Movimentos sociais ocupam Câmara de Montes Claros

 

Tal medida fez-se necessária após atitude ofensiva do prefeito Ruy Muniz (PRB) de invadir, no último sábado (29), a sede do legislativo com 13 vereadores cúmplices e um chaveiro profissional, já que Muniz não possuía a chave do local. Não bastasse o arrombamento, o motivo da ação feriria ainda mais a autonomia dos poderes: ocorreu na ocasião uma sessão (ilegal) para aprovação do empréstimo no valor de cento e setenta e dois milhões de reais, sem a presença do presidente e vice da Câmara e dos vereadores de oposição (que sequer foram convocados para o evento).
 

As reuniões que definiram a ocupação como alternativa simbólica, no dia em que se celebra os 156 anos de emancipação da cidade de Montes Claros, ocorreram “atrás de portas fechadas, a luz de velas acesas”, já que os grupos ponderaram possível reação coronelista desproporcional típica da Polícia mineira de não permitir sequer aproximação do povo à sede do legislativo. Porém assim que ocupada às seis da manhã, a Câmara tornou-se local receptivo a todo o povo da cidade que foi convidado através das redes sociais a estar presente nesse protesto. Ainda pela manhã, o presidente da Câmara Dr. Silveira (PTN) reuniu-se com os líderes de cada movimento e declarou apoio ao ato.

Clara Montana, dirigente municipal e estadual da UJS, ressaltou a importância da unidade dos movimentos sociais, “aproveitemos este momento para unificar a esquerda, a fim de lutarmos juntos contra os desmandos da atual administração municipal. A UJS, que jamais abandonou as ruas e as lutas, entende que é momento de aumentar a pressão para que demandas da juventude, como o passe-livre estudantil, se tornem realidade. Não permitiremos também mais ações truculentas, herança da política atrasada coronelística que tenta se impor através da força bruta, mas que não cabe mais em nenhum lugar do mundo. Não nos intimidaremos, reagimos e reagiremos sempre”!


Moisés Borges, coordenador nacional do MAB afirmou que “o ato de hoje foi extremamente necessário e importante, principalmente pelo fato de a prefeitura estar na contramão das mudanças e dos interesses do povo. Temos que devolver o dinheiro ao povo, o que lhe é de direito. É importante trazer essa animação das ruas para dentro da casa do povo, que é a Câmara Municipal”.

 “É importante essa mobilização pela construção de pautas políticas mais concretas, trazendo a classe trabalhadora para o centro das lutas do povo. Após a ocupação, devemos descentralizar a luta e ir aos bairros, tanto no campo quanto na cidade. Somos a favor de mais políticas públicas no campo, como distribuição de água, infra-estrutura, qualidade de educação, pois os professores municipais não recebem salário em dia e em muitos lugares não há merenda escolar nem transporte” diz Tatiana Gomes, coordenadora regional do MST.

Para Allysson Trotta do Levante Popular da Juventude, “os movimentos sociais organizados do campo e da cidade buscam construir junto à população um projeto popular para Montes Claros, onde o povo esteja presente nos espaços públicos de participação política para defender seus interesses. A participação ativa da juventude é muito importante, pois permite a revitalização da Política, pautando a melhoria das políticas publicas, melhores condições de lazer e cultura que garanta oportunidade e futuro para os milhares de jovens abandonados nas drogas e criminalidade, exterminados nas periferias militarizadas.”

Ao fim da tarde a “Casa do povo” encheu-se dos seus para uma assembleia popular histórica onde, de mãos dadas e cantando Vandré com lágrimas nos olhos, o povo aprovou um documento dirigido ao presidente da Câmara. A deliberação cobra a instauração de uma comissão investigativa a respeito dos fatos ocorridos no dia 29 e o possível impeachment do prefeito Ruy Muniz e dos 13 vereadores que foram cúmplices da ação.

Encerrou-se a ocupação com distribuição de flores e a sensação de dever cumprido. Os movimentos sociais permanecem mobilizados, conclamando a população para a Jornada de Lutas do dia 11 de julho e para continuarem juntos por uma Montes Claros mais democrática.

 

De Montes Claros, Débora Guedes e Deybiane Ferreira

Fotos: Débora Guedes e Ramon Fonseca