Jô Moraes participa de homenagens da Caravana da Anistia
“Hoje temos um Congresso Nacional que derrota qualquer tentativa de retrocesso. Temos uma juventude que não se cala, que se mobiliza e vai atrás de seu ideal. Parabéns a todos que estão aqui alimentando a esperança de que é possível superar o terror, a violência e viver em liberdade”. As declarações são da deputada federal Jô Moraes e feitas durante a 69ª Edição da Caravana da Anistia do Ministério da Justiça.
Publicado 27/05/2013 13:21 | Editado 04/03/2020 16:49
Mudança
As Caravanas são mecanismos da Comissão da Anistia e consistem na realização de sessões públicas itinerantes voltadas à apreciação de requerimentos de anistia política, atividades educativas e culturais. Embora o papel da Comissão da Anistia do Ministério da Justiça seja o que resgatar, preservar, divulgar e valorizar o papel dos atores das lutas em prol das liberdades no período compreendido entre 1946 e 1988, hoje, as homenagens se concentraram nas vítimas do movimento militar de 1964.
Ao instalar a sessão, o presidente da Comissão, Paulo Abrão, disse que já foram percorridos 20 estados e apreciados mais de 1.700 pedidos de anistia política. Ele também destacou a presença maciça de estudantes: “Se no passado era a cultura do escondido, hoje a juventude está fazendo a mudança para que sejamos vistos não como o País do jetinho, mas como gente que sabe reagir em defesa das liberdades, contra a opressão.
Ao defender que os espaços públicos recebam nomes daqueles que lutaram perlas causas mais nobres da Nação, Abrão destacou o trabalho da OAB, dos representantes dos ministérios da Defesa e da Justiça, os parlamentares que têm compromisso com a causa e cobrou “mobilização para que Minas Gerais aprove e também tenha a sua Comissão da Verdade”.
Celebração
Antes da apreciação dos processos de Cecílio Emídio Saturnino, que era cabo da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais e militante da Ação Libertadora Nacional (ALN) e de Wellington Moreira Diniz, à época estudante do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Minas Gerais, que trabalhava como redator no Jornal “O Metalúrgico”, a Caravana da Anistia homenageou sete militantes.
A primeira, pós mortem, foi Carmela Pezzuti. Militante do Comando de Libertação Nacional (Colina). Ela foi trocada pelo embaixador suíço e banida do País sem nunca ter sido julgada e condenada. O diploma foi recebido por sua irmã, Angela Pezzuti, das mãos de Márcio Santiago, presidente da Comissão da Verdade da OAB/MG.
A segunda, Oroslinda Maria Taranto Goulart trabalha hoje na Secretaria de Política para as Mulheres. Ela era militante da Polop e ex-companheira de Dilma Rousseff na entidade. Ela recebeu as homenagens das mãos de Paulo Abrão.
Aos 93 anos, Maria Geralda Gomes Diniz, casada com militante político do PCB foi outra vítima da ditadura militar e recebeu o certificado da Comissão da Anistia das mãos do ex-prefeito de BH e ex-ministro Patrus Ananias.
Outra homenageada in memoriam foi Terezinha Martins Rabelo, ex-mulher do militante e jornalista José Maria Rabelo, que fez um discurso emocionado em deferência à companheira. Ele recebeu o diploma das mãos do presidente da OAB/MG, Luís Cláudio Chaves.
A ferroviária Angelina Dutra de Oliveira, que foi dirigente da Associação dos Funcionários Públicos Federais e do Movimento de Mulheres em Minas Gerais e destacou- se pela luta contra a ditadura recebeu o diploma de homenagem das mãos da deputada federal e também com longa trajetória de trabalho em prol das causas feministas, Jô Moraes.
A sexta homenageada, Conceição Imaculada de Oliveira. que começou a militância pelas causas democráticas aos 16 anos e em 71 foi trocada pelo embaixador suíço, passando a viver no Chile e em Cuba até a Anistia, recebeu o diploma das mãos de Maria Cristina Rodrigues, presidente da entidade Amigos do Memorial da Anistia.
O último homenageado foi advogado e professor de Direito da UFMG e da Pontifícia Universidade Católica (PUC/MG), Antônio Ribeiro Romanelli. Ex-presidente das Ligas Camponeses do Estado, ele foi preso, condenado e ainda sofreu nove anos de reclusão pelo AI-5 (Ato Institucional número 5). Romanelli recebeu o diploma das mãos do deputado federal Isaias Silvestre.
Protesto
Ao discursar em nome dos homenageados ele disse que anistia é esquecimento e que não tem nada a esquecer. E arrancou aplausos dos participantes quando afirmou que se recusa a estar “no mesmo nível do Ustra. Eu não tenho nada a esquecer. Ele sim”, disse em referência ao coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-dirigente do Doi-Codi de São Paulo.
Na mesma linha, falando em nome dos ex-políticos, Patrus Ananias destacou que a Constituição Brasileira vigente data de 1988 e que a Lei da Anistia geral e irrestrita é de 1979, portanto anterior à Carta Magna. “Nossa Constituição não acolhe os que cometeram crimes, os torturadores e assassinos, É só levar esta causa para o Judiciário que ela será devidamente analisada”, sugeriu.
Depois da homenagem e em tom emocionado, Paulo Abrão formalizou às sete vítimas do Regime Militar o pedido de desculpas pelos erros cometidos no passado.
Compuseram a mesa da solenidade o presidente da Comissão da Anistia, Paulo Abrão, o reitor da UFMG, Clélio Campolina; a representante da Secretaria de Políticas para Mulheres, Oroslinda Taranto Goulart; o representante do Ministério da Defesa, Edmundo Neto; o presidente da OAB/MG Luís Cláudio Chaves; o presidente da Comissão da Verdade da OAB, Márcio Santiago; o ex-ministro Patrus Ananias, a deputada federal Jô Moraes, os deputados federais Nilmário Miranda, Isaias Silvestre Ivair Nogueira e a presidente da Associação dos Amigos do Memorial da Anistia, Maria Cristina Rodrigues.
Comissão analisa e anistia dois lutadores
No final da tarde, depois de apreciados os processos, a Comissão anistiou Wellington Cecílio Emídio Saturnino, que era cabo da PMMG, morto em 1996, e o então estudante Wellington Moreira Diniz que foi preso, respondeu a processo político e foi banido do Brasil em 1971.
Graça Borges
Foto/reprodução/ folder Caravana da Anistia