Promotor admite que acusação de Curuguaty não é baseada em provas
O promotor paraguaio Jalil Rachid, encarregado da investigação do massacre ocorrido em junho do ano passado em Curuguaty, admitiu publicamente ter baseado a acusação feita ao grupo de camponeses apenas em declarações de policiais.
Publicado 08/01/2013 14:44
Em declarações a uma emissora de rádio, o promotor reconheceu que não conversou com nenhum camponês testemunha do confronto e se adequou à versão policial na qual os trabalhadores dispararam primeiro, mataram os policiais e deram espaço à dura resposta dos agentes.
Leia também:
Paraguai: Promotor rejeita provas e acusa camponeses de Curuguaty
“Não temos a declaração dos camponeses, de alguém que tenha vindo declarar e tenha dito eu ‘vi isto’ e ‘aconteceu aquilo’; ninguém se aproximou por medo de ser processado também, porque se esteve no lugar e viu algo, obviamente fazia parte desse grupo ocupante”, declarou.
Rachid não mencionou o relatório apresentado à Promotoria Geral da República por um grupo de investigação alternativa liderado por um jurista espanhol, que inclui não só declarações de camponeses, mas também fotos e gravações de vídeo e que demonstra a participação de franco-atiradores desconhecidos que teriam iniciado o conflito.
Isto foi provado pelo uso de armas automáticas contra a polícia e os camponeses, assim como por cápsulas de balas de grande calibre recolhidas no lugar e apresentadas a Rachid pelo ex-deputado Julio Colmán, em uma cerimônia filmada.
Mas, Rachid desconsiderou essa prova pois "não sei quem as recolheu nem onde" e não aceitou a investigação independente, que também evidenciou, segundo os camponeses declarantes, mortes extrajudiciais e recusa de auxílio aos feridos civis.
O Paraguai está muito próximo do julgamento oral e público contra os 14 camponeses presos, únicos acusados pelo promotor; mas a declaração feita por Rachid já despertou nas redes sociais numerosas opiniões que condenam sua atitude.
Rachid chegou a ser recusado pela defesa devido à sua relação pessoal com a família do latifundiário proprietário do terreno onde morreram 11 camponeses e seis policiais durante o desalojamento, mas continuou participando do caso.
Com Prensa Latina