Nicarágua e chineses fecham acordo para canal interoceânico

A Nicarágua estabeleceu com um consórcio com base na China um acordo visando a construção de um canal interoceânico. Cem anos depois do Canal de Panamá, uma gigantesca infra-estrutura vai erguer-se no “quintal dos EUA”, e não são os EUA quem, de momento, está no comando.

O oresidente da República, Comandante Daniel Ortega Saavedra, assinou na noite de sexta-feira (5) com o senhor Wang Jing, presidente da empresa internacional Hong-Kong Nicarágua Canal Development Investment Co. (HKND Group), o acordo-quadro de concessão e implementação para a Construção do Canal Interoceânico de Nicarágua. O acordo também foi assinado pela Autoridade do Canal, o companheiro Manuel Coronel Kautz.

Com este ato realizado na Casa de los Pueblos pelo Comandante Daniel, juntamente com a companheira Rosário Murillo e o presidente da empresa HKND Group, a Nicarágua deu os primeiros passos no que começa a ser a concretização de um grande sonho histórico para as famílias do país.

Daniel apresentou a equipe de especialistas e peritos que integram o HKND Grupo, os quais, assegurou, são líderes mundiais nas suas respectivas áreas de trabalho. Assegurou a esse respeito que a equipe conta com pessoal originário de países como Estados Unidos, Austrália e Guatemala, entre outros.

“Vou pedir-lhes que se levantem para que nosso povo os fique a conhecer”, disse Daniel no momento de os apresentar.

A equipe integra o Consultor-em-chefe do projeto, Bill Wild; o porta-voz do HKND Group, Ronald MacLean-Abaroa; o perito em gestão de Recursos Naturais, David MacArthur, representante da empresa ERM, de origem inglesa.

É integrada também por Stefan Matzinger, da Consultora McKinsey &Company, empresa estadunidense líder mundial especializada em projetos de grande envergadura, e Y Chuan Li, da empresa de assessoria jurídica Kirkland & Ellis LLP.

O comandante recordou que a Assembleia Nacional aprovou na última quinta (4) a Lei 840 ou Lei Especial para o Desenvolvimento de Infra-estrutura e Transporte Nicaraguense atinente ao Canal, Zonas de Livre Comercio e Infra-estruturas Associadas.

“Está publicado em La Gaceta. Esta noite mesmo a assinei; esta noite também foi já publicada em La Gaceta e a publicação é de sexta-feira, 14 de Junho”, referiu.

Daniel destacou que a assinatura deste acordo-quadro é resultado de um trabalho realizado com muita dedicação e disciplina, tanto por parte da empresa chinesa como pela parte nicaraguense.

“Participaram especialistas, advogados altamente qualificados, para poder realmente definir o que está claramente definido nesta lei, que foi ontem aprovada pela Assembleia Nacional”, afirmou.

Combate à pobreza

O mandatário reiterou que um projeto como este terá repercussões positivas no combate à pobreza.

“Este é um projeto que como bem vimos dizendo vem para combater a pobreza, a extrema pobreza e vem trazer bem-estar, prosperidade e felicidade ao povo nicaraguense”, afirmou.

“Este é um projeto que não estamos a improvisar”, sublinhou Daniel, que recordou que a Marinha dos Estados Unidos fez há mais de 100 anos na Nicarágua um estudo sobre a viabilidade do canal, apesar de depois ter sido decidido construí-lo no Panamá.

Daniel manifestou que entretanto o Canal do Panamá, 100 anos passados sobre a sua construção, necessita hoje de ser ampliado para se adaptar às novas solicitações do tráfico marítimo mundial.

Um esquema diferente

É por esta razão, assegurou, que a Nicarágua retomou o projeto do canal interoceânico, “contando com a disposição, a firmeza, a segurança” do empresário chinês Wang Jing, que tem vindo a organizar todas “as forças econômicas, o capital humano, o capital financeiro, o capital tecnológico e todas as forças que têm de se unir para que este projeto” possa caminhar, desenvolver-se e converter-se em realidade.

“Estou seguro de que Deus assim o há-de querer, que se converta em realidade”, sustentou.

“Agora o esquema não é o esquema de um Estado, como sucedeu com os Estados Unidos na altura, construindo o Canal do Panamá, com todas as complexidades que isto envolveu. Agora trata-se de um esforço global, em que o irmão Wang encabeça esse esforço global, vai articulando, vai unindo, vai atraindo, vai convocando de diferentes regiões, de diferentes países as melhores capacidades que estão aí, recursos humanos, para que este projeto se converta, como se está convertendo já, num projeto de participação de todos aqueles investidores interessados em ser parte deste esforço, investidores, construtores, tudo o que entrará num projeto como este”, explicou o mandatário, recordando que o primeiro passo é realizar o estudo de factibilidade.

Daniel recordou que tanto espanhóis como ingleses sabiam da posição estratégica de Nicarágua para unir os dois oceanos. Recordou a esse respeito as palavras do almirante Nelson, que disse que “quem conquistasse esta rota, conquistava toda a América”, referindo-se à rota do Rio San Juan com o Grande Lago.

Recordou ainda que desde então a Nicarágua passou a ser uma rota de travessia desde a costa leste até à costa oeste dos Estados Unidos.

Um projeto para a paz e o desenvolvimento

Daniel afirmou que o projeto do canal é um projeto para a paz e o desenvolvimento, sem exclusões.

“Agora trata-se de um projeto para a paz, para o desenvolvimento, um projeto não excludente, como bem o descreveu o nosso amigo Wang desde a primeira vez que falamos. O projeto está pensado, trabalhado dessa maneira, organizado dessa maneira, e vai trazer bem-estar não somente aos países centro-americanos mas a todo o mundo, é um projeto que tem um impacto enorme na economia global”, destacou.

O comandante sublinhou que esta será a única vez que será feito um estudo de factibilidade sobre o canal, após o qual ficará clara a viabilidade do projeto.

“Quando conhecermos o estudo de factibilidade então vamos ficar esclarecidos sobre a viabilidade do projeto. Até lá, tudo o mais é especulação. Por quê? porque não existe um estudo. Se alguém tivesse um estudo e esse estudo demonstrasse determinados resultados negativos ou positivos, magnífico! porque já contaríamos com esse estudo. Mas não existe ninguém no mundo, nem os Estados Unidos, que tanto interesse têm tido na Nicarágua e que inclusivamente estabeleceram que durante um período de mais de 50 anos não se poderia tomar qualquer iniciativa na Nicarágua para construir um canal. Tinham-na como uma reserva. Nem os Estados Unidos chegaram a ter esse estudo. Nem o têm. É agora, ao fim de 500 anos, que se vai realizar o estudo. E isto já é em si uma proeza”, referiu.

Este estudo permitirá ver qual é o caminho e quais as iniciativas que há que tomar em todos os campos para conseguir que este canal se converta em realidade, indicou.

Alcançaremos a nossa total soberania e independência

O mandatário constatou que a Nicarágua está entre os países mais empobrecidos de toda a região, apenas à frente do Haiti. Indicou não obstante que o povo de Nicarágua é um povo esforçado, lutador, sacrificado, e que tem lutado e continua a lutar pela sua soberania.

“Todos sabemos que a soberania é um elemento tangível. Se há pobreza, se há extrema pobreza, se há dependência econômica não há soberania. Nós, o que alcançámos foi conquistar espaços históricos para lutar pela soberania, mas a soberania, aquela que em algumas circunstância teve de ser defendida pelas armas, essa soberania para que se torne finalmente tangível, real, que não seja simplesmente um elemento que está aí de valor, que estamos a defender, passa pelos fatores econômicos, sociais e é com fatores econômicos, sociais, produtivos, gerando emprego, educação, saúde, bem-estar para as famílias nicaraguenses que vamos alcançar nossa total e definitiva soberania, a nossa total e definitiva independência”, referiu o mandatário.

O comandante Daniel disse que na reunião de 3 de maio na Costa Rica, teve a oportunidade de indicar ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que a Nicarágua está dando passos para a construção do Grande Canal, convidando na ocasião à participação de empresários estadunidenses.

Na mesma ocasião referiu também à presidenta costarriquenha, Laura Chinchilla, que o Canal traria grandes benefícios a Costa Rica, quer passando pelo Rio San Juan, quer passando mais ao norte, como finalmente veio a ser concluído.

Daniel afirmou que nesse encontro o presidente panamenho, Ricardo Martinelli, deu o apoio à Nicarágua para a construção do canal.

“Estava o presidente Martinelli, de Panamá, e com ele já tinhamos falado deste tema. Imediatamente, o presidente Martinelli não me deixou terminar, e disse: nós apoiamos o presidente Ortega no projeto de Canal pela Nicarágua. E repetiu-o depois já na reunião formal, digamos, oficial, repetiu-o ali, colocou-o na sua intervenção e disse: pode contar com todo o respaldo, toda a assessoria de Panamá para que esse canal se converta numa realidade”, destacou.

“Encontramo-nos com um país, uma nação, que tem o privilégio de contar com o único canal aqui neste continente, e que numa atitude altamente latino-americanista, unitária, solidária, nos diz que estão dispostos a acompanhar-nos. Todo isto, dito na frente do presidente Obama. Ou seja: o presidente Obama foi ali testemunha de que há, digamos, um consenso na região acerca de que o canal não vem a constituir nenhum problema, nenhuma ameaça, mas que é pelo contrario um bem, porque vai beneficiar a toda a região”, acrescentou Daniel.

O presidente nicaraguense destacou que as universidades e as escolas técnicas vão ter que se ajustar e preparar-se para capacitar os jovens para que possam incorporar-se às obras do canal.

A esse respeito, Daniel disse que o Canal ajudará a manter a unidade familiar, já que muitos jovens têm emigrado para os Estados Unidos, Costa Rica ou Espanha.

“Isto vem também ajudará a manter a integridade familiar. Por quê? porque os jovens terão a oportunidade de trabalhar, de qualificar-se, de preparar-se melhor, então vai haver futuro, vai haver presente, porque estamos falando de um projeto que já começa a caminhar, vai haver futuro para as gerações presentes e para as novas gerações”, sustentou.

Chegou a hora de alcançar a Terra Prometida

Após a assinatura do Acordo-Quadro de Concessão e Implementação do Canal de Nicarágua e projetos de Desenvolvimento, o presidente Daniel Ortega destacou que o senhor Wang foi claro em sua intervenção.

“Mostra o que é uma vontade de fazer o melhor para a Nicarágua, para a região e para o mundo. Estes são tempos de mudanças, de transformações para a paz, para o bem-estar, para a estabilidade dos nossos povos e para a paz, a estabilidade e o bem-estar das famílias nicaraguenses”, sublinhou o governante nicaraguense.

Wang Jing convida empresários nicaraguenses a visitar a República Popular da China

Destacou a esse respeito o convite de Wang aos empresários nicaraguenses a que possam ir a Hong-Kong visitar as empresas “e conhecer todo o potencial que já está a postos para prosseguir o desenvolvimento deste projeto, um projeto que a partir do dia de hoje deixa de ser um projeto e se converte num compromisso que vamos tornar realidade, por Sandino, por Darío, por este povo que tanto sacrifício, que tanta dor, tanto tempo, o nosso povo, marchando pelo deserto, vem buscando a Terra Prometida e chegou o dia, chegou a hora de alcançar a Terra Prometida”, sentenciou el Comandante Daniel.

Fonte: O Diário.Info