Publicado 01/04/2013 20:44 | Editado 04/03/2020 17:14

Depoimento sobre 64
Em 64 eu estudava no Seminário e inicialmente apoiei o golpe, pois diziam que era contra os comunistas. Mas, logo comecei a ver que padres, personalidades, lideranças que defendiam o povo eram perseguidas e me posicionei contra o golpe. Compreendi que a Constituição brasileira fora golpeada para defender interesses de grupos e do capital estrangeiro e passei a lutar pelas liberdades, pela volta da democracia no Brasil. Fruto desta posição fui impedido de me formar na Turma de Filosofia da Católica. Só com pressão e ameaça de retornar à Faculdade, consegui o diploma.
Trabalhei junto aos operários e camponeses do sul de Santa Catarina, depois como camponês, integrado no campo, discutindo e organizando a luta pela liberdade. Todo grupo de companheiros do movimento estudantil que lutava pelas mesmas causas foi preso. Eu não fui apanhado e por isto condenado a revelia a dois anos de prisão pelo crime “genérico” de “pregação subversiva”. Condenado, cassado pelo aparelho repressivo do Estado, para continuar a luta, precisei trocar de nome, junto com minha companheira Raquel e minhas duas filhas Iracema e Nara. Iracema fez o 3º ano e a Nara o 1º com outro nome. No contato com a família tínhamos que explicar a elas que nosso nome era Divo e Raquel e não João e Maria como vivíamos. A família não sabia onde morávamos e pela dificuldade de contato, não sabia se estávamos vivos, presos ou mortos. Era uma insegurança muito grande. Era um crime muito grave pensar diferente dos que mandavam no país.
Além do aparelho repressivo oficial como a Polícia, o Dops, a Polícia Federal que hoje cumpre importante papel, a Polícia Rodoviária, etc havia o DOI-CODI, o esquadrão da morte que prendia, torturava e matava para obrigar o preso a falar o que eles queriam ouvir. Outras vezes não perguntavam, matavam e arrumavam uma desculpa pelo assassinato que cometiam.
Algumas centenas de bravos e heróis brasileiros e brasileiras foram mortos, outros milhares cassados, presos e torturados. Muitos pegaram em armas, nas cidades e no campo, para defender a liberdade. Em mais de 20 anos nem a liberdade do voto havia no país. Só se votava para o legislativo, pelas legendas – Arena e MDB – criadas para dar fachada legal à ditadura. O presidente e governadores eram escolhidos pelos militares.
A democracia que vivemos hoje é a mais longa e a mais avançada que já tivemos. E como todas as conquistas sociais que a história humana registra, só são alcançadas com muita luta e o sacrifício dos melhores filhos e filhas do povo.
Neste 1º de Abril de 2013, 49º aniversário do Golpe militar, levantemos bem alto a bandeira da liberdade em nome de todos e todas os/as bravos/as lutadores responsáveis pelo momento feliz que o país vive. Mas, aproveitemos a liberdade de hoje para, na luta, avançar nas transformações e conquistar um país mais justo, avançado e democrático, homenageando todos e todas que lutaram. Para que nunca mais tenhamos golpes e retrocessos!
Secretário Estadual de Organização do PCdoB/SC