Obama vai ao México com muitos temas pendentes
A anunciada visita para maio do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ao México, por mais que seja esperada gera no país expectativas, após um prolongado distanciamento entre os dois vizinhos e muitos assuntos cruciais ainda pendentes.
Publicado 06/04/2013 05:50
No primeiro mandato de Obama, o tema México foi quase ignorado; enquanto na administração de Felipe Calderón (2006-2012) não foram observados avanços significativos, nem sequer nos temas ligados à segurança e cooperação antidrogas.
Depois de anunciar sua visita ao México, o presidente estadunidense lamentou em declarações à imprensa que às vezes a relação se caracteriza justamente por ser de fronteira ou simplesmente sobre os cartéis da droga, quando na realidade deveria ser mais que isso.
A tônica desta aproximação parece diferente, delineada desde 27 de novembro do ano passado quando ocorreu o primeiro encontro entre Obama e o presidente eleito do México, Enrique Peña Nieto.
A agenda de maio entre os líderes de ambos os países "como sócios globais responsáveis", inclui, segundo anunciou a chancelaria mexicana, trabalhar na "identificação de novas vias para ampliar os benefícios mútuos de sua cooperação na América do Norte".
Os pontos previstos para o diálogo são muitos, mas migração, comércio e segurança marcam a relação México-Estados Unidos, temas até agora relegados.
Também tais assuntos se entrelaçam com as três batalhas decisivas de Obama na política interna, com o México no meio: dívida pública, reforma migratória e controle de armas.
A crise financeira dos Estados Unidos pode ter mais alívio neste país próximo e seguro; também submerso agora em uma reforma energética com ampla expectativa para o investimento estrangeiro.
O México é o segundo parceiro comercial dos Estados Unidos, com fortes relações de intercâmbio, e inclusive com 40 por cento de suas exportações para o país vizinho.
Também o objetivo é fortalecer a tríade Estados Unidos-Canadá-México, para além dos Tratados de Livre Comércio, e este último como ponte importante para conseguir acordos com outras alianças comerciais do continente americano. Por outro lado, ao que parece, está a ponto de sair a reforma migratória, que não chega a ser integral devido ao entrave imposto pelos Republicanos, mas que poderia saldar em alguma medida a postergada promessa do presidente da Casa Branca feita aos hispanos em 2008, os mesmos que tantas provas de confiança lhe deram depois nas urnas a favor de seu segundo mandato.
Dos imigrantes nos Estados Unidos, 60 por cento são mexicanos e mais de 50 por cento deles estão sem documentação. Da parte mexicana, estima-se que seis milhões e 800 mil cidadãos vivem nos Estados Unidos sem documentos.
"É um tema da política norte-americana, mas que meu governo vê com grande simpatia", disse Peña Nieto sobre a reforma migratória, pois, acrescentou, "daria a oportunidade aos mexicanos de melhorar sua vida nos Estados Unidos".
O outro tema de interesse interno para os norte-americanos é o controle de armas, cada vez mais reclamado nos Estados Unidos devido aos acontecimentos que derramaram sangue até nas escolas, como o trágico tiroteio na de Connecticut e a morte de crianças.
Os Estados Unidos são considerados como a fonte incontrolada de armas que nutre os grupos de narcotraficantes que operam no México, os mesmos que fornecem ao maior consumidor do mundo a droga que chega a partir da América do Sul.
Na semana passada, o poeta Javier Sicília, na comemoração do segundo aniversário do Movimento pela Paz com Justiça e Dignidade, exigiu que Peña Nieto acabe com as "boas intenções" e discuta o controle das armas dos Estados Unidos ao México.
"Não haverá paz enquanto do outro lado da fronteira não se regule o consumo das drogas e não se faça uma política séria de controle do armamento de extermínio", destacou Sicília e pediu ao presidente mexicano adotar uma postura firme contra o tráfico de armas, tema que, segundo disse, não pode faltar em suas conversas com Obama.
Quase 70 por cento das 99 mil armas apreendidas no México entre 2007 e 2011 provieram dos Estados Unidos, tal como apontou no ano passado o Escritório de Álcool, Fumo, Armas de Fogo e Explosivos (ATF, na sigla em inglês).
Segundo a legisladora do Partido Revolucionário Institucional (PRI), Guadalupe Pérez, a cada ano cometem-se milhares de assassinatos com armas de alto poder de fogo que entram ilegalmente ao México como consequência da corrupção, impunidade e cumplicidade das autoridades.
Para muitos mexicanos nos atos de violência e morte que ocorrem no México, e nos mais de três mil quilômetros de fronteiras, há uma responsabilidade compartilhada que os vizinhos do norte têm que assumir.
Prensa Latina