Equador: Entre Assange, a fraude eleitoral e a japonesa Oshín

Os equatorianos vivem dias de tensão depois da ameaça do Reino Unido de agredir sua embaixada em Londres para prender Julian Assange, em meio a denúncias de uma fraude eleitoral relacionada com as eleições presidenciais de 2013.

Por Yurién Portelles em Prensa Latina

Nesta jornada, a Organização dos Estados Americanos (OEA) deverá pronunciar-se, por solicitação de Quito, em torno do comunicado britânico com a advertência de uma incursão no recinto diplomático caso o fundador do WikiLeaks não seja entregue para sua extradição à Suécia.

Embora as autoridades locais esperem um apoio contundente nesse foro, similar ao registrado no último fim de semana em Guayaquil, Canadá e Estados Unidos adiantaram qual será sua posição ao assinalar que esse é um assunto bilateral entre o Equador e o Reino Unido.

Contudo, as declarações do chanceler peruano, Rafael Roncagliolo, de que os membros da União de Nações Sul-americanas (Unasul) cerrarão fileiras em torno do Equador fazem vislumbrar o triunfo da condenação à diplomacia do Reino Unido por sua torpeza.

A opinião pública nacional e internacional deu majoritariamente ao governo de Rafael Correa a razão neste caso, ao considerar que esse país atuou de acordo com as normas que regem o direito internacional e sua própria Constituição.

Analistas, acadêmicos e líderes políticos equatorianos coincidem em que as grandes potências ignoram o que Correa qualificou em não poucas oportunidades de uma mudança de época na América Latina e persistem em suas pretensões colonialistas.

Os especialistas asseguram, ademais, que a política de defesa da soberania tem sido uma bandeira da Revolução Cidadã à frente dos destinos do Equador nos últimos cinco anos e já ficou no passado a subordinação aos poderes hegemônicos.

O mandatário insiste em que não serão aceitas pressões de nenhum tipo como a ameaça do Reino Unido depois da concessão do asilo ao jornalista australiano, diante dos temores de que este seja julgado sem o devido processo nos Estados Unidos por vazar telegramas diplomáticos comprometedores para essa potência.

"Não sabem com quem estão tratando, pensaram que nos iam amedrontar”, disse Correa em uma mensagem à nação transmitida por rádio e TV, enquanto o chanceler Ricardo Patiño, que preside a delegação equatoriana no diálogo em Washington, qualificou de torpeza a comunicação de Londres.

O secretário do presidente Rafael Correa, Gustavo Jalkh, expôs que o Reino Unido distorce o sentido de sua própria lei interna sobre a qual argumentou sua faculdade para entrar na embaixada, pois se trataria de proteger o governo ali representado.

Por outra parte, deve começar nesta sexta-feira (24) em Quito a verificação de cem por cento das listas apresentadas pelos movimentos e partidos políticos para inscrição de candidaturas às eleições de 17 de fevereiro do próximo ano.

Cerca de 70 mil denúncias, fundamentalmente apresentadas na província equatoriana de Guayas, revelam obscuras manobras dos agrupamentos para buscar apoio de ao menos 1,5 por cento do eleitorado e poder eleger candidatos à presidência, a vice-presidência ou à Assembleia Nacional.

O presidente do Conselho Nacional Eleitoral, Domingo Paredes, negou há poucas horas que apesar deste descalabro, em detrimento da democracia, as eleições presidenciais vão ser adiadas nem muito menos suspensas, pelo que ratificou a data em que o povo exercitará uma vez mais a democracia.

Mas ficou para os equatorianos o sabor amargo da persistência no seio da sociedade de um mal da chamada “partidocracia” tradicional que não parece ter cura enquanto não forem descobertos os culpados do roubo da identidade dos eleitores.

E enquanto isto ocorre, a televisão pública transmite por estes dias a novela japonesa Oshín, que fala dos esforços denodados dos indivíduos para ir adiante mesmo nas piores adversidades.

O personagem protagonista, Oshín, deixa uma lição que os equatorianos não deveriam deixar de aproveitar para assumir, resolver e superar as atuais circunstâncias em um país que se levanta para todos.