Patinhas: "PCdoB está com o PSB pelo sentimento de renovação"

"Estamos fazendo um grande esforço para a vitória de Roberto Claudio, com mobilização intensa de todo o partido. Há um sentimento muito forte de renovação em Fortaleza, e estamos confiantes em um novo projeto para a cidade". A avaliação é de Carlos Augusto Diógenes, o Patinhas, presidente do Comitê Estadual do PCdoB.

Em entrevista ao Portal Vermelho, ele ressalta a sintonia do partido com esse sentimento de mudança, além do compromisso assumido por Roberto Claudio com as propostas do PCdoB para uma Fortaleza com planejamento, eficiência administrativa, serviços de qualidade para a população e diálogo entre Prefeitura e movimentos sociais.Também aponta a importância de, independentemente das disputas municipais, os partidos do campo progressista permanecerem unidos, no plano nacional, contras as forças conservadoras. Confira a entrevista:

Por que o PCdoB decidiu apoiar a candidatura de Roberto Claudio e dos partidos coligados, neste segundo turno da eleição para prefeito de Fortaleza?

O segundo turno é uma outra eleição. No primeiro turno já tivemos uma pulverização muito grande dos partidos progressistas. Das 10 candidaturas, sete eram do campo progressista. Cinco delas eram da base da presidente Dilma. No primeiro turno, pela força do PSB, do PT, das campanhas com muitos recursos, do apoio das máquinas municipal e estadual, de muita desigualdade no tempo de televisão, terminou havendo uma polarização entre os candidatos Elmano e Roberto Claudio, candidaturas que antes do horário eleitoral gratuito eram desconhecidas pelo povo, mas que depois disso se colocaram como polarização.Uma polarização que já vinha acontecendo em relação à Prefeitura e ao Governo do Estado, em um embate muito forte. Ao final da eleição, tivemos o voto útil e essas duas candidaturas acabaram indo ao segundo turno.

São duas candidaturas de partidos no campo da esquerda: PSB e PT. Ambos participam do Governo Federal. E o próprio PT ainda participa do Governo do Estado, com quatro secretarias. Então temos uma disputa entre dois partidos com os quais o PCdoB tem excelente relacionamento. Em muitas cidades, saímos em coligação com o PT. Em várias outras, com o PSB. Respeitamos os dois partidos e entendemos que são disputas legítimas e que essas disputas são pontuais.

No nosso comunicado oficial (leia abaixo), feito quando do anúncio do apoio a Roberto Claudio, o PCdoB defende no Ceará a repactuação da base aliada, visando às eleições de 2014. Se tudo continuar se desenvolvendo como hoje no nosso País, com uma grande aceitação popular do governo da presidente Dilma, marchamos naturalmente para uma reeleição da presidente e lutaremos pela repactuação da base aliada.

Agora, no plano local, evidentemente temos que nos posicionar em relação às duas candidaturas. Somos contra essa ideia de "neutralidade", de não definir posição. Participamos do debate no primeiro turno, apresentamos nossas propostas e ideias para Fortaleza, fizemos o bom debate, em uma campanha de alto nível, mas não fomos ao segundo turno. Então, tivemos que tomar posição. E tomamos posição pela mudança em Fortaleza.

Analisando o plano local, pensando no futuro da cidade, que perspectivas fizeram a diferença para a decisão pelo apoio à candidatura do PSB?

Uma primeira questão – e não é nenhuma crítica ao PT, e sim ao modelo de gestão desenvolvido pela prefeita de Fortaleza nos últimos oito anos – é por que nenhum dos demais partidos que não foram ao segundo turno apoiou a candidatura do Elmano. Antes de criticar a posição desses partidos, que deve ser respeitada, deve ser feita uma análise sobre os motivos de nenhum partido apoiar o candidato Elmano. Tivemos partidos que se abstiveram. O (candidato do PDT) Heitor Férrer tomou uma posição diferente da do próprio PDT, de ficar neutro. Mas todos os outros partidos estão apoiando a candidatura de Roberto Cláudio.

A nosso modo de ver – e temos autoridade pra dizer isso, porque ajudamos o governo Luizianne durante sete anos, com apoio político e com recursos importantes para Fortaleza -, isso ocorre porque essa foi uma gestão que não dialogou com os partidos da base. Que se distanciou do diálogo maior com a sociedade, com os movimentos sociais. Por isso optamos por um outro projeto, neste segundo turno.

Falta diálogo, capacidade de interlocução, de ação política mais ampla?

Essas dificuldades estão claramente colocadas. Em 2008, quando analisamos lançar a candidatura do nosso deputado federal Chico Lopes a prefeito de Fortaleza, tivemos ponderações do PT e aceitamos essas ponderações. Mas uma das críticas que já fazíamos na época era a essa falta de diálogo com a sociedade e com os partidos aliados. Propusemos a criação de um Conselho Político, para que isso mudasse, e houve afirmação pública, por parte da prefeita, de que isso aconteceria, mas o conselho não foi constituído. Nem outra instância de diálogo com a sociedade, com os movimentos sociais, com os partidos. Se tivesse havido um diálogo, uma abertura aos demais partidos, seria uma tendência natural que houvesse neste segundo turno uma abertura maior para diálogo com o candidato do PT.

De que modo a avaliação sobre a administração atual influenciou a opção feita pelo PCdoB para o segundo turno?

Houve uma influência forte, direta. Porque uma segunda questão, além dessa falta de diálogo, são os problemas administrativos ocorridos na cidade. A falta de uma gestão mais presente, mais eficiente. As obras que se iniciam e não terminam. A falta de projetos e de planejamento, muito debatida pelo nosso candidato, Inácio, durante a campanha. O descaso na saúde, na educação. Não foi uma gestora presente no dia a dia da cidade de Fortaleza. E tudo isso criou um sentimento de renovação na cidade, com alto índice de rejeição à administração.

Evidente que a campanha do Elmano, muito casada à imagem de Lula, com o horário eleitoral, faz esse índice de rejeição diminuir. Mas ele ainda se mantém alto. Então, há um sentimento de renovação na cidade de Fortaleza.

Essas duas questões levaram a que nenhum partido manifestasse apoio à candidatura do PT, neste segundo turno, apesar de o PT ter procurado vários partidos para buscar esse apoio. Então o Partido dos Trabalhadores deve fazer internamente, perdendo ou ganhando, uma análise sobre essas questões ao longo dos últimos oito anos.

O PCdoB tomou uma decisão sintonizada com a nossa visão sobre os oito anos de administração da prefeita Luizianne Lins. Com o sentimento da cidade. E com nosso discurso, que defendeu a força da mudança. Então não poderíamos ir ao segundo turno apoiando quem nós criticamos, do ponto de vista da gestão. Seria um posicionamento contraditório. Esse debate foi feito dentro do partido. E por isso analisamos que a melhor posição seria de apoio a Roberto Claudio.

Quais as principais propostas do PCdoB incorporadas pela candidatura Roberto Claudio, neste segundo turno?

Tivemos uma reunião com Roberto Claudio, em que ele assumiu compromisso com várias propostas que apresentamos: a criação do Conselho Político, o retorno do Instituto de Planejamento, que é essencial para a cidade, como destacamos ao longo de toda a campanha. O pagamento do piso salarial dos professores, o cumprimento pleno da lei do piso, incluindo o direito dos professores, assegurado por emenda de autoria do nosso Chico Lopes, a um terço da carga horária para atividades extra-sala. A estruturação de uma Escola de Formação de Professores. A qualidade na educação e na saúde. Toda uma série de propostas foi incorporada por Roberto Claudio. E mais: fizemos uma reunião com os movimentos sociais, de mulheres, jovens, sindicalistas, militantes da diversidade sexual, e todos foram contundentes nas críticas a esses oito anos de gestão. Roberto Claudio assumiu compromisso perante os movimentos sociais, de fazer diferente.

Como fica a relação do PCdoB com o PT, em Fortaleza?

Nosso relacionamento com o Partido dos Trabalhadores continua a ser respeitoso. Manifestamos nossa solidariedade aos dirigentes nacionais do PT que vêm sendo execrados pela grande mídia no chamado "processo do mensalão". Temos manifestado nossa solidariedade. O PT é um partido que tem dado grandes contribuições ao projeto de País, ao campo progressita. Nesse momento, porém, os diversos partidos de esquerda têm posições diferentes. Mas o PCdoB irá luta pela repactuação da base aliada, visando à continuidade do projeto popular de desenvolvimento do Brasil.

Levando em conta a disputa eleitoral, o crescente tensionamento que ela desperta, essa repactuação é possível?

No clima de hoje, seria difícil. Porque é uma eleição disputadíssima. Quem ganhar vai ter uma margem muito pequena. Pelo que estamos vendo nos debates, o clima está sendo de muitas críticas, entre as administrações municipal e estadual. Vai se criando um clima pesado, difícil. Agora, após as eleições, quando começa a baixar a poeira, deve haver um trabalho em prol dessa repactuação. O governador Cid Gomes tem colocado apoio à reeleição da presidente Dilma. O PCdoB tem a posição de defender essa repactuação.

Além do mais, acreditamos que todo esse processo eleitoral, com toda essa ofensiva da direita, de ataque ao PT, que na verdade é de ataque à esquerda de modo geral, está sendo como um tiro saindo pela culatra.O que está se desenhando é uma grande vitória da esquerda. Com Fernando Haddad, do PT, e Nádia Campeão, do PCdoB, derrotando José Serra e os tucanos em São Paulo. O PCdoB está na disputa com Vanessa Grazziotin em Manaus, tentando derrotar o líder rancoroso do PSDB Arthur Virgílio.O campo progressista teve vitórias no primeiro turno em Belo Horizonte e em Recife, com o PSB, em Goiânia, com o PT, no Rio de Janeiro, com o PMDB, e em várias outras cidades.

Se confirmada, a derrota de Serra em São Paulo é um grande golpe no PSDB e uma grande vitória do nosso campo. Aqui no Ceará, o fato de o PSDB cair de 55 prefeitos para oito e de o DEM eleger muito poucos prefeitos demonstra que as forças conservadoras estão sofrendo um duro golpe nessas eleições. Isso é que nós temos que comemorar. PCdoB, PDT, PT, PMDB estão obtendo vitórias, o que é importante para o campo progressista e para as eleições em 2014.

Já é possível adiantar perspectivas para o cenário de 2014, também no Ceará?

A eleição de 2014 é um quadro que vai ainda se desenhando e que vamos ainda analisar, a partir do próximo ano. Estamos participando da administração estadual e deveremos continuar participando. Desempenhamos um papel importante na Secretaria de Saúde, com importantes conquistas para a população, que estão sendo reconhecidas pelo povo. Estamos fazendo um grande esforço para a vitória de Roberto Claudio, com o partido todo mobilizado pra isso. Vemos esse sentimento muito forte de renovação em Fortaleza, e estamos confiantes em um novo projeto para a cidade.

Da redação.

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