Diário dos Bálcãs: “Sérvia foi campo de teste da Otan”
Depois de Dragan Matic e os seus camaradas terem abatido o F-117A, a Casa Branca e o Pentágono pediram ao governo da República da Iugoslávia para que devolvesse os destroços e tudo o que tivesse sobrado do avião para os Estados Unidos. Mas Belgrado recusou, evidentemente. Agora, o “stealth abatido” está exposto no Museu da Aviação.
Por Konstantin Katchalin, na Voz da Rússia
Publicado 25/04/2013 18:44

Konstantin Katchalin: A vossa bateria funcionou de uma forma precisa e coesa. Como foi possível que os norte-americanos, com os AWACS e eletrónica avançada, deixaram passar o míssil soviético e permitiram que o avião furtivo tivesse sido atingido?
Dragan Matic: Nós estávamos a defender a nossa pátria e a cumprir o nosso dever. Nós também eramos um alvo, também eramos seguidos pelos satélites estadunidenses e detectados pelos AWACS. Por isso, nós tentávamos não permitir a emissão de quaisquer sinais para o ar. Se você ficar no ar ou num radar inimigo mais de 20 segundos, pode se considerar morto. Espera ser atingido por “Tomahawks”, mísseis de cruzeiro ou uma bomba potente.
Esta é a minha opinião sobre os aviões furtivos: eles iniciaram o seu fabrico para vendê-los aos seus aliados por todo o mundo. Esse avião é extraordinariamente caro, cada aparelho custa mais de 50 milhões. Muito foi falado sobre esses aviões furtivos, mas tudo isso não passava de publicidade do Pentágono. Ele não tinha uma grande velocidade de voo, não tinha uma boa proteção e só transportava duas bombas. Outro defeito desse “pássaro” era ele ter que se aproximar muito do alvo. Só depois é que ele podia desferir um golpe mortal.
Quais foram os outros aviões que a vossa equipe conseguiu atingir?
Nos primeiros dias da agressão contra a Iugoslávia, a força aérea da Otan começava os seus raids depois das 20 horas. Todos os aviões seguiam sempre pelo mesmo percurso e pelo mesmo caminho regressavam às suas bases. Nós percebemos rapidamente essa particularidade. A maioria dos aviões era por nós fixada como alvos a 40-50 quilômetros de distância das nossas posições. Os pilotos norte-americanos e os seus colegas da Otan cumprem sempre as regras e executam as ordens com precisão. Eles têm um percurso, têm uma missão, e não vão se afastar nem um milímetro das suas instruções. Nós liamos os seus planos nas entrelinhas e isso salvava-nos a nós e e à nossa defesa antiaérea.
A nossa bateria atingiu, além do primeiro F-117, mais um aparelho. Nós atingimo-lo de raspão, mas ele conseguiu chegar até a Croácia e aterrissar. Porém, não existe uma confirmação oficial. Isso foi publicado nos jornais e existe uma fotografia. Isso aconteceu a 30 de maio. Anteriormente, tínhamos abatido um F-16. O piloto era o comandante de uma esquadrilha que destruía especificamente sistemas de defesa antiaérea. Eles enviaram um grupo especial em helicópteros para salvar um homem tão importante: 4 helicópteros e 10 aviões prestavam apoio ao comando que desembarcou. Esse piloto tinha participado na operação “Tempestade no Deserto” e bombardeou sérvios na Bósnia-Herzegovina. Se tratava de um aviador muito experiente e muito seguro como piloto, mas nós conseguimos atingir o seu lendário avião.
A nossa equipe também tem um B-2 na sua folha de serviços. Desta vez também não existem provas, mas as nossas escutas de radiocomunicaçõe s registaram a conversa entre o piloto e um AWACS. O piloto gritava: “Fui atingido por um míssil, preciso que me salvem”. Ele conseguiu chegar até à Hungria. Nós combatíamos e abatíamos o inimigo. Nós temos equipamento antigo, eles têm o armamento mais moderno, mas nós fomos mais espertos e mostrámos que sabíamos ripostar.
Na sua opinião, porque acha que os países da Otan iniciaram a guerra contra a Iugoslávia?
Em primeiro lugar, para nos castigar pelo Kosovo. Em segundo lugar, para testar novos armamentos em condições reais de combate. Entretanto, também aproveitar para se desfazerem dos arsenais antigos e receber novos. Mais tarde, o complexo militar-industri al dos EUA recebeu centenas de bilhões de dólares. O Pentágono pedia fundos e o governo atribuía. No território da Iugoslávia foi testada pela primeira vez a bomba de 2,5 toneladas.
A Iugoslávia se desmembrou em 1991, 1992. Nós, os sérvios, estorvávamos o Ocidente e tínhamos de ser quebrados. Eles não fizeram a guerra contra Milosevic, isso foi só um pretexto. Eles tinham de quebrar o povo, destruir o país e colocá-lo sob o seu controle. Atingiram-nos com tudo: urânio empobrecido, bombas de fragmentação. A nossa terra se tornou num polígono de ensaios, no qual os estrategas da Otan faziam os seus experimentos.
Fonte: Voz da Rússia