Beto Almeida: Com os pés, venezuelanos já começaram a votar
A Venezuela que se prepara para mais uma eleição é um país transformado. Já não há analfabetos, o país paga o mais alto salário mínimo da região e tem o título dado pela Cepal de nação menos desigual da América Latina.
Por Beto Almeida*, no Brasil de Fato
Publicado 12/03/2013 18:11
Caracas vive uma profunda tristeza pela perda de Hugo Chávez. Mas esta tristeza vem sendo largamente superada pela decisão do povo venezuelano de levar adiante a obra de seu comandante. Os depoimentos, colhidos das pessoas mais simples, são cristalinos de uma convicção popular que vai se consolidando de maneira cada vez mais elevada: a Revolução Bolivariana tem que continuar.
De acordo com a Constituição Bolivariana, elaborada a partir da promessa eleitoral cumprida por Chávez de que convocaria uma Assembleia Constituinte se eleito, será necessário realizar nova eleição presidencial dentro do prazo de 30 dias.
E a Constituição, que possui um dos mais avançados textos de todo o mundo, referendada pelo voto popular, será cumprida. Como tem sido o processo da Revolução Bolivariana, desde o início. Apesar disso, os países imperiais e a oligarquia nativa continuam, absurdamente, acusando a Chávez de autoritário e ditador, quando realizou, em apenas 14 anos, 16 eleições, plebiscitos e referendos, dos quais venceu 15 e respeitou o resultado daquele que perdeu, democraticamente.
A Venezuela que se prepara para mais uma eleição é um país transformado. Já não há analfabetos, o país paga o mais alto salário mínimo da região e tem o título dado pela Cepal de nação menos desigual da América Latina. Andando por Caracas, é possível ver os novos prédios construídos pelo governo Chávez em pouco mais de três anos, no programa Casa Equipada, pelo qual milhares de famílias desabrigadas por chuvas torrenciais e destruidoras receberam do estado a casa e os equipamentos domésticos, a serem pagos a módica taxa de 25 bolívares por mês pelo prazo de 25 anos.
É o equivalente a um lanche ou a 30 jornais ‘Correio del Orinoco’, fundado por Bolívar e ressuscitado por Chávez, e no qual trabalhou o pernambucano General Abreu e Lima, companheiro do Libertador, mas quase desconhecido no Brasil, não fora o presidente recém falecido tê-lo retirado do ostracismo.
A Venezuela foi profundamente transformada por Chávez. Por isso, os setores conservadores e os céticos jamais estão a ponto de compreender a razão de as filas para o povo dar o último adeus a Chávez terem quilômetros e quilômetros, serem incessantes, 24 horas, noite e dia, com mais de dois milhões de pessoas, com crianças no colo, anciãos de cadeiras de roda ou amparados pelos mais jovens, fazendo esta demonstração de adesão, de amor, e enviando uma mensagem ao mundo.
Filas que continuam a crescer, pois se noticia que novas caravanas estão chegando a Caracas trazendo o povo mais humilde, os trabalhadores, jovens e crianças. A tal ponto que o governo foi obrigado a ampliar o velório por sete dias, para que todos possam homenagear o líder que criou outra consciência política no seu povo, com o seu exemplo de dedicação, de valentia e de desprendimento.
Alguns intelectuais tinham dúvida sobre o sucessor, afirmavam que ele foi centralizador e não construiu um. Os mais de dois milhões de populares num único dia são o sinal de que Chávez multiplicou a consciência do povo venezuelano, construiu milhões de militantes, cada qual com um exemplar da Constituição no bolso, sacando-o diante de qualquer debate político, e enfrentado com argumentos lógicos, democráticos, inteligentes e com a visão popular sobre a política.
Foi realizada uma homenagem por chefes de estado. Os mais aplaudidos foram, sem dúvida, Mahmud Ahmadinejad, presidente do Irã, e Raul Castro, presidente de Cuba. Aliás, pode-se assistir pela Telesur imagens de Cuba, onde uma imensa fila, com quilômetros de cubanos, presta, desde quinta-feira (7), na Praça da Revolução, sua homenagem ao presidente Hugo Chávez. A presença de tantos países e de chefes de Estado é indicador da obra internacionalista e construtiva de Hugo Chávez. Aqui estão desde Sean Pen a representantes do Vietnã. A Venezuela hoje é um país respeitado em todo o mundo, e impulsiona uma política de cooperação e integração, por meio de tantas iniciativas como Alba, Telesur, Petrosur, Petrocaribe, Celac e Banco do Sul.
A presença da Orquestra Simon Bolívar, regida pelo maestro Gustavo Dudamel, e com a presença do maestro Jose Abreu, idealizador do mais generoso projeto que tem o objetivo de incorporar um milhão e meio de crianças na atividade musical, retirando-as de áreas de risco, é uma expressão do humanismo que marcou sempre a gestão de Chávez.
Por isso mesmo, em seu funeral, junto aos ideais revolucionários, também está a música popular, com harpa e maracas, tocando o coração de todo o mundo, um argumento sonoro e imagético deste povo bolivariano que diz ao mundo que se prepara para os novos desafios e que quer defender, com sua vida, se necessário, a continuidade da Revolução Bolivariana. Por isso, dando adeus a Chávez, milhões de venezuelanos estão votando com os pés… para seguir com as ideias e continuar a obra de Hugo Chávez.
Orquestra Simón Bolívar interpreta o hino nacional da Venezuela durante velório de Chávez
*Beto Almeida é jornalista e membro da Junta Diretiva da Telesur.