Faz parte. O PV é parte da cidade. Era uma pressão urgente e necessária. Acredito que nos momentos de dificuldade é preciso ter equilíbrio e bom senso. É preciso ouvir, mudar e tocar com equilíbrio. Acatamos inúmeras sugestões de cada entidade que ia lá. Algumas críticas não procediam, mas são necessárias.
E o papel do estádio na Copa?
O PV ainda está concorrendo a ser COT (Centro Oficial de Treinamento). Não tenho dúvida de que o PV é referência. O estádio já recebeu elogios de gente como o Felipão, Marcos e Ronaldinho Gaúcho. O que precisaria ser feito é sobre o gramado, já que é necessário ser o mesmo do Castelão por exigência da Fifa. Mas isso certamente não será resolvido por mim.
E os clubes vão pagar ou não pelo prejuízo no PV?
Conversei com os clubes e não há problema. Eles disseram que vão arcar. Fizemos o conserto, que foi pouco, na verdade. Se eu levar pra Justiça, vai se arrastar e criar um desgaste sem necessidade. É preciso diálogo em um momento desses e acredito que os clubes sabem de suas responsabilidades. Agora, é uma pena que tenhamos uma situação dessas. Vimos, por exemplo, a estátua da Iracema, que teve as mãos arrancadas e o arco furtado. Infelizmente existe isso. E, por vezes, não é nem o ato de vandalismo em si. É preciso um lugar para pular sem prejudicar o estádio. Para você ter uma ideia, o número de cadeiras arrancas no primeiro clássico não foi muito distante do último clássico.
O que falta para diminuir a violência no futebol?
Os estádios são ambientes de preconceito. É necessário que haja mais consciência crítica. É preciso campanhas de conscientização. Esse é um ponto. Outro, a violência é reflexo de questões bem gerais. Diz respeito a disputa de gangues, disputas territoriais, diz respeito a falta de perspectiva. O futebol é apenas o local. Futebol é só jogo. Leva esportividade. É preciso gestão profissional do futebol, também. É inadmissível não termos um clube sequer, neste instante, na primeira divisão do Campeonato Brasileiro.
Deu pra assistir a jogos do time do coração? E que situação essa do Ferroviário…
Fui a quase todos os jogos no PV. Enquanto a bola rolava, minha cabeça ficava preocupada em várias situações de organização. Tive até pesadelos de que o sistema de irrigação era acionado no momento de uma partida! Porém, nos jogos do Ferroviário eu pedia licença e outras pessoas cumpriam o papel. Sobre o time, é muito sofrimento. Não sei se o momento mais feliz da minha vida foi o nascimento dos meus filhos ou o bicampeonato do Ferroviário, em 1994/95. O time tem uma história muito bonita. Hoje, é angustiante. O time fez partidas boas, de igual pra igual com o Ceará, por exemplo. Não dá para explicar. É como se fosse uma mística que conspirasse contra o time. Mas vou torcer. Vou torcer muito. Não existe impossível no futebol.
Fale um pouco sobre o trabalho da secretaria além do futebol.
Eu acredito que o futebol é muito mais que esporte. Está em outro patamar. Agora, paralelo ao futebol existem manifestações esportivas, recreativas, lúdicas que são fabulosas. Para exemplificar, nós criamos um programa chamado Capoeirarte. É só um exemplo. Há uma preocupação com a prevenção ao crack, uma luta que a sociedade perde a cada dia. Então os outros esportes têm um papel fundamental na socialização. É preciso ir além do futebol.
Perfil
Nome: Francisco Evaldo Ferreira Lima
Nascimento: 8/10/1968
Naturalidade: Boa Viagem (CE)
Profissão: Professor
Na Secel: desde julho/2009
Time de coração: Ferroviário
Fonte: O Povo