Emoção marca a entrega do Título de Cidadão Baiano a Valadares
“Agora, sou baiano da gema”. Essa foi uma das declarações de Carlos Antônio Melgaço Valadares, que arrancou aplausos dos presentes na entrega do Título de Cidadão Baiano ao médico e ativo militante do Partido Comunista do Brasil. A cerimônia, que aconteceu na manhã desta sexta-feira (20/9), na Assembleia Legislativa da Bahia, contou com a presença de familiares, amigos e companheiros de luta de Valadares desde a época da Ditadura Militar, quando ele foi preso e torturado.
Publicado 20/09/2013 15:45 | Editado 04/03/2020 16:16

Em seu discurso, Valadares, muito emocionado, agradeceu o título recebido. “Não nasci baiano. Mas, pouco a pouco, vocês me fizeram um baiano apaixonado por essa terra”, disse ele ao se referir a dezenas de amigos presentes no plenário da Casa Legislativa. O médico destacou a vida de luta que levou junto a Loreta Valadares, sua “eterna companheira”, que adquiriu uma cardiopatia por conta das torturas sofridas durante a Ditadura Militar. O militante fez questão de destacar o trabalho realizado pelo grupo Tortura Nunca Mais no Estado e elogiou a criação do Comitê pela Verdade na Bahia, implantado pela Assembleia.
O título foi proposto à Assembleia Legislativa pelos deputados comunistas Kelly Magalhães, Álvaro Gomes e Fabrício Falcão. Ao som de “1, 2, 3, 4, 5, 1000. E viva o Partido Comunista do Brasil”, Valadares recebeu a honraria das mãos de Álvaro e Fabrício.
Presidente da sessão especial, Fabrício Falcão declarou que os deputados aprovaram por unanimidade o título a Valadares por reconhecerem a importância dele para a sociedade e tudo o que ele fez com o intuito de melhorar a vida das pessoas.
O deputado Álvaro Gomes foi responsável pela leitura da biografia de Carlos Valadares e iniciou seu discurso com a seguinte frase: “Para ser cidadão baiano, precisa efetivamente ter uma importante contribuição para o Estado para que não fique algo artificial. Foi por causa disso que propusemos essa homenagem a Valadares”.
Já a deputada federal Alice Portugal (PCdoB-BA), destacou todo o aprendizado político e de vida que obteve junto a Carlos e Loreta. “Estarei eternamente no banco do aprendizado com você, Valadares”. Alice saudou todos os presentes que estiveram ao lado do militante durante a sua resistência por um país mais democrático e lembrou a contribuição do ativista para o fortalecimento do PCdoB na Bahia. “Carlos ajudou o PCdoB em Salvador a se estruturar nos movimentos de bairro e contribuiu para o partido se organizar na área médica”.
O evento contou com as presenças dos secretários estaduais de Trabalho, Nilton Vasconcelos, e do Planejamento, José Sergio Gabrielli, da senadora Lídice da Mata (PSB), do presidente e da integrante do Grupo Tortura Nunca Mais, Joviniano Neto e Diva Santana, do dirigente do PCdoB, Péricles de Souza, do representante do Conselho de Medicina, Jorge Cerqueira, da vereadora de Salvador, Aladilce Souza (PCdoB), além de representantes da Procuradoria de Justiça da Bahia, movimentos sociais, dirigentes e militantes do PCdoB.
História
Natural da cidade de Sete Lagoas, em Minas Gerais, Carlos Valadares entrou para Faculdade de Medicina em 1963, mas antes de se formar foi excluído por conta das atividades políticas. Em 1968, casou-se com Loreta Valadares, ícone da luta da emancipação das mulheres e contra o regime militar. Já em 1969, ele foi preso e torturado pelo regime militar. Após ser solto, Valadares retornou à clandestinidade, militando em São Paulo.
Por causa da frágil saúde de Loreta, foram para Argentina, onde participaram das atividades contra as ditaduras da América Latina e divulgavam a luta do povo brasileiro, inclusive da Guerrilha do Araguaia. Já em 1975, foram exilados na Suécia, quando Carlos concluiu o curso de medicina.
Em 1980, retornaram para o Brasil, fixando residência em Salvador. De lá para cá, Valadares atuou como médico do trabalho na Petrobras, diversos sindicatos, dentro os quais, o Sindicato dos Bancários da Bahia, onde é médico do trabalho há mais de 15 anos. Ele já foi secretário do Meio Ambiente de Salvador, integrante do Conselho Regional de Medicina e, neste ano de 2013, completa 50 anos de militância política, sendo 40 anos no PCdoB.
De Salvador,
Ana Emília Ribeiro